Fed reconhece inflação persistente, mas ainda não reduz impressão de dinheiro
Manutenção do estímulo à economia dos EUA faz dólar cair para perto dos R$ 5,10. Ibovespa sobe 1%, mas segue empacado em 126 mil pontos.
Foi como se o Fed tivesse dado Ctrl+C/Ctrl+V nas decisões e relatórios dos últimos meses. O juro continua em zero, o programa de injeção de dinheiro na economia permanece intocado. Mas, lá no meio, o banco central americano deu mais uma piscadinha para investidores, o que foi suficiente para redirecionar o rumo do mercado. O dólar caiu mais de 1%, para a faixa dos R$ 5,10 que não via há uns 15 dias, e as bolsas subiram para compensar o tombo da véspera causado pela China.
Essa quase novidade (não se empolgue) foi uma admissão de que a economia americana está se aproximando das metas de inflação e de maior nível de emprego, os objetivos do Fed. Ainda que o desemprego deles esteja em 5,9% (o nosso é 14,7%), a avaliação era que setores específicos ainda não haviam voltado a empregar da forma esperada. Agora, essa preocupação diminuiu e, por isso, o debate sobre a redução do programa de estímulos continua na pauta.
O foco do mercado nem é tirar o juro do zero. Ele se contenta pouco: quer só uma sinalização de quando as impressoras de dinheiro vão trabalhar um pouco menos. Desde o ano passado, o Fed injeta todo mês US$ 120 bilhões na economia americana. E dinheiro em excesso na economia é, em essência, a principal causa da inflação.
Por sinal, o presidente do Fed, Jerome Powell, admitiu que a inflação “pode ser mais alta e persistente” do que o previsto. Ó, que surpresa, você dirá. Pois é, o mercado financeiro também não se comoveu. Mas pelo menos ele disse que, agora, isso está no radar para a decisão de reduzir o tamanho do estímulo à economia. Quando? Permanece um mistério. A única coisa que ele garantiu é que o mercado financeiro não será pego de surpresa.
Investidores andam com alguma pressa, justamente por causa da inflação. Aquilo que o Fed chamava, até ontem, de temporária já está em níveis históricos. No mês passado, a inflação americana ultrapassou os 5%. É a maior em 13 anos. E não vamos esquecer que a meta é de 2%.
Dessa vez, Powell também sinalizou que vê uma melhora no nível de emprego, cuja recuperação pós-pandemia é desigual.
Nova onda
E pode ser mesmo precipitado contar com o fim da pandemia e plena recuperação da atividade econômica. É que uma nova onda do coronavírus ameaça os EUA, com a propagação da variante Delta. Os casos da doença voltam a ultrapassar a barreira dos 100 mil pela primeira vez desde fevereiro.
Por um momento, o país esteve no topo das vacinações, mas 40% ainda não tomou nenhuma dose dos imunizantes e o presidente Joe Biden afirmou que está considerando exigir que todos os funcionários federais sejam vacinados. Seria uma tentativa de acelerar as vacinações e declarar guerra ao movimento antivacina, que é forte no país.
Além disso, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano voltou atrás e está orientando que até pessoas vacinadas continuem a usarem máscara em ambientes fechados. A proteção tinha sido considerada opcional em maio.
O posicionamento do Fed é de que o rumo da economia ainda depende da trajetória da covid-19 e que o progresso na vacinação é que vai ajudar a reduzir os efeitos da crise.
Bom, depois de tanta expectativa, investidores aparentemente ficaram sem rumo. As bolsas de Nova York fecharam cada uma de um jeito. O índice Nasdaq avançou 0,70% (aos 14.762 pontos), mas por causa das big techs (falaremos delas), enquanto o S&P 500 ficou estável (-0,02%) e encerrou com 4.400 pontos. Já o Dow Jones caiu 0,37%.
Nenhuma notícia é boa notícia
Se Wall Street ficou perdida, o mesmo não se pode dizer da Faria Lima. Esse caminhão de dinheiro que os americanos injetam na economia respinga aqui no Brasil. Com tanto dólar no mundo, fica cada vez mais difícil fazer ele render.
E, no caso do Brasil, há um componente adicional. É que, por aqui, o Banco Central já sobe os juros para conter a inflação (a nossa está acima de 8% em 12 meses). A decisão sobre um novo aumento da Selic sai na próxima semana e, ainda que o consenso seja de mais uma alta de 0,75 ponto percentual, há quem aposte em uma paulada de 1%. A Selic está hoje em 4,25%.
