Deflação na China semeia mau humor nos EUA e no Brasil
Vale cai 0,75% no pré-mercado americano, e futuros recuam. Brasil divulgará IPCA amanhã – expectativa também é de queda nos preços.
Bom dia!
A madrugada trouxe notícias duras da China. A segunda maior economia do mundo registrou deflação no mês de junho, na comparação com maio. A baixa foi de 0,2%. No atacado, preços registraram a queda mais acelerada desde 2016. Tudo porque os chineses reduziram suas compras, isso enquanto as exportações perdem fôlego em meio à desaceleração da economia global.
Acontece que, para economistas, o dado fraco de inflação também indica que a China não conseguirá alcançar sua meta de crescimento neste ano, fixada em 5%. E isso tem repercussão sobre o crescimento global também, já que boa parte da economia dos outros países também depende de quanto eles são capazes de vender para os asiáticos.
O efeito mais palpável dessa notícia negativa foi um tombo no minério de ferro. A cotação do produto caiu 3,46%, a US$ 109,96 por tonelada na bolsa de Dalian. O que serve de prenúncio negativo para ações brasileiras nesta segunda. O petróleo tem recuo mais modesto, 0,50%.
O EWZ, o ETF que representa as ações brasileiras em Nova York, recua 0,37% no pré-mercado. A Vale cai 0,75%. E essa é a mesma toada para as ações americanas em Wall Street: os futuros dos principais índices estão em queda neste começo de manhã.
Acontece o seguinte: quando o PIB chinês dá sinais de que poderá crescer menos que o estimado, cresce a pressão para que o país anuncie pacotes de medidas para estimular a retomada da economia aos eixos.
Para além disso, a queda da inflação global tende a ter um efeito-cascata sobre outros países que ainda lutam com a alta de preços. Afinal, o minério de ferro e o petróleo são consumidos por todos os países, e ficam mais baratos para todo mundo.
O Brasil também vem colhendo os efeitos de uma desinflação acelerada, e economistas estimam que o IPCA também tenha mergulhado para a deflação no mês passado. Estimativas colhidas pelo Broadcast apontam para -0,10%.
E isso tem um lado meio cheio. Se confirmado, o dado dará mais elementos para o Banco Central começar – e acelerar – a baixa de juros. Com os 13,75% de Selic e inflação em 3,9% (até maio), o Brasil tem juros reais de quase 10%. A queda dos juros tende a trazer mais dinheiro para a bolsa – e a melhorar a economia brasileira de uma maneira geral.
Já nos EUA a política monetária ainda vai na direção oposta. O Fed sinaliza mais duas altas de juros nesta semana (leia mais no market facts mais abaixo), dado que a inflação continua mais resiliente do que o esperado, enquanto o mercado de trabalho segue sólido. Novidades sobre o CPI chegam na quarta. Até lá, o clima é de cautela. Bons negócios.
Futuros S&P 500: -0,17%
Futuros Nasdaq: -0,33%
Futuros Dow Jones: -0,03%
*às 7h40
Soft landing
Os bancos centrais têm dois cenários possíveis como resultado de seu combate à inflação. O primeiro é o soft landing, quando a alta de juros acontece de forma devagar e gradual, evitando que o país caia em uma recessão. A outra é mais brusca: o hard landing, quando os juros sobem rápido e os preços estabilizam na marra – mas a economia desacelera demais e o país acaba em crise.
Austan Goolsbee, presidente do Fed de Chicago, disse que enxerga um pouso leve para inflação americana. Segundo ele, mesmo com mais altas de juros até o fim do ano, o país não parece estar caminhando para uma recessão – medo que ressurgiu no mercado há algumas semanas.
O dirigente, que tem poder de voto nas reuniões do FOMC, afirmou que o país deve esperar mais uma ou duas “altas modestas” nos juros este ano.
08h25: Boletim Focus
Durante o dia: dirigentes do Fed participam de eventos. Falam o vice-presidente de Supervisão do Fed, Michael Barr; presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly; Presidente do Fed de Clevelend, Loretta Mester; presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic.
- Índice europeu (Euro Stoxx 50): 0,32%
- Londres (FTSE 100): 0,15%
- Frankfurt (Dax): 0,27%
- Paris (CAC): 0,39%
*às 7h43
- Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 0,49%
- Hong Kong (Hang Seng): 0,62%
- Bolsa de Tóquio (Nikkei): -0,61%
- Brent: -0,50%, a US$ 78,08
- Minério de ferro: -3,46%, a US$ 109,96 por tonelada na bolsa de Dalian.
*às 7h45
O fim da grande resignação
Em 2021, milhares de trabalhadores americanos decidiram deixar seus empregos, num fenômeno que ficou conhecido como a Grande Resignação. Na época, o mercado de trabalho dos EUA enfrentava uma escassez de mão de obra – ou seja, havia mais empresas procurando por funcionários do que pessoas buscando por emprego. Aí os trabalhadores ganharam poder de barganha: passaram a exigir melhores salários e condições de trabalho, e trocavam de emprego com facilidade quando não conseguiam o que buscavam.
Agora, porém, há sinais de que a Grande Resignação tenha chegado ao fim. Apesar de ainda estar aquecido, o mercado de trabalho americano tem registrado cada vez menos pedidos de demissão. Ao mesmo tempo, as empresas parecem ter recuperado seu poder sobre os funcionários, reduzindo benefícios e adotando rotinas menos flexíveis. Esta reportagem do NYT, traduzida pelo Estadão, conta essa história.