Ibov sobe com freio de mão puxado: +0,42%. A culpa é da criação de mais um ministério
Sem preocupações do tipo “Centrão na Casa Civil”, as bolsas americanas subiram quase 2%.
Não, o medo da variante delta sobre a economia ainda não passou: investidores do mundo todo continuam receosos. O lance é que eles decidiram olhar para outro lado. Aí os americanos se deram bem, porque encontraram lucros fabulosos em empresas gigantes, caso da Coca-Cola e a Johnson & Johnson. Já os brasileiros…
Por aqui, a Faria Lima descobriu que o governo Bolsonaro quer recriar o Ministério do Trabalho. Não custa lembrar que a promessa de campanha era ter apenas 15 pastas, algo que nunca ocorreu. O seu governo começou o mandato com 22 ministérios e subiu para 23 no ano passado, quando foi recriado o ministério das Comunicações.
E a volta do ministério agora não é exatamente uma preocupação com a alta taxa de desemprego (14,7%). O foco é acomodar aliados. Do começo: o presidente precisa agradar o Centrão, que está furioso com a ameaça de veto aos R$ 5,7 bilhões para o fundo partidário. Mais, o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos, ameaçou abrir o processo de impeachment contra Bolsonaro agora que está, de maneira interina, cobrindo as férias do titular da cadeira, Arthur Lira.
Como deve ser essa acomodação? Primeiro, Bolsonaro deve dar a Casa Civil, o principal ministério com uma sala no Planalto, para Ciro Nogueira. O senador é o presidente do PP, um dos expoentes do Centrão. Só que hoje quem ocupa a casa civil é o general Luiz Eduardo Ramos. Ele iria para a Secretaria Geral da Presidência, ainda no Planalto. Aí o problema seguinte era manter outro aliado como ministro. Onyx Lorenzoni, então, ganharia o tal novo-velho ministério.
É que o Ministério do Trabalho foi extinto em janeiro de 2019, no começo do governo. Era para cumprir a promessa de cortar pastas e também dar superpoderes ao ministro Paulo Guedes. A essa altura, ele não parece mais tão apegado ao “super”. Em entrevista, confirmou a recriação da pasta, que deve se chamar “Ministério do Emprego e da Previdência” e disse que apenas pediu para manterem o atual secretário especial da área, Bruno Bianco, como secretário-executivo da nova pasta.
Os últimos parágrafos foram escritos no condicional (pode/deve) porque em Brasília — e especialmente no governo Bolsonaro — é difícil cravar até que esteja no papel. O governo está preparando uma medida provisória com mudança, que deve (mais um deve, ó) ser apresentada até o começo da semana que vem.
É nesse bololô que o Ibovespa subiu, mas um pouco menos que o mundo lá fora. +0,42%, a 125.929 pontos. O volume de negócios também foi menor: R$ 24,5 bilhões (a média diária
ronda R$ 35 bilhões).
Crise e mais crise
O ponto é que nada disso muda o fato de que Guedes enfraqueceu ainda mais, e num momento delicado. Há quase um mês, o ministro está sob ataque da Faria Lima e de empresários por causa da proposta de reforma do Imposto de Renda.
E não ajuda a história do fundão. Ontem, depois do fim do pregão, Bolsonaro prometeu vetar os R$ 5,7 bilhões aprovados por deputados e senadores para as campanhas eleitorais de 2022. Na verdade, o presidente não é contra o fundo, mas diz que também não concorda com o valor. A quantia é considerada muito alta por qualquer pagador de impostos. Pegou mal.
Bolsonaro já afirmou que concorda com um valor entre R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões, que é quase o dobro do R$ 1,7 bilhão liberado para as eleições de 2018. “O que a lei manda fazer é corrigir o fundão pela inflação nos últimos dois anos. Então, se tivesse chegado um fundão na ordem de R$ 3 bilhões, eu seria obrigado a sancionar”, disse o presidente em entrevista à rádio Jovem Pan Itapetininga na manhã de desta quarta.
Ah, mais um detalhe. Não é que Bolsonaro esteja preocupado só com a repercussão negativa fora de Brasília. É que o fundão mais gordo turbina o orçamento do PT, a maior bancada na Câmara e que fica com a maior parcela de recursos. A segunda maior bancada é o PSL, que era o partido do presidente na eleição de 2018. Agora, rompido e sem partido, ele não ganha a cota.
Bolsas de Nova York
Lá em Wall Street, os investidores optaram por deixar a preocupação com a variante Delta de lado um pouco e focar nos balanços corporativos.
Hoje, os resultados da Verizon, Coca-Cola e Johnson & Johnson superaram as expectativas e animaram os índices. No caso da operadora, o lucro registrado foi de US$ 5,9 bilhões no segundo trimestre – uma alta de 25,5% na comparação anual. Segundo a empresa, os resultados foram impulsionados por um aumento na adoção da tecnologia 5G em celulares.
