Ibovespa fecha estável com um olho na CPI e outro na privatização da Eletrobras
Ocupado com noticiário de Brasília, investidor ignora dia negativo para as bolsas americanas.
Fica difícil prestar atenção em outra coisa quando em Brasília existe uma CPI da Pandemia. O dia foi de depoimento do ex-chanceler Ernesto Araújo, e dá para dizer que as declarações deixaram o investidor tão distraído que ele nem viu mais um dia negativo no exterior. Nisso, o Ibovespa conseguiu se segurar no azul. Após iniciar o dia em queda e ensaiar uma recuperação um pouco mais forte à tarde, o índice terminou a terça-feira (18) estável (+0,03%), a 122.979,96 pontos.
Tinha motivos para distração. Em suas falas, o ex-ministro das Relações Exteriores que ecoou manifestantes pró-governo e chamou o coronavírus de “comunavírus”, bateu o pé ao dizer que não fez declarações anti-chinesas durante sua gestão e que tampouco contribuiu para alimentar qualquer hostilidade com a China.
“Entendo que nada que eu tenha feito possa ter levado a percalços no recebimento de insumos”, afirmou Araújo, em menção à dificuldade atual de importação de compostos para a produção da CoronaVac no Instituto Butantã. O impasse, que vem atravancando a vacinação no Brasil, é atribuído ao histórico de desgaste com o governo chinês durante o mandato de Bolsonaro.
O resumo da ópera: ele tentou culpar o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e limpar a barra do presidente Jair Bolsonaro, mas acabou confirmando que teve papel ativo na importação de insumos para a produção de cloroquina, o remédio que não só é ineficaz contra o coronavírus, como também debilita a saúde dos pacientes.
Não há um efeito direto entre a CPI e o mercado financeiro, claro. Exceto se ela conseguir reduzir o poder político do governo Bolsonaro, por expor as falhas na gestão da pandemia. Nesse caso, cresce a dificuldade de aprovação de reformas – aquelas que tanto interessam aos investidores.
Curiosamente, uma das medidas parece estar avançando na Câmara enquanto todo mundo acompanha apenas a TV Senado.
Eletrobras
É a privatização da Eletrobras. Não é bem uma privatização. No começo do ano, o governo enviou à Câmara dos Deputados uma Medida Provisória que permite a venda de novas ações da estatal de energia. A ideia, com isso, é que mais gente seja acionista da companhia e o governo diminua a sua participação. Somando as parcelas a cargo da União e do BNDES, o governo é dono de 58% da empresa. Agora, essa fatia deve ser reduzida a cerca de 45%.
Só que nessa MP foram incluídos uma série de pontos um tanto controversos e que foram rediscutidos. O presidente da Câmara, Arthur Lira, anunciou que a votação deve ocorrer amanhã (19). Os papéis da Eletrobras terminaram o pregão em alta de 3,03% (ELET3) e 2,33% (ELET6).
A principal questão envolvia uma indenização de R$ 45 bilhões que a Eletrobras precisa receber do governo. Inicialmente, a MP previa que o dinheiro fosse mantido pela parte da empresa que deve continuar estatal (representados pela Itaipu e a Eletronuclear). Com a mudança no texto, o dinheiro deve ser direcionado a todo para a empresa privatizada, como queriam os investidores.
Outro ponto de mudança envolve um dispositivo que permitia à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) intervir no mercado de energia – uma forma de evitar a concentração do mercado por empresas do setor elétrico. Agora, a agência não terá mais esse controle.
Ibovespa
Os possíveis entraves na privatização da Eletrobras – ou os fantasmas da cloroquina e da demora na compra de vacinas – não chegaram a fazer barulho entre os investidores. Enquanto a caravana de Brasília passava, a bolsa brincou de gangorra o dia todo. Quem de fato segurou o Ibovespa no positivo foi, de novo, a Vale. Após salvar dias ruins do Ibov na semana passada, as ações da mineradora protagonizaram alta de 1% nesta terça-feira. Parece pouco? Não mesmo: uma vez que a companhia responde, sozinha, por cerca de 13% da carteira de ações do Ibov, qualquer avanço minimamente expressivo já pode ser suficiente para salvar o dia. O motivo principal está na subida do preço do minério de ferro na China, que hoje cresceu mais 3,06%, e eleva o valor do minério pelo planeta todo.
Por outro lado, a Petrobras voltou a cair na esteira da baixa nos preços do petróleo. Os papéis preferenciais da companhia, mais negociados, caíram 1,16%.
Tombo
Fora do Ibovespa, o destaque negativo foi a Rede D’Or. O jornal Valor Econômico antecipou que a companhia pretende fazer uma nova oferta de ações (follow-on) de R$ 5 bilhões. O problema é que a maior parte do dinheiro não irá para o caixa da companhia, mas sim para o bolso de investidores de saída do negócio (o fundo Carlyle e parte das ações da família Moll). Além do volume expressivo do negócio, o mercado tende a ficar receoso quando grandes acionistas deixam a sociedade. Nisso, as ações caíram 5,39%.
A Rede D’Or é relativamente nova na bolsa, estreou em dezembro no que foi, à época, o maior IPO desde 2013.
Outra novata da bolsa a ocupar o noticiário corporativo foi a Pague Menos. A agência de notícias Reuters anunciou que a rede de farmácias negocia a compra da concorrente Extrafarma, que pertence ao grupo Ultrapar (esse com ações na B3). No entanto, ainda não existe uma proposta firme para o acordo. As ações da Pague Menos saltaram 9,59%, para R$ 11,77, enquanto os papéis da Ultrapar cederam 1,18%.
Ok, isso quer dizer que a Faria Lima tinha bastante coisa para prestar atenção no dia de hoje, além de Eletrobras e de CPI. Resta saber como será amanhã, quando a competição será com o depoimento de Pazuello. Já separou a pipoca?
MAIORES ALTAS
Cielo: 4,35%
Eletrobras (ON): 3,03%
Locaweb: 2,02%
MAIORES QUEDAS
Eztec: -4,79%
Braskem: -3,65%
Minerva: -3,56%
JBS: -2,82%
SulAmérica: -2,38%
Ibovespa: +0,03%, a 122.979,96 pontos
Dólar: -0,22%, a R$ 5,25
Nova York
Dow Jones: -0,78%, a 34.060,66 pontos
S&P: -0,85%, a 4.127,84 pontos
Nasdaq: -0,56%, a 13.303,64 pontos
Petróleo
Brent: -1,08% a US$ 68,71
WTI: -1,18% a US$ 65,50
Minério de Ferro
Alta de 3,06% no porto de Qingdao, China, a US$ 224,44 por tonelada