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É hora de abrir uma gelada pelas ações da Ambev?

Depois de ser bem avaliada em relatório do Credit Suisse, a cervejeira teve um dia positivo na bolsa. Ibov fechou em leve alta.

Por Monique Lima, Tássia Kastner
Atualizado em 18 out 2024, 09h36 - Publicado em 12 jan 2021, 19h27
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 (Tiago Araujo/VOCÊ S/A)
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Tem ações da Ambev na sua carteira de investimentos? Então pega uma gelada aí para comemorar a alta de hoje. Motivo: o alcance de distribuição “incomparável” da fabricante, segundo o Credit Suisse. 

Pelo terceiro ano, o banco produziu um relatório chamado Touring the Brazil beer market (Visitando o mercado cervejeiro do Brasil, em tradução livre e significado literal), em que uma equipe do banco vai a bares em busca dos rótulos das grandes cervejarias do país. Nessa excursão, constataram que havia Ambev em 98% deles, um ganho de dois pontos percentuais em relação aos dois relatórios anteriores. 

Isso, em uma amostra de 302 bares, localizados em São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória da Conquista, na Bahia. Segundo o banco, trata-se de um recorte representativo, ainda que o Brasil tenha algo em torno de 500 mil bares. 

O sistema de logística da cervejeira brasileira é bastante superior ao da sua concorrente holandesa, Heineken, que segundo o relatório, apresentou uma disponibilidade de 78% — abaixo dos 85% do ano anterior. O problema, de acordo com o Credit Suisse, está ainda nas fábricas, o que torna mais difícil a chegada aos estabelecimentos.

Foi uma excelente notícia para a Ambev, que passa por uma tempestade perfeita desde que o coronavírus se instalou pelo mundo.

Comecemos pela chuva no Carnaval — do ano passado, claro, neste as festas estão oficialmente canceladas (extraoficialmente, só o país dirá). A cervejeira teve a fascinante ideia de contratar uma empresa para evitar as chuvas em São Paulo. Pois bem, a tentativa de “levar a chuva” para fora da região central da cidade tinha um motivo bastante óbvio: garantir a permanência dos foliões nos blocos e, consequentemente, a venda de mais cervejas. 

Momentos desesperadores exigem medidas drásticas: o Carnaval corresponde a 10% do faturamento anual da empresa e o climatempo não estava ajudando.

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Mas não funcionou, claro. Choveu muito, as temperaturas ficaram amenas e a arrecadação não chegou ao esperado. Passado fevereiro e chegado março, junto com o coronavírus, a fabricante viu suas vendas despencarem 11,5% no primeiro trimestre de 2020. E o lucro, queda livre de 56%. 

Daí para frente, só piora: pandemia, quarentena, fechamento dos bares, diminuição na produção de insumos para a cerveja e também para as latinhas. Além da crise econômica que diminuiu o poder de compra dos brasileiros e a vontade de tomar uma gelada em casa (o negócio mesmo foi o vinho).

No final do ano, a cotação das ações da empresa no Ibovespa fechou no negativo de 15,64%. Começou 2020 valendo R$ 18,67 e terminou em R$ 15,75. Era de se esperar, mas dá para traduzir em números. 

O lucro líquido do terceiro trimestre (apresentado no final de outubro, o dado mais recente), indicou uma queda de 9% nos valores arrecadados em relação ao mesmo período de 2019, de R$ 2,5 bilhões para R$ 2,2 bi. O balanço final de 2020 deve sair entre fevereiro e março.

E, para 2021, o cenário não é muito melhor. 

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Ele iniciou com a proibição de festas e novas medidas de isolamento social para conter o avanço do vírus, também já abarca o cancelamento do carnaval na data regular e a dificuldade de aprovar uma vacina — o que posterga a liberação de todos os fatores anteriores. 

Não só, talvez o maior desafio da cervejeira em 2021 não seja nenhum desses, mas sim outro: o bolso dos consumidores. 

Mas por hoje, o saldo é bom. A logística “incomparável” rendeu uma alta de 4,35% nos papéis da empresa. Nesse breve acumulado do ano, 7,73%, mas ainda faltam 10% para recuperar os R$ 18,87 do pré-crise.

Com essa alta, a companhia quase figurou no top five de alta do Ibovespa no dia. O índice superou as bolsas gringas e retomou a alta, mesmo sem um motivo muito forte para subir. Fechou aos 123.998 pontos, com subida de 0,60%. 

Alguns analistas afirmaram que estrangeiros estavam apostando em Petrobras e bancos. Mas tem uma outra explicação do que pode ter acontecido: a combinação da inflação com os juros do país.

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Pela manhã, o IBGE divulgou que o IPCA (a inflação oficial do país) fechou 2020 em 4,52%, o que é acima de 4% do ano. Era mais ou menos dentro do esperado, depois que os preços dos alimentos dispararam. Aí que os economistas agora estão divididos sobre o que o Banco Central deveria fazer com a taxa Selic, atualmente em 2% ao ano. 

Subir a Selic para deixar o dinheiro mais caro e reequilibrar preços (e arriscar desacelerar a economia em plena segunda onda de Covid) ou manter assim e arriscar um descontrole da inflação.

Só que o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, afirmou que a alta da inflação é temporária, tá tudo certo e não tem mudança de expectativa para a Selic. Isso significa, no consenso do mercado, que os juros começam a avançar a partir do segundo semestre. Enquanto ele falava, no final da manhã, o Ibovespa acelerava a alta.

E o que isso tem a ver com a bolsa? Tudo. 

É que a combinação de juro a 2% e Selic a 4% deixa o Brasil com o pé bem firme nos juros negativos. Significa colocar dinheiro na poupança para perder. E ninguém gosta de perder dinheiro. Foi isso que fez a bolsa amealhar 80% mais investidores em 2020 e deve continuar amealhando outros em 2021. A vontade de ver o dinheiro render. 

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Lá fora, o noticiário segue o mesmo: a preocupação com o avanço do coronavírus, a instabilidade política com a possibilidade de impeachment do Trump, a posse do Biden e o risco de que ocorram atos violentos como o do Capitólio durante a cerimônia.

No final do dia, a expectativa com o democrata e seus estímulos fiscais predominou e levou a desvalorização do dólar ante as principais moedas do mundo. Ajudou a dar um alívio para o real. Só hoje, a queda foi de 3,29% e chegou na cotação de R$ 5,32 — ontem havia fechado acima de R$ 5.50.

As bolsas passaram a maior parte do dia no vermelho, mas conseguiram o respiro. Fecharam assim: S&P 500 subiu 0,04% e a Nasdaq 0,28%.

Num dia morno como esse, só nos resta abrir aquela cervejinha e esperar por dias mais animados. RIP Carnaval 2021. 

 

MAIORES ALTAS 

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Embraer: 7,90%

Carrefour: 6,05%

Rumo: 5,29%

Cyrela: 4,93%

Natura: 4,81%

 

MAIORES BAIXAS 

Copel: -3,23%

Gerdau: -2,76%

Notredame: -2,74%

Vale: -2,74%

Hapvida: -2,64%

 

Petróleo

Brent: 1,65%, a US$ 56,58 o barril

WTI: 1,83%, a US$ 53,21 o barril

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