Já a Coca-Cola viu o seu lucro subir 48% nos últimos três meses, para a tristeza do Cristiano Ronaldo. Brincadeiras à parte, a companhia reportou um lucro líquido de US$ 2,64 bilhões. Já a receita da fabricante de bebidas avançou 42% no trimestre para US$ 10,13 bilhões. Na América Latina, os resultados foram impulsionados pelo Brasil e México, sendo que a receita da fabricante cresceu 41%, para US$ 1,07 bilhão, e o lucro antes de impostos subiu 53%, para US$ 681 milhões.
A Johnson & Johnson teve alta de 73,1%, com um lucro de US$ 6,278 bilhões no segundo trimestre. A empresa está em destaque graças à vacina desenvolvida pela subsidiária Janssen — o imunizante gerou receitas de US$ 164 milhões.
No final do dia, todos os índices americanos ficaram no positivo. O S&P 500 registrou alta de 0,82%, aos 4.358 pontos. Já o Nasdaq subiu 1,92%, aos 14.631 pontos.
Petróleo
Os preços do petróleo operaram em alta ao longo de todo o dia, ainda em um movimento de recuperação após a forte queda de cerca de 7% na segunda-feira. O tipo Brent, que é referência internacional, subiu 4,15%, enquanto o WTI (referência nos EUA) subiu 4,61%.
As altas, no entanto, não foram suficientes para recuperar integralmente as perdas. Tanto o Brent quanto o WTI continuam registrando prejuízos na semana: de -1,94% e -2,17%, respectivamente.
Também rolou uma surpresa negativa do Departamento de Energia (DoE) dos EUA: os estoques americanos de petróleo cresceram 2,107 milhões de barris na semana passada, ante a previsão de queda de 1,5 milhão. Isso implica em uma demanda mais fraca do produto. O natural seria a queda nos preços, mas não foi o que aconteceu.
Independentemente do prejuízo acumulado nos últimos dias, por aqui os papéis da Petrobras acompanharam o preço da commodity de hoje e avançaram 1,93%. Quem também aproveitou a alta do combustível foi a PetroRio (1,06%).
IRB Brasil
As ações do IRB Brasil lideraram as altas do Ibovespa, com valorização de 8,70%. A resseguradora divulgou os seus resultados não auditados do mês de maio e teve lucro líquido de R$ 7,5 milhões – ante um prejuízo de R$ 202,1 milhões apurado no mesmo mês de 2020.
Já nos nos cinco primeiros meses deste ano, a empresa teve lucro de R$ 9,4 milhões. O prejuízo no mesmo período do ano passado foi de R$ 337,2 milhões.
Quando excluído o efeito dos negócios descontinuados e dos eventos não recorrentes, o lucro em maio de 2021 atingiu R$ 51,4 milhões. Seguindo esse mesmo cálculo, nos cinco primeiros meses de 2021 a companhia teria um lucro líquido de R$ 92,9 milhões.
A empresa também ganhou um investidor de peso. Segundo o Infomoney, Luiz Barsi Filho, um dos maiores investidores individuais da Bolsa, comprou mais ações da IRB e já conta com um capital de 1,5% no capital social da companhia.
Não custa lembrar que os prejuízos do IRB no ano passado foram ligados a escândalos de má gestão. No meio da crise estrondosa, executivos vazaram ao mercado que um investidor ainda mais respeitado, Warren Buffett, teria comprado papéis da companhia. Ele negou.
Embraer
Outra que também figurou entre as maiores altas foi a Embraer. A empresa informou que 34 jatos no segundo trimestre. Foram 14 aeronaves comerciais e 20 executivas, sendo 12 leves e oito grandes. Isso representa um crescimento de 54% ante o primeiro trimestre, quando foram entregues 22 aviões.
Além disso, a carteira de pedidos firmes (ou seja, os jatos que faltam ser entregues) inclui o contrato de 30 aeronaves E195-E2 da Porter Airlines, do Canadá, e somou US$ 15,9 bilhões no final de junho, alta de 12% em relação ao primeiro trimestre. Segundo a companhia, esse é um retorno aos níveis pré-pandemia. As ações fecharam em alta de 3,23%.
Resta saber quando o Ibovespa vai conseguir soltar do freio de mão de Brasília e levantar voo junto com os aviões da Embraer.
Maiores altas
IRB Brasil: 8,70%
Braskem: 4,91%
Embraer: 3,23%
Usiminas: 2,88%
Banco Inter: 2,50%
Maiores baixas
Americanas: -5,67%
Lojas Americanas: -5,39%
Fleury: -2,84%
Cogna: -2,22%
JHSF: -2,20%
Ibovespa: alta de 0,42%, aos 125.929 pontos
Em NY:
S&P 500: alta de 0,82%, aos 4.358 pontos
Nasdaq: alta de 1,92%, aos 14.631 pontos
Dow Jones: alta de 0,83%, aos 34.797 pontos
Dólar: baixa de 0,76%, a R$ 5,1916
Petróleo
Brent: 4,15%, a US$ 72,23
WTI: 4,16%, a US$ 70,30
Minério de ferro: queda de 2,83%, US$214,79 no porto de Qingdao (China)