Ibovespa ignora maior inflação em 26 anos e sobe 1,25% com commodities

IPCA desacelerou em abril, mas a inflação anual ultrapassa os 12%. Nos EUA, a alta nos preços também está mais branda, mas continua a mais alta em 40 anos.

Por Juliana Américo
Atualizado em 18 out 2024, 14h17 - Publicado em 11 Maio 2022, 17h30
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 (Brenna Oriá/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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Foram quatro pregões consecutivos de quedas. Nesses dias, o Ibovespa acumulou uma desvalorização de 5% e os investidores estavam preparados para mais um dia de perdas: o Brasil registrou a sua maior inflação para o mês de abril desde 1996. Mas o mercado deixou esse detalhe de lado e foi aproveitar a alta das commodities. 

No mês passado, o IPCA ficou em 1,06%, o que representa uma desaceleração em relação ao mês de março, quando o indicador ficou em 1,62%. Ainda assim, a inflação acumula alta anual de 12,13% – essa é a maior taxa em 12 meses desde outubro de 2003, quando registrou um acumulado de 13,98%.

O que demonstra que o Banco Central aparentemente tinha motivos para estender o ciclo de altas da taxa básica de juros, que estava previsto para acabar agora em maio. Na semana passada, o BC elevou a Selic 1 ponto percentual e a taxa passou para 12,75% ao ano. A projeção é de uma alta de 0,5 pp em junho. 

Apesar da maior inflação para o período em 26 anos, o Ibovespa subiu 1,25%, a 104.396 pontos. A alta foi apoiada pelo avanço das commodities. Depois de cair quase 10% nos últimos dois dias, o petróleo disparou (Brent 4,93%; WTI 5,96%) em meio à expectativa de queda na oferta – o Departamento de Energia dos EUA cortou a previsão de alta na produção americana neste ano de 833 milhões de barris diários para 731 milhões. 

O preço também ganhou força com os desdobramentos da Guerra na Ucrânia. A União Europeia está discutindo o embargo ao petróleo russo, mas enfrenta a resistência de Hungria e Bulgária. Além disso, a Rússia impôs sanções à Europol Gaz – uma controladora de gasoduto que liga o país a Alemanha e Polônia. Por aqui, as empresas do setor aproveitaram para acompanhar o movimento de alta do petróleo: a Petrobras e a PetroRio subiram 4,90%, seguida pela 3R Petroleum (2,40%). 

O minério de ferro também se recuperou (4,92%), depois de um começo de semana no negativo, e ajudou nos papéis das mineradoras e siderúrgicas. Destaque para a Vale e a Metalúrgica Gerdau, que subiram 3,89% e 3,80%, respectivamente.

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Ontem, o setor reagiu mal ao plano do governo de zerar os impostos de importação do aço, como uma forma de forçar uma redução de preço da indústria nacional. O que veio, no final, foi uma redução da alíquota de 10,8% para 4%.

Inflação americana

Hoje teve uma Super Quarta diferente: quem estava alinhado não eram os bancos centrais, mas sim a inflação. Os EUA também registraram desaceleração nos preços, a primeira em oito meses. O CPI (que é o IPCA deles) subiu 0,3% em abril, ante o avanço de 1,2% em março. 

Na comparação anual, a inflação americana chegou a 8,3%, pouco acima das projeção de 8,1%. Já o núcleo do CPI (que desconsidera a volatilidade dos alimentos e da energia) subiu em 0,6%, contra os 0,3% em março. No acumulado dos últimos 12 meses, foi 6,2%. 

A inflação americana continua sendo uma das mais altas dos últimos 40 anos e preocupa os investidores. A Nasdaq desabou 3,18%, aos 11.364 pontos, seguido pelo S&P 500 (-1,64%, aos 3.935 pontos). 

A expectativa é de que o Federal Reserve mantenha uma postura mais agressiva para tentar controlar a alta dos preços. Na semana passada, o banco central americano também reajustou a sua taxa de juros, com um aumento de 0,5 ponto percentual – sinalizando uma alta da mesma magnitude para junho.

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Troca no governo

Enquanto o mercado se resolvia com a inflação, Bolsonaro trocou o comando do Ministério de Minas e Energia. Bento Albuquerque foi exonerado um dia após entrar em vigor o novo preço do diesel determinado pela Petrobras. 

Na segunda, a Petro anunciou o aumento de 8,87% no preço do diesel, que não sofria reajustes há 60 dias; o último foi em 11 de março, quando o preço subiu 25%. E Bolsonaro já criticou em diversos momentos a política de preço da estatal – ele inclusive já trocou o presidente da companhia três vezes. 

Bolsonaro sabe que não pega bem trocar o presidente da Petrobras todo mês – esse já é o terceiro do seu governo. Então, ele achou um bode expiatório para tentar tirar do seu colo o desgaste político que a alta no combustível pode causar em ano eleitoral. Quem substitui Albuquerque é o economista Alfredo Sachsida, chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos do Ministério da Economia e indicação do ministro Paulo Guedes.

Buscar culpados faz sentido. Parte da base política de Bolsonaro é formada por caminhoneiros, grupo mais afetado pelo reajuste. E eles já ameaçam uma paralisação no Espírito Santo por conta do aumento. Logo, cabeças rolaram para a culpa não cair em cima do presidente. Resta saber até quando essa desculpa cola. 

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Maiores altas

PetroRio (PRIO3): 4,90%

Petrobras (PETR3): 4,90%

Bradespar (BRAP4): 4,11%

Vale (VALE3): 3,89%

Metalúrgica Gerdau (GOAU4): 3,80%

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Maiores baixas

Qualicorp (QUAL3): -12,80%

Hapvida (HAPV3): -5,97%

Locaweb (LWSA3): -5,71%

CVC (CVCB3): -5,47%

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Rede D’Or (RDOR3): -5,38%

Ibovespa: 1,25%, a 104.396 pontos

Em NY:

S&P 500: -1,64%, a 3.935 pontos

Nasdaq: -3,18%, a 11.364pontos

Dow Jones: -1,01%, a 31.834 pontos

Dólar: 0,21%, a R$ 5,1446

Petróleo

Brent: 4,93%, a US$ 107,51

WTI: 5,96%, a US$ 105,71

Minério de ferro: 4,92%, US$ 133,12 no porto de Qingdao (China)

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