Futuros caem em NY um dia após o Dow Jones sair do bear market
No Brasil, Petrobras detalha plano estratégico para os próximos 5 anos sabendo que terá vida curta. E o chá de revelação do ministro da Fazenda de Lula só deve rolar depois do dia 12.
Os futuros de Wall Street começaram a cair assim que o dia raiou aqui e em Nova York. Bem diferente de ontem, quando houve um pregão de euforia.
A alegria de ontem tem nome: Jerome Powell, presidente do Fed. Ele deu a entender que a taxa básica de juros dos EUA deve mesmo subir “só” 0,5 ponto percentual em dezembro, após quatro altas seguidas de 0,75 p.p. ao longo do segundo semestre. É uma promessa com poder de levantar defunto: o Dow Jones até saiu do bear market, recuperando 20,4% desde seu último vale (entenda aqui o que define bear market e bull market).
Parte da explicação está nos dados do relatório Jolts de outubro. Eles confirmam que o mercado de trabalho americano está esfriando – havia 10,3 milhões de vagas abertas em outubro, vs. 10,6 milhões em setembro. Outro indicador, o ADP (que acompanha só o setor privado), deu conta de que, em novembro, surgiram 127 mil vagas, menos que as 190 mil esperadas e bem menos que as 239 mil de outubro.
O Jolts foi uma prévia bem-vinda, mas ele é do mês passado. E o ADP não é tudo isso na fila do pão. Importante mesmo é o Payroll de novembro, que chega na sexta (2). Esse documento – cujo nome significa, literalmente, “folha de pagamento” – é o indicador oficial do desemprego nos EUA. Espera-se que a criação de novos postos de trabalho caia de 261 mil em outubro para 200 mil em novembro, ainda que a taxa de desemprego permaneça em baixos 3,7%.
Se tanto a inflação como o mercado de trabalho esfriarem, a alta de “só” 0,5 p.p. em dezembro pode ser só o começo das alegrias dos investidores – que sonham com um 2023 onde a “Selic” americana não vá muito além dos 5% e comece a cair o mais rápido possível.
Falando em inflação, hoje os americanos vão conhecer o PCE de outubro. Trata-se de um outro indicador de preços, não tão relevante quando o CPI aos olhos dos investidores (e do Fed). Porém, como ele virá acompanhado de dados de emprego, tem o poder de mudar os humores do dia: se a inflação ceder junto com o mercado de trabalho, é sinal de que o remédio amargo dos juros está mesmo dando certo, e de que o Fed tem grandes chances de maneirar na dose ano que vem.
Enquanto isso, o Brasil pode esperar sentado pelo chá de revelação do Ministro da Fazenda. Lula disse ontem, em uma reunião com o MDB, que só saberemos seu time de ministros após a cerimônia de diplomação, que o TSE marcou para o dia 12 de dezembro. Balde de água fria em quem tinha esperança de saber das boas novas antes mesmo do segundo turno.
A fofoca mais recente vem do ex-ministro Nelson Barbosa, que integra a equipe de Lula. Ele revelou que existe a possibilidade de picar a Economia em três pastas: Ministério do Planejamento, Ministério da Fazenda e Ministério da Indústria e Comércio. Caso esse cenário se concretize, haverá três cargos-chave para distribuir entre pessoas com perfis diferentes – algumas mais ortodoxas, outras mais avessas às preferências da Faria Lima. (O nome da Fazenda ficaria mesmo “Economia” para não precisar trocar o letreiro na porta do prédio, disse Nelson em tom de gracejo.)
Hoje é dia da Petrobras detalhar seu plano estratégico para os próximos 5 anos. Ontem à noite, a estatal adiantou que quer pagar algo entre US$ 60 bilhões e US$ 70 bilhões aos acionistas, mas equipe de Lula já avisou que quer dar bonificações menores – Mauricio Tolmasquim, que lidera a transição na pasta de Minas e Energia, falou que o plano “terá de ser mexido” se não bater com as intenções do governo.
Enquanto isso, uma mão vai lavando a outra em Brasília. O Senado só deve votar a PEC na semana que vem – reduzindo o waiver para R$ 100 bilhões e o prazo para dois anos, algo que o próprio PT já espera –, e então o documento segue para a Câmara. Por lá, Lula já fechou a aprovação do documento com Lira. Em troca, o presidente da Casa pediu que a PEC já venha com uma brecha para liberar R$ 7,8 bilhões bloqueados em “emendas do relator” – vulgo orçamento secreto – ainda agora, no finalzinho de 2022.
Bom dia e bons negócios!
Futuros S&P 500: -0,15%
Futuros Nasdaq: -0,22%
Futuros Dow: -0,07%
*às 8h02
Índice europeu (EuroStoxx 50): 0,46%
Bolsa de Londres (FTSE 100): 0,12%
Bolsa de Frankfurt (Dax): 0,52%
Bolsa de Paris (CAC): 0,11%
*às 8h04
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 1,08%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): 0,92%
Hong Kong (Hang Seng): 0,75%
Brent: 0,13%, a US$ 87,08 o barril
Minério de ferro: 1,80%, a US$ 101,95 a tonelada, na bolsa de Cingapura
*às 7h04
Nubank: remuneração especial do David Vélez é cancelada
No final de 2021, o Nubank criou um programa de remuneração especial para seu fundador e CEO, David Vélez, que hoje detém 20% das ações da companhia. O contrato previa que, caso o banco batesse um valor de mercado de US$ 100 bilhões, Vélez ganharia mais 1% das ações. Depois, caso o valor atingisse US$ 200 bilhões, o executivo receberia mais 1%.
Agora, o banco digital anunciou que está cancelando o programa devido a mudanças no cenário macroeconômico. Ao Estadão, Vélez disse que esta seria “uma despesa muito alta para os próximos anos e em um ambiente mais desafiador”. A real é que a medida já era polêmica antes da economia se complicar: na época que foi anunciado, o valor da remuneração foi considerado muito alto quando comparado a de outros bancos e fintechs.
Na prática, a desistência é puramente simbólica nesta altura do campeonato: para que o Nubank alcançasse valor de mercado de US$ 100 bilhões, as ações da companhia precisariam estar cotadas a US$ 18,69. Hoje, elas custam US$ 4,49 (queda de 56% desde o IPO). Ou seja: mesmo que o contrato ainda estivesse vigente, Vélez não receberia sua remuneração adicional tão cedo.
O preço do Brexit
O Reino Unido saiu oficialmente da União Europeia em 1º de janeiro de 2021. Quase dois anos depois, já é consenso entre economistas que o Brexit tornou o país mais pobre. As novas barreiras entre a ilha e os demais países da União Europeia tornaram as negociações comerciais mais caras e demoradas – e novos acordos de comércio exterior, como um firmado recentemente com a Austrália, nem chegaram perto de compensar as perdas. O Financial Times explica aqui.
Teto de gastos na gestão Bolsonaro
Um levantamento do economista Bráulio Borges, pesquisador do FGV-IBRE, mostrou que a gestão Bolsonaro furou o teto de gastos em R$ 795 bilhões desde 2019. A maior parte das despesas adicionais rolou em 2020, quando o Congresso aprovou um pacote de medidas para combater a pandemia. Mas também entraram na conta a PEC dos Precatórios, a PEC Kamikaze e outros repasses não previstos para estados e municípios. Este vídeo da BBC Brasil recapitula o histórico do teto e explica o que esperar da âncora fiscal flexível que o próximo governo deve adotar.
Brasil, 9h: PIB do 3º trimestre de 2022;
EUA, 10h30: relatório de inflação PCE.