Embraer, petroleiras e frigoríficos soltam confete na quarta de cinzas
O maior destaque foi a aérea, que subiu 14% após uma piscada de olho da Lufthansa. Entenda todos os detalhes por trás desse caso.
Numa quarta-feira de cinzas com alta de 0,78% no Ibovespa, quem se deu melhor no quesito valorização foi a Embraer. A fabricante de aeronaves deu um salto ornamental de 14,09%. O motivo vale um briefing mais detalhado.
O alemão Carsten Spohr, CEO do Grupo Lufthansa, disse na segunda-feira que pretende trocar uma série de encomendas de aviões de grande porte por aeronaves menores, mais econômicas.
Ele comentou que os voos de negócios devem seguir em baixa por muitos anos. A cultura corporativa de mandar executivos para todos os cantos do mundo basicamente deixou de existir, afinal, já que as companhias perceberam que dá para resolver quase tudo pelo Zoom mesmo, com ou sem pandemia. Nisso, Carsten falou que vai precisar de mais aeronaves menores para os voos intercontinentais da Lufthansa.
De quebra, ele disse que estava conversando bastante com a Embraer.
A informação veio em caráter informal. O chefe da maior cia aérea da Europa falou isso durante um seminário via internet para alunos da London School of Economics, ao longo de um simpósio que a universidade britânica organizou sobre a Alemanha. Logo, não deu mais comentários sobre o assunto.
Isso fez uma manada de investidores ligarem A com B, e imaginarem um futuro sorridente para a Embraer. A empresa faz aeronaves com 76 a 100 assentos (nas configurações mais comuns, de duas classes), bem mais baratas e menos beberronas de querosene que o Boeing 777 e o Airbus A350, as duas aeronaves mais presentes no catálogo de encomendas da cia alemã, com capacidade para mais de 300 passageiros.
Mas tem um detalhe: os aviões da Embraer não têm alcance suficiente para fazer voos intercontinentais. Logo, Carsten provavelmente estava se referindo a aeronaves não tão menores assim – caso do Airbus A321neo e do Boeing 737 Max, capazes de atravessar o Atlântico com 200 passageiros.
Outra aeronave relativamente pequena e de longo alcance concorre diretamente com as da Embraer. É o Airbus A220 (ex-Bombardier CSeries), para só 120 passageiros.
Ou seja: se a Lufthansa pretende trocar suas encomendas de aviões grandes, de corredor duplo, por aeronaves menores em seus voos intercontinentais, vai atrás dessas alternativas, e não dos aviões fabricados em São José dos Campos (SP).
Por outro lado, Carsten disse que, sim, está conversando com a Embraer. E isso é uma ótima notícia. O lance é que o Grupo Lufthansa tem uma série de subsidiárias regionais – Eurowings, Air Brussels, Austrian Airlines, Lufthansa Citylines, Air Dolomiti, Edelweiss Air. Juntas, elas têm centenas de aeronaves da Embraer. Basicamente todas da geração mais antiga, a série E1.
As conversas, então, podem estar indo na direção de fazer um grande upgrade para a nova geração, a série E2 – cujas vendas não vêm bem. Se for isso mesmo, será um grande salto para a Embraer, que vem sofrendo nas mãos da concorrência.
Em 2018, a americana JetBlue tinha decidido trocar sua frota de 60 Embraer E-190 E1 por modelos A220. A Breeze Airways, de David Neeleman (dono também da Azul e outro grande cliente dos brasileiros) também abriu mão das aeronaves da Embraer, a favor do A220, e de sua capacidade intercontinental.
Só tem um detalhe. Outra subsidiária da Lufthansa, a Swiss, já usa jatos A220. Se a alemã está conversando com a Embraer, então, é porque ela talvez entenda as aeronaves brasileiras como mais atraentes para seus voos regionais, que não exigem um alcance extraordinário.
A Embraer vendeu 44 aeronaves comerciais em 2020, contra 89 em 2019. Uma queda de 50,5% (sim, culpa da pandemia, mas foi uma queda maior que a da Airbus, de 34%). E a carteira de encomendas caiu de 338 no final de 2019 para 281 hoje.
Se o namoro com o Grupo Lufthansa engatar, então, será uma lufada de ar fresco para os acionistas da empresa de São José dos Campos.
Petrobras e PetroRio
Quem também está soltando confete são os acionistas da PetroRio. Ela saltou 10,30% depois de os analistas do Santander manterem sua recomendação de compra para as ações da empresa. O Petróleo em alta (veja mais abaixo) também ajudou, e puxou para cima a outra Petro, a Bras: 4,04% para a estatal.
Minerva, Marfrig e JBS
Outra na turma da serpentina foi a Minerva. No sábado, frigorífico fechou um acordo com o fundo árabe Salic (Saudi Agricultural and Livestock Investment Company), para o fornecimento de 25 mil toneladas de carne por ano. Como o mercado só reabriu hoje, a consequência veio nesta quarta: alta de 5,22%. O Salic é acionista da Minerva, mesmo assim, o acordo parece ter impulsionado os papéis das concorrentes também, pois mostra que o mercado internacional está com o apetite aberto para a carne brasileira. A Marfrig fechou em alta de 4,18%. A JBS, de 3,02%.
Essas levaram o Carnaval a sério. Pelo menos no sentido etimológico. A palavra vem do latim carne vale, e significa “adeus à carne”, no bom sentido. É o período em que os cristãos antigos refestelavam-se de proteína animal, para aguentar depois a secura da quaresma, os 40 dias em que, pela tradição, o consumo de carne fica proibido. Daí também veio o termo francês mardi grass – “terça feira gorda”. No fim, os frigoríficos e as petroleiras tiveram uma quarta-feira gorda. A Embraer, mais ainda. Alalaô.
MAIORES ALTAS
Embraer: 14,09%
PetroRio: 10,30%
Usiminas: 5,78%
Minerva: 5,22%
Marfrig: 4,18%
MAIORES BAIXAS
Raia Drogasil: -3,25%
WEG: -3,14%
Eneva: -3,10%
Engie: -2,88%
Equatorial Energia: -2,84%
Em NY
S&P 500: -0.03%, a 3.931 pontos
Nasdaq: -0,58%, a 13.965 pontos
Dow Jones: +0,29%, a 31.614 pontos
Petróleo
Brent (referência internacional): alta de 1,56%, a US$ 64,34 o barril
WTI (referência nos EUA): alta de 1,81%, a US$ 61,14 o barril
Dólar: alta de 0,81%, a R$ 5,41
Minério de ferro: estável, negociado em leve baixa de -0,01% no porto de Qingdao, China.