Fim dos dividendos mágicos da Petrobras derrubam o Ibovespa
Eventual retenção de parte dos dividendos deixa clara a mudança na política da estatal, que cai 2,61%. OPA faz EDP Brasil subir 15%.
Quem comprou Hapvida ontem, durante a espalhafatosa queda de mais de 30%, na expectativa de um rebote nesta quinta, acabou frustrado. A operadora de planos de saúde caiu mais 3,31%. E ajudou a empurrar outras gigantes do setor morro abaixo. A Qualicorp cedeu 5,13%. A Rede D’or, agora dona da operadora Sulamérica, 3,90%.
Na ponta oposta, uma alta espetacular: 14,72% para a EDP Brasil (mais sobre ela adiante). Entre os pesos pesados do Ibovespa, a Petrobras cedeu 2,41%, e puxou o índice para baixo: 1,01% – na contramão do S&P 500, que subiu 0,76%.
Vamos ao caso da petroleira.
Após o pregão de ontem, a Petrobras divulgou seus resultados estratosféricos de 2022: lucro de R$ 188,32 bilhões no acumulado do ano – 76,6% maior que em 2021 e o melhor da história da empresa. Aliás, o melhor da história das empresas de capital aberto no Brasil, segundo dados da TradeMap.
A bolada veio acompanhada do anúncio de um pagamento de dividendos generosos. A princípio, fica assim: R$ 2,74 por ação, que dá R$ 35,8 bilhões no total. Esse valor é referente ao quarto trimestre do ano passado. No acumulado de 2022, são R$ 215,8 bilhões em proventos.
Só que os R$ 2,74 por ação ainda não estão garantidos. É que a companhia propôs reter R$ 0,49 desse valor para criar uma reserva de caixa – ideia que ainda passará pelo crivo dos representantes dos acionistas.
A medida está em linha com o que o governo vem defendendo sobre os rumos da empresa: reinvestir os lucros na própria companhia, em vez de distribuir dividendos portentosos. Na tarde de hoje, inclusive, o presidente não deixou o assunto passar. Em um pronunciamento durante o lançamento do novo Bolsa Família, ele disse que “em vez de investir, a Petrobras resolveu agraciar acionistas minoritários” (sobre a distribuição recorde de 2022). Também afirmou que a petroleira “virou uma empresa exportadora de óleo cru, e não foi para isso que descobrimos o pré-sal”.
Na bolsa, a possível retenção apagou o brilho do lucro recorde. Ficou claro que 2023 será, sim, um ano mais magro em proventos.
Para se ter uma ideia do que foi 2022: no primeiro pregão do ano passado, a ação fechou em R$ 29,09. Quem comprou ali e segurou, terá recebido um total R$ 15,78 em dividendos relativos ao ano anterior (isso já considerando a tal retenção de R$ 0,49 nos proventos do 4° tri).
Dá um dividend yield de 54%.
Caso cortem os R$ 0,49, o dividendo relativo ao quarto tri será de R$ 2,25 – pagável a quem tiver PETR4 ou PETR3 na carteira até dia 27 de abril. E só ele já representa um yield fabuloso. PETR4 fechou hoje em R$ 24,64. R$ 2,25 dá 9,13% disso. Nada mau para um único trimestre.
Bom, outro fator que deve reduzir a festa dos dividendos petrobralinos deve diminuir não só por questões políticas. Mas por conta de um barril mais barato. O Departamento de Energia dos EUA estima que, para este ano, o preço médio do Brent deve ficar em US$ 83 por barril – contra US$ 101,19 no ano passado.
Ao longo do dia, o mercado revezou entre se animar com os números recordes e se preocupar com as mudanças para o futuro. O lado pessimista venceu.
Agora, de volta à EDP.
EDP se despede da B3
A EDP Brasil, elétrica fundada em 1996, decidiu cair fora da bolsa. Pela manhã, ela anunciou que fará uma OPA – oferta pública de aquisição, processo em que uma companhia recompra todas as suas ações e fecha o capital.
A empresa, que é controlada pela Energias de Portugal, tem ativos na bolsa desde 2005. No último ano, a ação caiu, mas relativamente pouco (6%). A controladora portuguesa diz avaliar que sua subsidiária precisa de mais flexibilidade para gerir o negócio – ou seja, quer se livrar da pressão de prestar contas ao mercado a cada movimento. O pedido de OPA já foi registrado na CVM, e a companhia estima que todo o processo levará sete meses.
A EDP vai pagar R$ 24 por cada ação em circulação no mercado. No dia anterior ao anúncio, os papéis ENBR3 estavam cotados a R$ 19,63. Ou seja: 22,26% a mais.
Com uma garantia de recompra tão generosa, fica impossível encontrar alguém disposto a vender o papel por muito menos do que R$ 24. Logo, a ação foi a R$ 22,52. Alta de quase 15%.
PIB
Hoje foi dia do IBGE divulgar o PIB do Brasil em 2022. Aos números: o país encolheu -0,2% no quarto trimestre. No ano, cresceu 2,9% – em linha com o esperado pela mediana dos analistas consultados pela Bloomberg, que previam alta de 3% . Em números absolutos, dá R$ 9,9 trilhões. O setor de serviços foi a estrela da vez, com alta anual de 4,2%. Na outra ponta, o agro retraiu -1,7%, puxado pela queda de produção de soja.
Veja onde o Brasil está na comparação com os países que já divulgaram seus PIBs de 2023:
Top 5 (contando apenas países com mais de um milhão de habitantes)
1º Irlanda: 12,2%
2º Malásia: 8,7%
2º Arábia Saudita: 8,7%
3º Filipinas: 7,6%
4º Colômbia: 7,5%
5º Portugal: 6,7%
Bottom 5
40º Tailândia: 1,5%
41º Japão: 1,1%
42º Estônia: -1,3%
43º Hong Kong: -2,1%
44º Rússia: -3,5%
7 destaques do meio de campo
21º Reino Unido: 4,0%
27º México: 3,1%
28º China: 3,0%
29º Brasil: 2,9%
31º Coreia do Sul: 2,6%
35º EUA: 2,1%
38º Alemanha: 1,8%
Seja como for, o banco francês BNP Paribas aumentou sua projeção de crescimento do nosso PIB para 2023, de 0,5% para 1,5%, apostando numa reviravolta do agro e no crescimento do apetite chinês por commodities.
Até amanhã!
Maiores altas
EDP Brasil (ENBR3): 14,72%
BRF (BRFS3): 3,85%
Braskem (BRKM5): 3,65%
Embraer (EMBR3): 2,90%
Meliuz (CASH3): 2,53%
Maiores baixas
Qualicorp (QUAL3): -5,13%
Banco do Brasil (BBAS3): -4,03%
3R Petroleum (RRRP3): -4,02%
Rede D’Or (RDOR3): -3,90%
Minerva (BEEF3): -3,59%
Ibovespa: -1,01%, a 103.325 pontos.
Em NY:
S&P 500: 0,76%, a 3.981 pontos
Nasdaq: 0,73%, a 11.462 pontos
Dow Jones: 1,05% , a 33.005 pontos
Dólar: 0,24%, a R$ 5,20
Petróleo
Brent: 0,52%, a US$ 84,75 por barril
WTI: 0,60%, a US$ 78,16 por barril
Minério de ferro: 1,56%, a US$ 132,29 a tonelada na bolsa de Dalian