Grupo Soma leva Hering por R$ 5,1 bi e ações da marca dos peixinhos saltam 26%

A Hering havia recusado uma proposta anterior da Arezzo e isso é só uma pequena amostra de quão efervescente está o varejo brasileiro.

Por Tássia Kastner
Atualizado em 26 abr 2021, 18h45 - Publicado em 26 abr 2021, 18h38
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 (Laís Zanocco/VOCÊ S/A)
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O risco de dar as costas ao inimigo é não ver o bote chegando. Foi mais ou menos o que aconteceu com a Arezzo. A companhia havia flertado com a Hering, tomou um não e enquanto decidia o que fazer, baixou a guarda. Não viu o Grupo Soma (da Farm e da Animale) se aproximar. Foi assim que o Soma levou a mais famosa marca de roupas básicas do país por R$ 5,1 bilhões – a Arezzo havia oferecido R$ 3,2 bilhões. 

O resultado direto do acordo foi uma alta de 26,19% nas ações da Hering, a maior alta do Ibovespa com folga nesta segunda (26). O Soma, que não está no Ibov, caiu 10,14%, enquanto a Arezzo recuou 3,26%.

Até essa investida da Arezzo, a Hering não estava necessariamente à venda, mas vinha sendo assediada por concorrentes, segundo reportagem do Valor Econômico. A companhia de 140 anos está no meio de um grande plano de reestruturação depois de um período de dificuldades de emplacar até coleções de peças básicas. Básico sempre foi sinônimo de Hering no Brasil, e daí dá para entender o problema que a empresa dos peixinhos tem pela frente (fun fact: Hering é arenque, um tipo de peixe, em alemão. É daí que vem o logo). 

No ano passado, a companhia lucrou R$ 343 milhões, salto de 60% ante 2019. Mas isso foi resultado de uma redução de custos, não de aumento de vendas. O varejo de moda como um todo sofreu com redução no consumo de roupas, à medida que as pessoas passaram mais tempo em casa e renovaram menos o guarda-roupa. 

Foi em 2020 que a Hering finalmente fez deslanchar o seu e-commerce, melhorando a integração com as lojas físicas, uma transformação obrigatória para quem quer sobreviver. E isso não tem nada a ver com a pandemia. O problema é que o sistema segue com engasgos (segundo experiência própria).

Essa dificuldade de virar a chave e manter o lugar cativo no coração dos consumidores aparecia na bolsa de valores. Até a investida da Arezzo, a Hering era negociada na faixa de R$ 17. No fechamento de hoje, saltou para R$ 28,62, uma valorização impressionante de 68% em menos de duas semanas. Com isso, a companhia alcançou valor de mercado de R$ 4,5 bilhões, o que significa que o Soma ainda está pagando um a mais para levar a famosa malharia catarinense.

O acordo é uma daquelas operações complexas. O Grupo Soma vai criar uma subsidiária (NewCo) para acomodar a Hering, e os atuais acionistas da malharia catarinense vão receber R$ 9,630957 em dinheiro e 1,625107 ação do Soma. 

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Para o JP Morgan, o Grupo Soma está pagando caro pela aquisição. “Embora a Hering traga uma marca forte, com um amplo mercado potencial, o negócio traz desafios de execução”, escreveram os analistas do banco. 

A operação ainda depende do aval do Cade, órgão de defesa da concorrência.

O caso Hering não é isolado. O varejo como um todo está em ebulição. O Grupo Soma havia captado há menos de um ano, quando fez sua estreia na bolsa e levantou R$ 1,82 bilhão. O dinheiro para a compra da Hering virá de uma emissão de dívida, segundo reportagem do Brazil Journal.

A Arezzo recentemente comprou a Reserva. A Renner anunciou o plano de vender mais ações na bolsa para levantar recursos para aquisições. O mercado especula que a varejista gaúcha esteja de olho na Dafiti, uma forma de a companhia avançar no e-commerce.

E o movimento vai além. Na sexta, a Lojas Americanas anunciou a aquisição do Grupo Uni.Co, dono das marcas Imaginarium e Puket. A Uni.Co vinha há um tempo ensaiando o IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês), mas o plano não saía do papel.

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E se parece pouco, a Via Varejo (Casas Bahia e Ponto Frio) anunciou que agora se chama apenas Via, uma tentativa de convencer investidores de que também está comprometida com a sua transformação digital. Por hoje, a história não colou: a empresa cedeu 2,06% no pregão desta segunda. 

E não vamos nem falar de Magalu, que anuncia uma compra por semana para turbinar o seu superapp. Dá para apostar que a coisa não vai parar por aí.

Dia morno

Mas foi basicamente a Hering que trouxe alguma emoção para o Ibovespa na segunda. O índice passou boa parte do dia com uma alta modesta, chegou a cair no meio da tarde, acompanhando Nova York, para fechar no zero a zero (+0,05%), a 120.594,61 pontos.

Quem salvou o dia foram as siderúrgicas, que se beneficiam há meses da alta nos preços do minério de ferro e da alta demanda por aços. Usiminas subiu 3,57%; Gerdau, 2,33% e CSN 5,08%. A Vale teve avanço mais modesto, de 0,54%, à espera do balanço que sairia após o pregão. Fica para amanhã.

Maiores altas

Hering 26,19%

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CVC 5,18%

CSN 4,85%

Usiminas 3,66%

BR Malls 3,31%

Maiores quedas

Carrefour -2,74%

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Eztec -2,45%

Lojas Americanas  -2,19%

Hypera -2,10%

Raia Drogasil -2,09%

Ibovespa: 0,05%, a 120.594,60 pontos

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Dólar: -0,88%, a R$ 5,4487

Em Nova York

Dow Jones: -0,18%, a 33.981,90

S&P 500: 0,18%, a 4.187,62

Nasdaq: 0,87%. a 14.138,78

Petróleo

Brent: -0,59%, a US$ 65,72

WTI: -0,29%, a US$ 61,96

Minério de Ferro

+3,94%, para US$ 193,58 a tonelada no porto de Qingdao, na China

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