Ibovespa cai mais 0,75%, na esteira das bolsas americanas
Lá fora, S&P 500 se recupera ao longo do dia, mas não consegue fechar no azul: -0,14%.
Depois de terminar a semana passada à beira do abismo, o S&P 500 deu um passo adiante: queda de 0,14%.
O aumento iminente nas taxas de juros por lá deu início a uma corrida pela realização dos lucros acumulados nos últimos anos – juros mais altos drenam dinheiro da economia, o que mina o potencial da bolsa (entenda melhor aqui).
Mesmo assim, o movimento não foi tão forte hoje. O S&P 500 chegou a cair mais de 1,5% ao longo do dia. Mas recuperou-se no final da tarde e fechou o dia perto do zero a zero.
Bom, outra coisa que muda nesse cenário de juros com viés de alta é o rendimento dos títulos públicos. O mercado passa a negociá-los a taxas maiores, antevendo o cenário de juros mais altos que se avizinha para a taxa básica da economia (aquela que os bancos comuns pagam ao banco central pelo dinheiro novo que recebem).
Os Treasuries com vencimento em 10 anos (papel mais negociado do “Tesouro Direto” deles”) passaram a pagar 1,80% anuais agora. É a maior taxa desde janeiro de 2020, quando os juros do Fed estavam em 1,75%. Desde março de 2020 o Fed passou a emprestar para os bancos a taxas próximas de zero. No momento, ela está em parcos 0.08%.
O primeiro aumento na “Selic” deles, que deve vir em março, provavelmente triplicará isso para 0,25%. Parece pouco. É pouco. Mas marca o fim da era do dinheiro de graça. E sem dinheiro de graça no horizonte, o mercado corre para realizar o que já teve de lucro, e aportar a grana em portos mais seguros – a começar pelos títulos públicos americanos.
Como dólar tem passaporte diplomático – zanza por todas as bolsas do mundo –, a decadência dos “ativos de risco” é global. Resultado: queda de 0,75% por aqui hoje, aos 101.945 pontos.
Vamos aos destaques do dia.
Alta do Fleury
A explosão da Ômicron fez a média móvel de novos casos saltar 669% no Brasil em duas semanas. Ela está em 33,1 mil para os últimos sete dias (o número de mortes, felizmente, segue baixo em relação aos piores momentos da pandemia: 123 na média móvel).
O aumento de casos, de qualquer forma, cria uma espiral: quanto mais testes positivos, mais gente paga para fazer testes, e quem providencia testes ganha com isso. É o caso do Fleury. A queda no número de testes ao longo do ano passado era vista como algo negativo para o faturamento da rede de laboratórios.
Com a nova onda em ascensão, FLRY3 fechou como uma das maiores altas do dia: 3,74% – sim, isso parece uma notícia tirada do Don’t Look Up, o filme lá do cometa, mas é assim que o mundo funciona.
Na outra ponta, a de quem perde receita com o avanço da pandemia, estão os planos de saúde. Isso colocou a Hapvida entre as maiores baixas do dia, com -5,24%.
Recomendação solar para a WEG
O Bank of Amercica (BoFA) reiterou pela nona vez consecutiva sua recomendação de compra para ações da WEG. Justificativa: a venda de equipamentos de geração, transmissão e distribuição de energia solar já representa 40% das receitas da companhia. Pelos cálculos do banco, esse setor cresceu a uma taxa de 150% ao ano de 2017 para cá, e WEG acompanhou bem, com sua divisão de energia solar ampliando o faturamento a uma média de 130% anuais nesse mesmo período.
A recomendação do BoFA, porém, não bastou para salvar os papéis da WEG nesta segunda-feira de sell-off global. Queda de 2,89%, a R$ 28,56.
Não é só isso. Os papéis da WEG passam por um movimento de correção há um bom tempo. Depois de experimentarem uma alta de 400% entre janeiro de 2019 e janeiro de 2021, eles já tombaram 40% desde o último pico. O BoFA, de qualquer forma, tem um preço-alvo de R$ 50 para WEGE3 – 78% acima da cotação atual.
A montanha russa do Inter
Outro destaque negativo foi o Banco Inter, confirmando mais uma vez sua vocação para montanha russa. BIDI11 tinha subido assombrosos 15% no último pregão, após o UBS recomendar a compra do papel, com preço alvo de R$ 46 (quase o dobro do patamar atual). Mas boa parte desse ganho acabou devolvida hoje: queda de 9%.
BIDI11 chegou a ser negociada a R$ 84, em julho. Desde então, o concorrente do Nubank acumula uma queda de 70%.
A bola de cristal do Boletim Focus
Segunda-feira é dia de polir a bola de cristal: o BC divulga o Boletim Focus, sua pesquisa semanal com economistas sobre as perspectivas para os indicadores mais importantes. A previsão agora é de que a Selic suba mais 2,5 pontos percentuais até o final do ano, e feche 2022 a 11,75% – na semana passada, apostavam em 11,25%.
Para a inflação, a média dos palpites segue inalterada, em 5,03%
O que isso realmente diz sobre o futuro? Nada. O Boletim Focus do dia 11 de janeiro de 2021 previa uma Selic de 3,25% para o final do ano passado. No mundo real, ela fechou em 9,25%. Para a inflação, chutavam 3,34%. Está em 10,74%.
Previsões, no fim das contas, são só um retrato de como anda o clima no presente. O amanhã, com ou sem palpites, segue no mesmo estado de sempre: uma grande incógnita.
Maiores altas
Usiminas (USIM5): 4,77%
Fleury (FLRY3): 3,74%
CSN (CSNA3): 3,32%
Pão de Açúcar (PCAR3): 2,11%
Iguatemi (IGTI11): 1,98%
Maiores baixas
Banco Inter (BIDI11): -8,57%
Magalu (MGLU3): -7,72%
Méluz (CASH3): -5,75%
Qualicorp (QUAL3): -5,56%
Hapvida (HAPV3): -5,24%
Ibovespa: -0,75%, aos 101.945 pontos
Em Nova York
S&P 500: -0,41%, aos 4.677 pontos
Nasdaq: -0,96%, aos 14.935 ponto
Dow Jones: -0,01%, aos 36.231 pontos
Dólar: 0.76%, a R$ 5,67
Petróleo
Brent: -1,08%, a US$ 80,87
WTI: -0,85%, a US$ 78,23
Minério de ferro: -1,80%, a US$ 125,73 a tonelada no porto de Qingdao (China)