Continua após publicidade

EUA caem e puxam o Ibovespa pela coleira

S&P 500 fecha no vermelho pelo quinto dia consecutivo, pois o mercado americano sabe que não vai mais ganhar biscoito do Fed. E o Ibov tomba junto: -0,93%

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 10 set 2021, 18h17 - Publicado em 10 set 2021, 17h41
.
 (Laís Zanocco/VOCÊ S/A)
Continua após publicidade

A virada maluca de ontem, com o Ibovespa saltando 2,4 pontos percentuais na boca do gol para fechar em alta de 1,72% escondeu um fato. Um fato não menos importante que o texto lá do Temer: as bolsas americanas tinham acabado de fechar em baixa pelo quarto dia seguido. 

O movimento das bolsas americanas tende a ser mais determinante para a Faria Lima do que eventos da política. Ontem foi uma exceção. Hoje não: o Ibovespa seguiu a variação das bolsas americanas ao longo do dia com a determinação de um cachorrinho carente. Baixava o S&P 500, baixava aqui, e vice-versa. O dia todo. Na saúde e na doença.

E no final ficaram juntos na doença mesmo: queda de 0,93% aqui e de 0,77% lá. 

Ou seja: o S&P 500 caiu pelo quinto dia seguido. Nesse intervalo, o índice americano já acumula uma queda de 1,7%.  

Não é exatamente um crash de 1929, claro. O S&P 500 vem de uma alta virtualmente ininterrupta desde 02 de novembro de 2020. De lá até aqui, o índice acumula um ganho 36%. 

Cortesia do Fed, que injeta 120 bilhões por mês nos bancos americanos para garantir a recuperação econômica. E boa parte desse dinheiro flui para a bolsa, o que turbina o S&P 500.  

Dinheiro novo demais na economia não faz só a bolsa subir: alimenta a inflação – passa a existir mais dinheiro em circulação do que coisas para comprar com esse dinheiro, e os preços sobem. Então uma hora o Fed vai ter de parar de brincar de Papai Noel. 

Continua após a publicidade

E hoje o BC americano teve mais uma motivação para isso.

Nesta sexta, saiu o Índice de Preços ao Produtor (que é tipo um IGPM dos EUA). A alta de agosto em relação a julho foi de 0,7% – acima da expectativa. E o acumulado em 12 meses está em 8,3%. É muito para um país que sempre soube controlar sua inflação. O Fed sabe disso. Logo, o fechamento da torneira é iminente. 

Só a perspectiva de que isso vá acontecer já faz com que a bolsa começe a cair. Investidores já satisfeitos com os 36% de ganho em um ano tendem a vender seus papeis para embolsar o lucro antes que as ações virem para o vermelho. 

Essas vendas, porém, já derrubam os preços. O que se trata de uma das magias da bolsa: quem move os preços é a imaginação dos investidores. Uma baixa imaginada para o futuro se torna uma baixa hoje, no mundo real. É o que aconteceu nesta semana. É o que pode seguir acontecendo por muitas semanas.

E quando as bolsas dos EUA caem, não tem muito jeito: as outras tendem a baixar a bola também. Essa pressão seguirá sobre o encoleirado Ibovespa por um bom tempo.  

Continua após a publicidade

Localiza e Unidas

As duas maiores empresas de locação de carros do país se destacaram entre as maiores baixas de hoje: -4,55% para a Localiza (RENT3), -5,08% para a Unidas (LCAM3). É a ressaca de uma alta de 8% entre quarta e quinta. 

A elevação lá atrás veio por que o Cade liberou a fusão das duas. O processo que já tem quase um ano e o mercado estava cético. A união das duas monopolizaria 70% do mercado. Como o trabalho do Cade é evitar monopólios, achava-se que o órgão faria o seu trabalho. 

E ele fez, veja só: liberou a fusão com algumas condições. A mais importante delas diz respeito a um acordo entre a Unidas e a americana Vanguard (dona das marcas Alamo, Enterprise e National). 

É o seguinte: quando você vê um balcão da Alamo e um da Unidas no aeroporto, está diante de uma ilusão. Não há concorrência de preço entre as duas. No Brasil, ambas as marcas são da Unidas. E agora passariam a ser da empresa resultante da fusão. Ou seja: muitos logos, um só dono. 

Na quarta e na quinta o mercado achou que tudo bem, e as ações decolaram. Hoje, talvez, muitos investidores tenham torcido o nariz para a exigência – já que ela abre mercado para a Vanguard atuar no Brasil como concorrente da nova super-locadora. E parte dos ganhos da semana acabaram devolvidos. 

Continua após a publicidade

Frigoríficos

Minerva, BRF e Marfrig fecharam super bem, com 6,10% para BEEF3, 3,03% para BRFS3 e 2,45% para MRFG3. Motivo: o IBGE divulgou um crescimento de 7,6% no abate de suínos e de 7,8% no de frangos no segundo trimestre, em comparação com o trimestre anterior. JBSS3 não acompanhou – queda de 0.37%  

Méliuz 

O destaque de alta foi a Méliuz, uma novata no Ibovespa, que fechou em alta de 8,41%. O fato não veio por conta de alguma notícia específica, mas porque esse papel passa por uma montanha-russa.

Montanha-russa que começou com uma subida estratosférica. Do IPO, em novembro de 2020, até o pico, em julho, foram nasdaquianos 640%. 

Motivo: a Méliuz é uma empresa de cashback, a mais nova lorota marketeira, que tenta te convencer de que gastar dinheiro é uma boa forma de ganhar dinheiro. Lorota ou não, o público curte – nos EUA, a prática já tem 35 anos, e segue firme. Esse público voa para o site da Méliuz, um marketplace dedicado a vender produtos dando um teco de dinheiro de volta. O conceito, aliás, ajudou a batizar o criativo ticker da companhia (CASH3). E os investidores correram para comprar CASH3 com o mesmo apetite com que os consumidores compram traquitanas no site dos caras.

Do pico para cá, porém, ela perdeu metade do valor. 11% desse montante foi limado na quarta-feira sombria, quando o Ibovespa tombou quase 4% no pós-7 de setembro. 

Continua após a publicidade

Bom, o mercado financeiro às vezes é como as montanhas-russas mesmo: obedecem as leis de Newton. Um pico alimenta uma queda, e a uma queda alimenta uma nova subida. Foi o que aconteceu hoje. A alta vai seguir? Ninguém sabe. A bolsa, afinal, é feita de imaginação, um material que não está sujeito às leis de Newton.

Maiores altas

Méliuz (CASH3): 8,41%

Minerva (BEEF3): 6,10%

BRF (BRFS3): 3,03% 

Marfrig (MRFG3): 2,45% 

Continua após a publicidade

Cyrela (CYRE3): 2,27%

Maiores baixas

Magalu (MGLU3): 8,86%

Banco Pan (BPAN3): 7,25%

Localiza (RENT3): 5,08%

Unidas (LCAM3): 4,40%

Via (VIIA3): 4,21%

Ibovespa: 0,93%, aos 114.285 pontos ​​

Em Nova York

S&P 500: -0,77%, aos 4.493 pontos 

Nasdaq: -0,87%, aos 15.115 pontos

Dow Jones: -0,78%, aos 34.607 pontos

Dólar: 0,76%, a R$ 5,26

Petróleo

Brent: 2,06%, a US$ 71,4

WTI: 2,32%, a US$ 69,72

Minério de ferro: -0,42%, cotado a US$ 129,71 a tonelada no porto de Qingdao (China)

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 6,00/mês*

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.