Euro cai para a mínima em 20 anos com risco de recessão
Bolsas americanas começam a semana pós-feriado com queda. No Brasil, PEC Kamikaze pode ficar ainda mais explosiva.
Bom dia!
Talvez não tão bom assim para os europeus. Nesta terça, o euro caiu para o menor valor em quase 20 anos, para US$ 1,0281. A moeda não ficava tão barata assim desde dezembro de 2002. Vamos aos porquês:
- A diferença de taxa de juros da zona do euro (-0,5%, sim, a principal taxa de juros da região ainda está negativa) para os Estados Unidos (1,50% a 1,75) cresceu. Isso faz com que seja vantajoso pegar dinheiro emprestado na Europa e investi-lo nos EUA (uma operação financeira conhecida como carry trade que já mexeu muito com o nosso real). Este fluxo de dinheiro faz com que menos gente tenha interesse em ter euros na conta;
- As taxas europeias devem seguir menores que as americanas por muito tempo. O BCE (Banco Central Europeu) vai começar a subir os juros da região no fim de julho, em 0,25 ponto percentual. Ou seja, a taxa seguirá negativa, enquanto o Fed deve promover mais alguns aumentos de juros, levando as taxas para a faixa de 3,25% a 3,5% ao fim de 2022. Ou seja, o gap vai aumentar ainda mais nos próximos meses.
A alta de juros na zona do Euro tem o objetivo de tentar controlar a inflação na região, que subiu para 8,6% em junho. O lance é que o maior impacto da alta de preços vem do aumento nos combustíveis, algo que não é diretamente controlado com juros. E arrisca colocar a economia do bloco em recessão. Aí o euro perde ainda mais força.
Nesta manhã, os preços do gás saltaram 8% com uma greve na gigante norueguesa Equinor, que fechou três refinarias e deve reduzir a oferta para a Europa justo quando o bloco sofre com o fechamento das torneiras russas. Em resumo, preço mais caro.
É um combo que coloca o BCE numa sinuca de bico, tentando controlar a doença com o único remédio que tem – mas que pode se tornar veneno.
A Europa não está sozinha. Do outro lado do oceano, os americanos acordaram de ressaca pós-feriado de independência. Na sexta, as bolsas americanas decidiram ver o lado meio cheio do risco de recessão. Hoje, estão com o copo meio vazio.
Enquanto isso, o governo Bolsonaro continua 100% focado na corrida eleitoral, ampliando o rombo causado pela PEC Kamikaze, ou PEC dos Auxílios eleitoreiros de Bolsonaro. Agora, o relator da proposta, o deputado Danilo Forte (União-CE), sugeriu incluir um auxílio-Uber aos motoristas de aplicativo, tal qual o que será concedido aos taxistas.
Quem sabe até ser aprovada, a PEC também não nos beneficie? O problema será pagar a conta em 2023. Bons negócios.
O dia começou com tendência de queda:
Futuros S&P 500: -0,48%
Futuros Nasdaq: -0,61%%
Futuros Dow: -0,42%%
Índice europeu (EuroStoxx 50): -0,72%
Bolsa de Londres (FTSE 100): -1,06%
Bolsa de Frankfurt (Dax): -0,91%
Bolsa de Paris (CAC): -1,05%
*às 8h04
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -0,14%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): 1,03%
Hong Kong (Hang Seng): 0,10%
Brent*: -1,6%, a US$ 111,68
Minério de ferro: 2,36%, a US$ 112,90 por tonelada
*às 8h10
09h: Produção Industrial do Brasil em maio
10h: PMI Composto S&P Global do Brasil em junho
10h30: Superávit Orçamentário do Brasil em maio
Da boca pra fora
Empresas têm anunciado programas de recompra de ações como nunca. Mas só 44% das empresas efetivamente compraram mais de 50% dos papéis que desejaram, segundo um relatório do BTG Pactual que analisou 161 programas de recompra divulgados nos últimos 5 anos. Em programas grandes, que pretendiam comprar mais de 6% das ações em circulação, só 12 companhias compraram no mínimo 50% do valor anunciado. O BTG destacou positivamente 3 empresas: a Vale, que anunciou recompras de, em média, 6% das ações em circulação e implementou integralmente todos os programas; a JBS, que comprou 100% das ações anunciadas em um programa concluído no dia 22 de maio; e a Cosan, que recomprou todas as ações dos últimos 2 programas. Programas de recompra de ações servem para reinvestir o lucro gerado na própria empresa. É lido como uma prova de confiança da gestão da companhia que os lucros serão ainda maiores no futuro. E também é um jeito de turbinar o preço do papel, deixando ele mais escasso no mercado – caso a compra aconteça.
38 milhões de informais
O mercado de trabalho brasileiro conseguiu voltar ao patamar pré-pandemia às custas da informalidade: em 2 anos, o número de trabalhadores sem carteira assinada aumentou em 1,4 milhão. Durante os 3 primeiros meses deste ano, o Brasil contabilizou 38,2 milhões de informais – é o maior número para um primeiro trimestre desde o início da série histórica, em 2015. Esta reportagem da Folha examina esse e outros dados de emprego divulgados pelo Ibre-FGV.