Nisso, um gringo que traga seus dólares para o Brasil passa a faturar mais. Não à toa, o dólar caiu 1,31% e fechou a R$ 5,1099. É um combo de dinheiro que entrou de verdade com as apostas de que tem mais verdinhas a caminho.
E o Ibovespa também surfou nesse cenário positivo para emergentes. Subiu 1,34%, aos 126.285 pontos. Ou seja, as perdas de ontem já foram recuperadas, ainda que o mês tenha tudo para fechar no zero a zero.
Novo-velho ministério
As outras notícias do dia passaram meio despercebidas pela espera da decisão do Fed. Mas, lá em Brasília, o governo publicou nesta quarta a medida provisória que recria o Ministério do Trabalho e Previdência, que está embaixo do guarda-chuva do Ministério da Economia.
Essa mudança na pasta começou na semana passada com um motivo menos nobre do que controlar a taxa de desemprego. Na verdade, o interesse é agradar o Centrão. Como já previsto, a ideia é que o “novo” ministério fique sob o comando de Onyx Lorenzoni, que hoje é ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência.
Weg
A liderança das maiores altas ficou com a Weg e mais ninguém. Os papéis da multinacional brasileira subiram mais de 8%. O motivo? A companhia registrou lucro de R$ 1,13 bilhão no segundo trimestre de 2021 – é um aumento de 120,6% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o lucro foi de R$ 514 milhões.
O número é impressionante, não à toa a alta expressiva. Há só um detalhe. O lucro ganhou um reforço de R$ 282,8 milhões por um créditos tributários referentes à exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins, que não vai se repetir.
Big Techs
Voltando para os EUA. Durante o pregão de ontem, empresas de tecnologia foram massacradas pelos cinco continentes, uma cortesia da intervenção chinesa das empresas de lá. Só que, depois do fim do pregão, rolou balanço das big techs Apple, Alphabet (que é a controladora do Google) e Microsoft. E elas superaram as expectativas, empurrando o índice Nasdaq e salvando o S&P 500 de uma desgraça maior.
O destaque ficou com a Alphabet. A companhia registrou um faturamento de US$ 61,9 bilhões – um salto de 62% em relação ao mesmo período do ano passado. Vale lembrar que em 2020, os resultados da empresa caíram por causa da pandemia.
O lucro entre abril e junho foi de US$ 18,5 bilhões, o que representa uma alta anual de 166,2%. No 2ºTRI do ano passado, o total foi de US$ 7 bilhões.
A Microsoft teve lucro de US$ 16,46 bilhões – um avanço de 49%. A receita trimestral da companhia teve avanço anual de 21%, a US$ 46,15 bilhões. Ponto de atenção só na queda de 4% nas vendas do Xbox e de 20% do notebook Surface.
Já a Apple registrou lucro de US$ 21,74, alta de 50% ante o resultado do ano passado de US$ 11,25 bilhões. A companhia também teve recorde na receita, que fechou o trimestre em US$ 81,4 bilhões.
Mas nem tudo são flores para a empresa de Steve Jobs. O CFO da Apple, Luca Maesteri, afirmou que restrições do mercado devem afetar a venda de produtos nos próximos trimestres. Ele estava falando da escassez de chips que vem afetando as indústrias de tecnologia e automóveis, que precisaram reduzir as suas produções – e os fabricantes já avisaram que o mercado de semicondutores só deve se reequilibrar no ano que vem.
Será esse um presságio para toda a economia?
Maiores altas
Weg: 8,08%
JHSF: 3,70%
BRF: 3,61%
Hering: 3,40%
Itaú: 3,25%
Maiores baixas
Natura: -5,90%
CSN: -2,52%
BTG Pactual: -2,05%
B3: -1,55%
Multiplan: -1,33%
Ibovespa: alta de 1,34%, aos 126.285 pontos
Em NY:
S&P 500: estável em -0,02%, aos 4.400 pontos
Nasdaq: alta de 0,70%, aos 14.762 pontos
Dow Jones: queda de 0,37%, aos 34.930 pontos
Dólar: queda de 1,31%, a R$ 5,1099
Petróleo
Brent: alta 0,48%, a US$ 73,83
WTI: alta de 1,03%, a US$ 72,39
Minério de ferro: estável em +0,05%, US$202,68 no porto de Qingdao (China)