Ibovespa aposta nas previsões de PIB gigante em 2021 e bate recorde aos 128 mil pontos
Dólar cai abaixo de R$ 5,15 pela primeira vez desde janeiro e turbina otimismo mesmo com pandemia e crise hídrica no radar.
Nem o episódio mais recente da CPI da Pandemia, estrelado pela Dra. Nise Yamaguchi, conseguiu tirar a bolsa brasileira dos trilhos nesta terça-feira. O Ibovespa renovou o recorde e agora é cotado acima dos 128 mil pontos. O grande responsável por manter o bom humor do mercado tem nome e sobrenome: PIB do primeiro trimestre de 2021.
A economia brasileira cresceu 1,2% maior em relação ao último trimestre de 2020, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o que foi léguas à frente do consenso de analistas ouvidos pela Bloomberg. Eles esperavam alta de 0,9%. Essa alta fez o país zerar as perdas da pandemia.
Resultado? Faria Lima soltando rojão. Após ultrapassar pela primeira vez na história a marca simbólica dos 126 mil pontos ontem, o Ibovespa alcançou, hoje, os 128 mil. A alta desta terça-feira foi de 1,63%, chegando aos 128.267 pontos. O giro de negócios foi de 43,1 bilhões, superando a média diária do ano, de R$ 35,2 bilhões.
Não é bem o dado passado que animou o mercado, afinal entramos hoje no último mês do segundo trimestre e o período de janeiro a março é quase notícia velha. O lance é que o PIB mais rechonchudo fez o mercado financeiro refazer as contas, e agora há quem aposte em um 2021 de PIBão: 4,8% no Bradesco, 4,9% no Credit Suisse, 5,2% no Bank of America e 5,5% no Goldman Sachs, para ficar em três exemplos. Todos fazem ressalvas de que os reflexos da crise hídrica sobre o fornecimento de energia elétrica e a pandemia podem ter impactos nessas perspectivas.
É bem mais que as projeções mais recentes colhidas pelo Boletim Focus, do Banco Central: lá os economistas ainda estão em 3,96% neste ano. O “novo PIB” também supera a expectativa do próprio Ministério da Economia, que estima alta na casa dos 3,5%. Vale lembrar que, no ano passado, a economia retraiu mais de 4% em comparação ao ano anterior.
Ou seja, economia crescendo mais favorece empresas brasileiras, o que ajuda no novo empurrão da bolsa brasileira. Mas não só isso. Esse PIB maior tem como efeito direto uma redução da pressão sobre a dívida pública. É que a conta seguida pelo mercado financeiro é justamente a relação dívida/PIB. Se o denominador aumenta, o indicador cai. Ao menos no curto prazo, isso deixa investidores mais confortáveis em trazer dinheiro de volta para o Brasil. Além da alta das ações, a enxurrada de dólares alivia o câmbio. O dólar recuou 1,51% e fechou a R$ 5,146, no menor patamar desde janeiro. Foi mais uma notícia boa depois da queda de 3,81% em maio, a maior baixa mensal desde novembro.
EUA
E o dólar cedeu só com base no que estava rolando na economia nacional, mesmo. As bolsas americanas tiveram um dia nem lá nem cá na volta do feriado. Tanto S&P 500 quanto Nasdaq fecharam praticamente estáveis: quedas de 0,05% e 0,09%, respectivamente. As emoções estão concentradas na divulgação de dados do Relatório Nacional de Emprego ADP, que mede a geração de novas vagas pela iniciativa privada e deve sair na quinta-feira. Já na sexta é a vez do chamado Payroll, relatório que deve revelar o número de desempregados no país.
Marfrig ataca novamente?
Durante a maior parte do dia, quem protagonizou as maiores altas do Ibovespa foram as ações da Lojas Americanas e as da Ultrapar, companhia do setor de distribuição de combustíveis que é dona dos postos Ipiranga. As altas do setor de varejo, caso de empresas como a Lojas Americanas (+7,59%) e B2W Digital (+6,54%), são uma resposta ao supracitado PIBão. No caso da Ultrapar, que terminou o dia com um salto de 7,25%, o que repercute é o encaminhamento da venda da Oxiteno, empresa química controlada pelo grupo. A transação deve render US$ 1,5 bilhão ao caixa da Ultrapar e é cotada para acontecer até o fim de junho.
A dupla, porém, foi superada no split final do pregão pela BRF, que cresceu 9,55%. A valorização dos papéis da companhia foi modesta na maior parte do dia. Até que uma reportagem do Brazil Journal, publicada no meio da tarde, relatou que a Marfrig pode ter “voltado à cena do crime”. Ela teria retomado a compra de ações da BRF na bolsa, e poderia superar os 25% de participação na companhia.
Como quem lê a Você S/A provavelmente se lembra, a frigorífica ganhou destaque na semana passada por arquitetar um movimento ousado: adquirir ações da vizinha do setor alimentício usando a bolsa – como se fosse um investidor comum. Segundo analistas, a negociação seria uma tentativa de Marcos Molina, CEO da Marfrig que detém 50% das ações da empresa, de controlar também a maior parte do capital da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão. Esse controle ficaria garantido com a compra dos 20% da participação da empresa.
Commodities em alta
O dia próspero da bolsa brasileira foi patrocinado também pelo bom desempenho da Petrobras. Os papéis da estatal subiram 1,56%, alavancados pela alta mundial do petróleo. A perspectiva de aumento de demanda por combustíveis, à medida em que o hemisfério norte se prepara para um verão vacinado, puxou o preço da matéria-prima. Além disso, a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) disse que vai manter o cronograma de retomada gradual da produção, o que ajuda a empurrar os preços para cima. O petróleo tipo Brent, que dita os valores dos barris da companhia brasileira, encerrou a terça-feira cotado a US$ 70,25, uma alta de 1,37%. Para o WTI, o crescimento foi de 2,11%.
O outro grupo de companhias influenciadas pelos preços das commodities, o das siderúrgicas e produtoras de aço, também foi impactado pela alta do minério de ferro. O preço do metal foi negociado no porto de Qingdao, na China, com alta de 4,95%.
Boa notícia também para a Vale, que poderia vender seu minério cobrando mais, certo? Com certeza. Não fosse a notícia de que a companhia deve paralisar as operações da unidade de Sudbury, na província de Ontário, no Canadá. É no território canadense que se localizam as principais reservas de níquel da Vale, metal usado na fabricação de automóveis e celulares. Isso fez os investidores colocarem o pé no freio, comprando menos ações da companhia – o que explica o recuo de 1,38%.
MAIORES ALTAS
BRF: 9,55%
Lojas Americanas: 7,59%
Ultrapar: 7,25%
B2W: 6,55%
Braskem: 6,54%
MAIORES BAIXAS
Locaweb: 5,54%
Banco Inter: 3,60%
Klabin: 2,39%
Suzano: 2,32%
BTG Pactual: 1,85%
Ibovespa: +1,63%, a 128.267 pontos
Nova York:
S&P 500: -0,05%, a 4.202,04 pontos
Nasdaq: -0,09% a 13.736,48 pontos
Dow Jones: +0,13% a 34.576,30 pontos
Dólar: -1,51%, A R$ 5,146
Petróleo
WTI: +2,11%, a US$ 67,72
Brent: +1,37% , a US$ 70,25
Minério de Ferro
Alta de 4,95%, a US$ 208,67 a tonelada no porto de Qingdao, China