Fed manera na alta dos juros, e o mercado comemora
Primeira subida na "Selic" dos EUA em quatro anos fica em 0,25%. Expectativa do Fed é chegar a apenas 2% no fim do ano. Resultado: alta de 2,24% no S&P 500 e de 1,98% no Ibovespa.
Joelmir Beting dizia que “combater a inflação a golpes de recessão é matar a vaca para acabar com o carrapato”. Era o que o Fed vinha praticando nos últimos muitos meses. Subir juros esfria a economia, já que passa a circular menos dinheiro.
O Fed decidiu pela economia, o que deu resultado: o desemprego caiu a 3,8% (um dos menores níveis da história deles) e o PIB americano avança grossos 6,9% na taxa anualizada. São coisas que só os juros baixos fazem por você.
Mas não existe banquete grátis, e aconteceu de o carrapato espalhar-se pela vaca. Juros baixos bombeiam dinheiro na economia. E dinheiro em excesso causa inflação. Ponto. Em fevereiro de 2020, a inflação em 12 meses era de 2,3%. Agora, de 7,9% – a maior desde o ano em que Michael Jackson lançou Thriller e que Paolo Rossi mandou a seleção de Telê Santana embora da Copa da Espanha.
Tem um detalha. O banco central dos EUA também entendia que a inflação galopante do país tinha mais a ver com os problemas na cadeia de produção que a pandemia causou (isso faz faltar produtos no mercado; então os preços sobem; inflação).
Lá para o final do ano passado, o Fed reconheceu que a inflação tinha outra causa: os juros baixos demais por tempo demais, e deixou claro que aumentaria os juros nos EUA “até o fim do primeiro trimestre”.
Chegou o fim do 1T22, e com ele alta, coisa que não acontecia desde 2018. A meta da “Selic” dos EUA flutuava numa banda entre 0% e 0,25% (algo que não rola no Brasil, isso de colocar a meta numa banda). Agora, o que aumentou foi a tal banda, que passou a ser de 0,25% a 0,50%.
Ou seja, o piso e o teto subiram 0,25%. Significa o seguinte: o Fed deve operar perto do piso boa parte do tempo (é o que aconteceu nos últimos dois anos, nos quais a taxa jamais chegou perto do velho teto – ficou entre 0,05% e 0,10%). Agora, claro, abaixo de 0,25% não fica mais. E, se eles acharem que não está bastando para combater a inflação, têm a porteira aberta para praticar 0,5%.
A diretoria do Fed divulgou que seus membros esperam juros a 2% no final do ano. É pouco para uma inflação que já soma 7,9% nos últimos 12 meses (antes da pandemia, em fevereiro de 2020, estava em 2,33%). Isso significa que o Fed segue resistente à ideia de matar a vaca para acabar com o carrapato.
Como o mercado prefere a vaca cheia de carrapato do que na UTI, as bolsas responderam bem: alta de 2,24% no S&P 500 e de 1,98% no Ibovespa.
O Fed, aliás, aproveitou o encontro de hoje para elevar as suas projeções de inflação para os próximos anos:
2022: de 2,6% para 4,3%
2023: de 2,3% para 2,7%
2024: de 2,1% para 2,3%
Detalhe: a projeção de inflação para 2022 está bem acima do previsto pelo mercado (3%). Os números para o PIB também mudaram. A projeção de crescimento recuou de 4% para 2,8% em 2022.
Jerome Powell, justificou a postura pouco agressiva contra a inflação: “O plano é restaurar a estabilidade de preços e ao mesmo tempo sustentar um mercado de trabalho forte”. Mais Joelmir Beting do que isso, impossível.
Petróleo
Depois de mais um pregão volátil, o petróleo fechou em queda pelo terceiro dia seguido: o tipo Brent (referência internacional) caiu 1,89%, enquanto o WTI (referência nos EUA) desvalorizou 1,45%.
O rali dos preços está mais contido graças às tentativas de um acordo entre Rússia e Ucrânia, embora não haja nada de concreto no horizonte. Ontem, foi a primeira vez que a commodity fechou abaixo dos US$ 100 desde o dia 28 de fevereiro.
A Agência Internacional de Energia (AIE) reduziu a projeção de alta na demanda global pelo produto para 2022 de 3,2 milhões de barris por dia para 2,1 milhões. Por outro lado, a agência estima que as sanções impostas à Rússia podem representar a perda de 3 milhões de barris por dia a partir de abril. Ou seja: sobrar petróleo não vai.
Copom
E hoje é Super-Quarta. Significa que o Comitê de Política Monetária (Copom) também anuncia, às 18h30, a sua decisão sobre a Selic. Enquanto isso, o mercado faz as suas apostas: a projeção é de um aumento de 1 ponto percentual, que deve elevar a taxa básica dos atuais 10,75% para 11,75% ao ano.
Na última reunião, o Copom indicou que estava pronto para reduzir o ritmo da alta. Mas essa reunião aconteceu no início de fevereiro, antes de estourar a guerra da Ucrânia e a disparada do petróleo no mercado internacional – o que levou ao reajuste de preços dos combustíveis na Petrobras e que vai impactar o IPCA. No Relatório Focus desta semana, o Banco Central aumentou a estimativa de inflação para 2022 de 5,65% para 6,45%. A projeção já está acima da meta estabelecida para este ano: de 3,50%, com tolerância de 1,50 ponto porcentual para cima e para baixo.
Se confirmado, esse será o nono aumento seguido nos juros e o maior patamar desde abril de 2017, quando a Selic estava em 11,25% ao ano.
As mudanças na taxa começaram em março do ano passado, quando estava no seu menor patamar histórico de 2% – aquele que os americanos só devem atingir no fim do ano.
Enquanto isso, nossa vaca segue para o brejo, cheia de carrapato.
Até amanhã
Maiores altas
CVC (CVCB3): 16,95%
Locaweb (LWSA3): 10,33%
Banco Inter (BIDI11): 9,87%
Ecorodovias (ECOR3): 8,72%
Natura (NTCO3): 7,10%
Maiores baixas
Yduqs (YDUQ3): -10,04%
Cielo (CIEL3): -3,50%
3R Petroleum (RRRP3) -2,90%
PetroRio (PRIO3): -2,53%
Cogna (COGN3): -1,42%
Ibovespa: 1,98%, a 111.112 pontos
Em NY:
S&P 500: 2,24%, a 4.358 pontos
Nasdaq: 3,77%, a 13.436 pontos
Dow Jones: 1,55%, a 34.063 pontos
Dólar: -1,27%, a R$ 5,0934
Petróleo
Brent: -1,89%, a US$ 98,02
WTI: -1,45%, a US$ 95,04
Minério de ferro: 6,65%, US$ 145,24 no porto de Qingdao (China)