Europa teme uma terceira onda, e ajuda a derrubar o Ibov em 1% 

Além disso, a vacinação por lá segue em marcha quase tão lenta quanto por aqui. China também colabora para o desempenho fraco do Ibov.   

Por Alexandre Versignassi
22 mar 2021, 18h34
globo
 (Tiago Araujo/VOCÊ S/A)
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As bolsas americanas fecharam em alta, mas a nossa não acompanhou. O mau agouro começou com a China. O país de Xi Jinping sinalizou que deve ampliar os cortes de produção de aço no pólo de Tangshan, com o objetivo de reduzir a emissão de poluentes por lá. Isso aliado a uma perspectiva de baixa na demanda da construção civil chinesa, jogou o preço do minério no chão.

Como a China responde por metade da produção global de aço, e é a nossa maior cliente, a Vale caiu junto: tombo de -1,66%. Siderúrgicas que, além de produzir aço, também atuam na mineração, caíram também. Caso da CSN (-1,71%) e da Usiminas (-3,09%). 

Isso foi fundamental para que o Ibovespa fechasse em baixa, de -1,07%, aos 114.979 pontos. 

Mas não foi só isso. Não é só no Brasil, afinal, que a pandemia está assustando. Alemanha e Bélgica temem que seus sistemas de saúde entrem em colapso, e devem anunciar lockdowns mais pesados. Enquanto isso, os índices de vacinação na União Europeia seguem quase tão ruins quanto os do Brasil.

Em todo o continente, o lugar com mais vacinados em termos relativos é a pouco significante ilha de Malta, onde 21% da população tomou duas doses da vacina. Nos maiores países da União Europeia, a taxa está por volta de 9%. É o caso da Alemanha, da França, da Itália e da Espanha, o G4 da União. 

Trata-se de uma proporção não muito melhor que a do Brasil, que, você sabe, não vai exatamente bem. Por aqui, estamos em 4,9%. No Reino Unido e nos EUA, os dois países de grande porte com mais vacinados, os índices estão em 42% e 25%, respectivamente.

Petrobras e aéreas

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Os números europeus, e o medo de que os hospitais de lá sigam o caminho dos nossos, e comecem a colapsar, pressionou o barril de petróleo para baixo ao longo do dia. O óleo estabilizou ao longo do dia, apagando as quedas. Mesmo assim, o movimento afetou a Petrobras. E outra estrela supermassiva do Ibovespa, ao lado da Vale, também fechou mal: -2,00%. Sua irmã de setor, a PetroRio, foi pior ainda: amargou -3,60%.

O momento de pessimismo com a pandemia também derrubou o setor aéreo, e colocou Embraer, Azul e Gol nas maiores baixas do dia (veja abaixo).

Pão de Açúcar

Na ponta das altas, o maior destaque foi o Pão de Açúcar. Foram 5,05% hoje (e espantosos 18,9% desde sexta). O motivo é o seguinte: a Casino, multinacional francesa que controla o Grupo Pão de Açúcar (GPA) pretende se desfazer de uma fatia da Cnova, o braço de comércio eletrônico do grupo no mundo. E irá fazer uma nova oferta pública de ações da empresa. 

Acontece que o GPA é dono de 34% da Cnova, e já estava a fim de vender essa participação. Agora, que o Casino vai colocar a maior parte da Cnova à venda, vai ficar fácil para o GPA fazer esse desinvestimento, e obter um bom dinheiro na operação. A fatia do Pão de Açúcar é avaliada em 784 milhões de euros (R$ 5 bilhões).  

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Na gringa

A alta nos EUA veio por conta de um fenômeno local: uma baixa nos juros dos treasuries, os títulos de longo prazo do tesouro americano. 

O preço das ações e os desses títulos vive numa gangorra. Se os treasuries sobem, as ações tendem a cair. Se eles caem, as bolsas agradecem. Na semana passada, esses juros passaram a barreira dos 1,7% anuais. Era a maior taxa desde janeiro de 2020. E alguns analistas imaginavam que elas chegariam logo aos 1,8%. Nesta segunda, porém, elas caíram para abaixo de 1,7% de novo, e o mercado ficou feliz. 

Explicamos aqui como realmente funciona essa gangorra com títulos públicos de um lado e as bolsas de outro. Mas vale uma breve recapitulação.      

O mercado negocia treasuries como se fossem ações. Se eu tenho um treasury que me custou US$ 1.000 que paga 1,60% ao ano e acho que a inflação vai estourar, vale a pena eu me livrar desse título. 1,60% vão significar um rendimento pífio lá na frente – já que, quando a inflação sobe, o governo lança títulos que pagam mais juros, de modo que eles continuem sendo investimentos atraentes, mesmo com uma subida generalizada nos preços. 

Então eu pego e vendo para você esse título de US$ 1.000 por um preço mais baixo. US$ 990, digamos. 

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Só tem um detalhe. O título continuará pagando 1,60% anuais sobre US$ 1.000. Mas, espera: você comprou ele por US$ 990, certo? Isso significa que a sua taxa de juros será maior. 1,60% sobre US$ 1.000, afinal, equivalem a precisamente a 1,71% sobre US$ 990. 

Pronto. Quando tem muita gente vendendo títulos por um valor inferior ao que pagou, para livrar-se dele, o mercado não diz que o preço dos títulos está caindo. Diz que o juro dos títulos está subindo. Foi isso que aconteceu na semana passada.  

E quando os juros dos títulos sobem eles tendem a se tornar mais atraentes do que ações, já que os treasuries apresentam risco zero – ao contrário dos papéis de uma empresa, que carregam até o risco de falência da companhia. Logo, qualquer subida nos títulos equivale a uma baixa nas bolsas – muita gente vende ações para comprar treasuries, empurrando os preços para baixo. 

E claro: quando acontece o inverso, quando os juros dos títulos passam a cair, a tendência é que mais dinheiro volte a ter a ações como destino, e as bolsas sobem. 

A alta nos juros dos títulos aconteceu por conta do medo de inflação, como vimos mais acima. Hoje, ao que parece, esse medo arrefeceu um pouco. Isso jogou para baixo os juros dos títulos, e para cima as ações. Resultado: alta de 0,70% no S&P 500, e de 1,23% no Índice Nasdaq, o das empresas de tecnologia. 

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Resumo da ópera: commodities em baixa, techs em alta. E mais um dia de 2021 com cara de 2020. 

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MAIORES ALTAS

Pão de Açúcar: 5,05%

Minerva: 3,26%

Marfrig: 2,44%

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Copel: 1,57%

MRV: 1,41%

MAIORES BAIXAS

Embraer: -7,44%

Azul: -6,10%

Gol: -3,63%

PetroRio: -3,60%

Usiminas: -3,09%

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Ibovespa: -1,07%, aos 114.979 pontos

Em NY:

S&P 500: 0,70%, com 3.940 pontos

Nasdaq: 1,23, aos 13.377 pontos 

Dow Jones: 0,32%, aos 32.731 pontos. 

Dólar: 0,59%, a R$ 5,51

Petróleo

Brent: 0,13%, a US$ 64,62  

WTI: 0,21%, a US$ 61,55 

Minério de ferro: -2,71%, no porto de Qingdao (China). 

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