Ibovespa ameaça perder os 109 mil pontos. Mas EUA salvam o dia no final.
Republicanos concordam em aumentar o teto da dívida dos EUA – fundamental para a continuidade dos estímulos econômicos, e mercado global vira para a alta.
Hoje, o dia tinha tudo para ser mais um marcado por quedas – bem no clima do Mercúrio retrógrado que bagunçou a semana. Mas o universo virou.
Ou melhor, Nova York virou – o que dá na mesma. A quarta-feira começou no vermelho, contaminada pela crise energética que assusta a Europa. O continente precisa de gás natural para não congelar no inverno – ele é o combustível dos sistemas de aquecimento residencial.
O problema: desde o início do ano, os preços do gás natural subiram em torno de 400% – culpa em parte da falta de novos investimentos na extração de combustíveis fósseis. Como a produção caiu, os preços foram à estratosfera – já que ainda falta inventar uma alternativa para o gás natural. E isso tem deixado os mercados em pânico.
Em Wall Street, porém, o que estava pesando mesmo era outro assunto: a situação fiscal dos Estados Unidos. Pelos cálculos da secretária do Tesouro, Janet Yellen,o governo americano esgotará sua capacidade de endividamento lá pelo dia 18 de outubro. É que ocorre o seguinte: o dinheiro que o Fed imprime para estimular a economia acaba contabilizado como dívida federal. E a dívida federal deles tem um teto. Se a capacidade de endividamento fosse infinita, afinal, viraria zona – a capacidade de solvência dos títulos públicos do país entraria em descrédito.
Os Senadores democratas e republicanos estavam em um cabo de guerra sobre o teto da dívida do governo americano. Os democratas, que estão do lado do presidente Joe Biden, queriam aumentar o limite atual de US$ 28,4 trilhões, para que os estímulos financeiros sigam firmes. Já os republicanos estavam se recusando a aprovar um novo valor, para manter a tal capacidade de solvência.
Depois de meses em negociação, o acordo veio. O líder republicano no Senado, Mitch Connell, confirmou que o partido vai apoiar uma extensão do teto até dezembro. Ainda não foram discutidos valores, mas seria o bastante para a continuidade dos estímulos.
Os indicadores viram no momento de paz uma oportunidade para mudar o rumo e sair do vermelho: o Nasdaq fechou o dia com alta de 0,47%, aos 14.501 pontos. Já o S&P 500 subiu 0,41%, aos 4.363 pontos.
Mercado de trabalho
O acordo no Congresso ajudou o mercado a aproveitar uma outra notícia boa, que estava passando batida: lá nos EUA, o setor privado criou 568 mil empregos em setembro, segundo o relatório da ADP (empresa que administra as folhas de pagamentos de boa parte das companhias americanas).
O número ficou bem acima dos 340 mil registrados em agosto (o indicador do mês passado era de 374 mil, mas foi revisado para baixo). A geração de emprego superou também as previsões, que apontavam para a criação de 425 mil vagas.
Ainda assim, o indicador está abaixo dos melhores meses do ano. Os picos foram em maio e junho, com 882 mil e 741 mil vagas, respectivamente. Além disso, os números de setembro estão abaixo dos registrados no mesmo período do ano passado, quando foram abertas 821 mil vagas.
Mas o ADP só está preparando o humor do mercado para sexta-feira, quando o governo americano divulga o payroll. O relatório oficial de como anda o mercado de trabalho lá nos EUA inclui as vagas do setor público e uma leitura mais ampla do privado e a previsão é da criação de 500 mil vagas em setembro.
Com os dias contatos
A crise energética na Europa assustou no começo do dia, mas acabou perdendo os holofotes para as boas notícias vindas dos EUA. O que não significa que o problema foi resolvido. Na verdade, a falta de energia não é um problema só dos europeus. Já está virando uma crise global.
Lá na China, os estoques de carvão estão baixos, atrapalhando o abastecimento das termelétricas. O país já vê contração na sua atividade industrial e a necessidade de realizar apagões programados. Lembrando que a China ainda está abalada com o risco de quebra da incorporadora Evergrande – cujas dívidas correspondem a 3% do PIB Chinês (ou seja, um abuso).
As crises energéticas que despontam pelos países intensificam o avanço da inflação. Segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), a alta nos preços deve atingir o pico neste trimestre no Hemisfério Norte, impulsionada justamente pelo aumento dos preços das commodities, escassez de insumos e interrupções na cadeia de abastecimento.
As projeções para as economias avançadas são de que a inflação chegará a um pico de 3,6%; enquanto os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento passaram por um pico de 6,8%. E a volta da inflação a patamares pós-pandêmicos? Para o FMI, só no ano que vem.
Maria vai com as outras
Por aqui, o Ibovespa seguiu o caminho que o exterior ditava. No momento de queda lá fora, a bolsa brasileira chegou a desvalorizar mais de 1%, com o índice abaixo dos 109 mil pontos – menor pontuação desde novembro do ano passado.
Wall Street virou e lá estava o Ibov logo atrás. Conseguimos fechar o dia no zero a zero, pelo menos: 0,09%, aos 110.559 pontos.
Teve até empresa que conseguiu reverter um balde de água fria chamado “queda de 3,1% nas vendas do varejo em agosto”. O indicador foi divulgado pelo IBGE logo cedo e foi a primeira queda após quatro taxas positivas consecutivas. Em relação ao mesmo período do ano passado, o indicador também caiu (-4,1%).
Com isso, as varejistas estavam figurando entre as maiores baixas. Mas é como a gente disse: o universo virou. Depois do alívio nos EUA, Americanas subiu inesperados 7%, e o Magalu, 5%. As oscilações do mercado nem sempre (ou quase nunca) são uma ciência exata. Hoje tivemos mais uma prova disso.
Até amanhã!
Maiores altas
Americanas (AMER3): +7,31%
Rumo S.A. (RAIL3): +7,24%
Magazine Luiza (MGLU3): +5,70%
Lojas Americanas (LAME4): +5,53
Via (VIIA3): +3,44%
Maiores baixas
Braskem (BRKM5): -4,49%
Locaweb (LWSA3): -4,46%
JHSF (JHSF3): -3,26%
Meliuz (CASH3): -2,85%
Banco Inter (BIDI4): -3,17%
Ibovespa: +0,09%, aos 110.559 pontos
Em NY:
S&P 500: +0,41%, aos 4.363 pontos
Nasdaq: +0,47%, aos 14.501 pontos
Dow Jones: +0,30%, aos 34.416 pontos
Dólar: +0,02%, a R$ 5,4861
Petróleo
Brent: -1,79%, a US$ 81,08
WTI: -1,90%, a US$ 77,43
Minério de ferro: 0,00%, US$ 116,58 no porto de Qingdao (China)