EUA também querem cortar imposto para baixar o preço da gasolina. Entenda por que não deve funcionar.

Petróleo caiu 2,54% e puxou junto a bolsa brasileira: -0,16%, aos 99.522 pontos.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 18 out 2024, 14h15 - Publicado em 22 jun 2022, 18h22
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 (Brenna Oriá/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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Soa familiar? O presidente dos EUA, Joe Biden, quer que o governo federal suspenda a cobrança de imposto sobre a gasolina por lá. 

O motivo é simples: os preços estão nas alturas, enquanto a popularidade do presidente despenca: só 39,2% aprovam o governo. O principal motivo é a inflação em alta, com destaque para os combustíveis.

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Nisso, Biden pediu para o Congresso que os impostos cobrados sobre a gasolina e o diesel sejam suspensos por três meses, para trazer “um pouco de alívio para as famílias”, em suas próprias palavras. Atualmente, o governo norte-americano cobra US$ 0,18 por galão de gasolina e US$ 0,24 de diesel. 

O presidente disse que também incentiva que os estados americanos façam o mesmo com seus próprios tributos estaduais. E pediu para as refinarias de petróleo aumentarem sua capacidade de produção.

Ainda não se sabe se o Congresso americano atenderá ao pedido de Biden. De qualquer forma, a medida já é velha conhecida do mercado. E quase todo mundo concorda: não só não deve funcionar como pode piorar o problema.

A inflação no preço dos combustíveis que o mundo vive vem, principalmente, da guerra na Ucrânia, que restringiu a oferta de petróleo russo no mundo e fez o preço da commodity disparar no mercado internacional. Segundo dados da Bloomberg, o preço da gasolina nos EUA subiu 38% desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, ainda em fevereiro deste ano.

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Reduzir impostos pode levar a uma redução temporária nos preços dos combustíveis, é claro. Mas preços menores levam a uma maior demanda. E a oferta, claramente, não cresce junto. Resultado: os preços voltam a subir, e podem até superar o patamar anterior. Tiro no pé.

Tem mais: nada garante que, com o corte dos impostos, a diminuição do preço seja repassada ao consumidor, na bomba. O movimento pode significar simplesmente um aumento na margem de lucro do vendedor final, e não há nada que o governo possa fazer quanto a isso.

Joe Biden, inclusive, vem criticando fortemente as grandes petroleiras e seus lucros exorbitantes nos últimos tempos, exatamente para tentar se livrar um pouco da culpa (também soa familiar, certo?).

Um exemplo recente de como o corte de impostos não funciona é a Alemanha. O país cortou os tributos para os meses de junho, julho e agosto. Nos primeiros dias, o preço caiu significativamente. Pouco tempo depois voltaram a subir, e já retornaram ao patamar de antes da medida.

O ministro das finanças da Alemanha, Christian Lindner, diz que isso é culpa do cartel das empresas do setor e quer que as agências reguladoras alemãs sejam mais rígidas com elas. Mas, novamente: o governo não pode obrigar as empresas a repassar o corte nos impostos para o valor da bomba.

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Por aqui, você já percebeu, a novela é a mesma. O governo quer que os estados zerem o ICMS do diesel, prometendo compensar o valor que deixará de ser arrecadado. Não só a medida não deve funcionar para diminuir o preço, como já vimos, como pode criar mais um problema fiscal para o governo.

Enquanto isso, Bolsonaro e Arthur Lira continuam seus ataques à Petrobras e sinalizam intervenções, numa longa novela que não tem data para terminar.

Hoje, ela ganhou um novo capítulo, aliás. O governo quer oferecer um voucher para caminhoneiros pagarem o combustíveis que pode ser de R$ 600 ou até R$ 1.000, segundo fontes ouvidas pelo O Globo. Antes, já havia essa proposta na mesa com um valor menor, de R$ 400, mas foi considerado insuficiente. Novamente as pressões fiscais voltam a aparecer na jogada.

Somando essa nova medida às isenções de imposto e às compensações aos estados, todo o pacote do governo voltado para aliviar o preço dos combustíveis deve ficar em cerca de  R$ 51,4 bilhões, segundo o Broadcast. 

Petróleo e bolsas

O preço do petróleo caiu hoje no mercado internacional, com o tipo Brent recuando 2,54%, e o WTI (referência nos EUA), 3,04%. Ao longo do dia, as cotações chegaram a cair 7%.

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O movimento foi atribuído à fala de Joe Biden sobre o corte dos impostos na gasolina e da pressão por mais produção. A primeira parte é surreal, a segunda até pode fazer algum sentido – um eventual aumento de oferta.

Mas o fato é que commodity já vem passando por um período instável, acumulando quedas justamente por medo do risco de recessão que paira sobre a economia global – o que explica também a baixa de hoje. 

Com isso, ações ligadas ao setor também caíram nas bolsas americanas e na brasileira. As maiores quedas ficaram para 3R Petroleum (-6,68%) e PetroRio (-6,42%), mas Petrobras também sofreu: PETR3 perdeu 0,47%, e PETR4 recuou 0,30%.

O setor de mineração e siderurgia também recuou com a economia global esfriando, sendo que a VALE3 fechou em queda de 0,8%.

Foi o suficiente para colocar o Ibovespa no terreno negativo: -0,16%. Ao longo do pregão, o índice até ensaiou uma recuperação com a virada das bolsas americanas, mas, no fim, o pessimismo pesou.

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Nos EUA, o destaque foi para a fala de Jerome Powell, presidente do Fed, no Congresso americano. O episódio não trouxe nenhuma novidade sobre os próximos passos do órgão quanto à taxa de juros ou sobre o risco de recessão por lá. 

Inicialmente o mercado até gostou da falta de novidades e as bolsas viraram para o positivo logo após a fala de Powell. Mas, no fim, o gás não durou e o S&P 500 fechou em leve baixa de 0,13%.

Até amanhã!

Maiores altas

Méliuz (CASH3): 7,69%

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BTG (BPAC11): 5,55%

BRF (BRFS3): 4,81%

Natura (NTCO3): 3,77%

Minerva (BEEF3): 3,76%

Maiores baixas

IRB Brasil (IRBR3): -10,60%

3R Petroleum (RRRP3): -6,68%

SLC Agrícola (SLCE3): -6,45%

Petrorio (PRI3): -6,42%

CSN (CSNA3): -4,60%

Ibovespa: 0,16% aos 99.522,32

Em Nova York

S&P 500: -0,13%, aos 3.759 pontos

Nasdaq: -0,15%, aos 11.053 pontos

Dow Jones: -0,16, aos 30.481 pontos

Dólar: 0,45%, a R$ 5,1771

Petróleo

Brent: -2,54%, a US$ 111,74 

WTI: -3,04%, a US$ 106,19

Minério de ferro: -5,57%, a US$ 108,98 por tonelada no porto de Qingdao (China)

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