Entenda o tamanho do bode que Bolsonaro colocou na sala
Reajuste a policiais federais cria instabilidade capaz de bagunçar toda a economia, e suas consequências empacam a bolsa.
E o Ibovespa segue de freio de mão puxado: fechou de novo em baixa, de 0,39%, aos 103.513 pontos. Cortesia de uma bagunça federal, literalmente. Vamos a ela.
Ao dar um reajuste salarial aos policiais federais, e deixar o restante do funcionalismo sentado e chorando, Bolsonaro criou um problema, que Elio Gaspari definiu perfeitamente dia 26/12, na Folha e no Globo.
O colunista citou o “efeito-túnel”, uma analogia criada pelo economista alemão Albert Hirschman (1912-2012) para explicar a natureza das revoltas sociais:
“Se duas filas de carros estão presas em um túnel e ambas se movem lentamente, os motoristas aceitam o revés. Se uma linha começar a se mover mais rápido, quem está parado pensa que o jogo está trapaceado”, escreveu Gaspari.
A pressão dos funcionários públicos que se sentiram passados para trás começou entre os auditores da Receita Federal, que entraram em greve na semana passada. Não só: 700 auditores entregaram seus cargos de chefia, o que deixa a Receita acéfala. Ontem foi a vez dos servidores do Banco Central. Começaram a entregar cargos de chefia por lá também. De acordo com o sindicato dos funcionários do BC, mil gestores da autarquia devem fazer isso.
E o que fica para o mercado financeiro é o fantasma de um aumento ainda maior nos gastos públicos para generalizar o reajuste. Para jogar mais lenha na fogueira, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na câmara, disse em entrevista ao Valor que os “teto de gastos tem de ser rediscutido”.
Aumentos nos gastos, e furo no teto, criam pressão inflacionária, pois injetam dinheiro na economia. E isso num momento em que o BC busca drenar dinheiro da praça, com seus aumentos nos juros. Com esse cabo de guerra em andamento, sobra pressão para novas altas peso-pesado.
Essa pressão fica visível no mercado dos juros futuros, que aposta em quanto estará o DI lá na frente – Di é uma das taxas de juros dos empréstimos interbancários, e tende a ficar pau a pau com a Selic.
Bom, o DI para janeiro de 2023 avançou para 12,03%. Esse mercado é o que baliza os juros dos títulos públicos prefixados. Logo, eles estão em alta. O Tesouro IPCA+2026 voltou para a casa dos 5% – estava oferecendo 5,15% (+ a inflação) nesta tarde. Mau sinal.
Mantega, o Retorno
Se as perspectivas para o governo atual não são das melhores, aquelas para um eventual governo seguinte também não ajudam.
A Folha convidou os principais pré-canditados (Lula, Moro, Ciro e Doria) a chamar um de assessor econômico de sua confiança para escrever sobre o tema. Lula, o líder das pesquisas (com 47% no primeiro turno, pelo Datafolha), escolheu Guido Mantega.
Mantega foi Ministro da Fazenda de Lula a partir de 2006. Era um defensor ferrenho de reduções nas taxas de juros, mesmo em momentos em que elas causariam inflação. Ele teve seus braços atados por Henrique Meirelles, então presidente do Banco Central, que defendia o oposto e tinha carta-branca do ex-presidente.
Com a ascensão de Dilma, e a saída de Meirelles do BC, Mantega empoderou-se. Forçou uma baixa desastrosa nos juros, que elevaria a inflação de 6%, em 2013, para 10,6%, em 2015. Para estancar a alta, o governo teve de subir a Selic com força – chegaria a 14,25%. A combinação de preços em alta com juros na estratosfera colocou o país em recessão.
A ideia de que a vitória do pré-candidato em posição mais vantajosa possa significar o retorno de Mantega, então, não soa exatamente agradável ao mercado.
E seguimos parados no túnel.
Maiores altas
CSN Mineração (CMIN3): 7,09%
Itau (ITUB4): 2,84%
Klabin (KLBN11): 2,55%
Suzano (SUZB3): 2,18%
B3 (B3SA3): 2,15%
Maiores baixas
Banco Inter – Units (BIDI11): -13,68%
Banco Inter – PN (BIDI4): -12,98%
Petz (PETZ3): -8,91%
Banco Pan (BPAN4): −7,82%
Locaweb (LWSA3): -6,75%
Ibovespa: -0,39%, aos 103.513 pontos
Em Nova York
S&P 500: 0,64%, ao 4.796 pontos
Nasdaq: -1,33%, ao 15.622 pontos
Dow Jones: 0,59%, aos 36.799 pontos
Dólar: 1,56%, a R$ 5,6627
Petróleo
Brent: 1,29%, a US$ 80,00
WTI: 1,20%, a US$ 76,99
Minério de ferro: 0,70%, a US$ 123,12 no porto de Qingdao (China)