Ibovespa sobe 0,71% com equipe de transição para governo Lula oficializada
Pérsio Arida, André Lara Resende, Nelson Barbosa e Guilherme Mello vão desenhar os planos para 2023. Nos EUA, Wall Street derrapa na queda de 12% do Bitcoin, mas vira o jogo.
Uma semana e dois dias após a vitória, o governo Lula 3 começa a colocar na mesa o que planeja para a economia. Geraldo Alckmin, que comanda a transição, anunciou hoje os quatro nomes que estarão à frente do tema que realmente deixa a Faria Lima a base de Rivotril. Por hoje, funcionou. O Ibovespa subiu 0,71%, a 116.160 pontos.
E o que temos por enquanto é o seguinte: Pérsio Arida e André Lara Resende, dois dos pais do Plano Real, estarão ao lado do ex-ministro petista Nelson Barbosa e de Guilherme Mello na transição econômica.
Eis a forma de colocar “em cima do muro” o processo de detox de Paulo Guedes para uma nova política econômica no país.
Vamos pelo fim: Guilherme Mello é ligado ao PT e foi uma espécie de porta-voz de Lula para temas econômicos durante a campanha. Ele é filiado à Unicamp, conhecida por formar economistas mais ligados a uma agenda de desenvolvimento econômico. O termo “desenvolvimento econômico” é de causar arrepios na Faria Lima, porque a ideia toda é que não dá para sair privatizando e liberando geral na economia. O governo tem um papel indutor no crescimento e na redução das desigualdades.
Nisso ele terá o apoio de Nelson Barbosa, que é um crítico contumaz do teto de gastos criado no governo Temer e dinamitado por Bolsonaro. Não significa que eles sejam a favor do libera geral nos gastos – porque pode, sim, gerar inflação –, mas a ideia é buscar um mecanismo que permita a promoção de investimentos.
Como contrapeso nessa balança, o governo em formação chamou Pérsio Arida, um economista ortodoxo – da turma de que é preciso responsabilidade fiscal para manter a economia estável e que o setor privado tem um papel mais importante que o público.
Vale lembrar que o real só funcionou porque houve um pacote de medidas adotadas, conhecido como tripé macroeconômico: a primeira era a redução de gastos, com a geração de superávit primário (ou seja, sobra dinheiro para pagar os juros da dívida pública), a segunda era a meta de inflação (que na prática deu ao Banco Central as ferramentas para subir e baixar juros e controlar os preços) e o câmbio flutuante (que ajusta a entrada de investimentos estrangeiros).
E vem sendo assim desde então, com mais ou menos apego ao controle de gastos públicos. O lance é que o teto de gastos foi, sim, uma medida draconiana demais e estrangulou a capacidade de funcionamento do estado. Faltou dinheiro para fraldas geriátricas e tratamento de Aids.
Daí que quase como um fiel da balança estará Lara Resende. Ele é da turma dos ortodoxos, mas tem questionado teorias econômicas dominantes – e repetidas pela Faria Lima como bula de remédio.
Para dar um pouco de emoção, Guido Mantega, conhecido como o executor de todas as medidas economicamente temerárias do governo Dilma Rousseff, também terá um cargo no time de transição – mas não na Economia.
Por sinal, Alckmin repetiu mais de uma vez que estar nessa equipe que comandará a troca de governo de Bolsonaro para Lula não significa ganhar um cargo no governo – ainda que um dos nomes cotados para a Fazenda/Economia seja de Arida, na melhor imagem e semelhança de Lula 1 e Meirelles.
Foco: o que esse pessoal fará por enquanto, diz Alckmin, é organizar as diretrizes para a próxima gestão e garantir uma troca de guarda suave.
Não à toa, uma das principais preocupações tem sido reservar dinheiro para o pagamento do Bolsa Família/Auxílio Brasil de R$ 600 em janeiro. Bolsonaro deixou o pagamento extra garantido apenas até dezembro.
Por sinal, a conversa de como “encontrar” o dinheiro para os pagamentos enquanto o teto de gastos segue valendo tem sido feita no dialeto da Faria Lima. Com acordos pré-estabelecidos.
Em resumo, se o dia terminou hoje no azul foi uma cortesia desse equilíbrio do muro que o futuro governo tem construído. Até porque, se dependesse dos EUA…
Bitcontágio
Enquanto no Brasil nós vivemos o pós-eleição, nos EUA a discussão gira em torno das midterms, as eleições de meio de mandato que renovam uma parte do parlamento. Essa votação funciona como uma chancela ao presidente de turno, o democrata Joe Biden.
Por lá, a vibe é a mesma: Wall Street tende a preferir a vitória dos conservadores, teoricamente mais engajados com a agenda econômica liberal. O dia, ainda assim, foi de sobe e desce.
Justo quando Alckmin anunciava a equipe econômica de transição, NY deu uma bambeada e chegou a virar para o negativo. Pegou todo mundo de surpresa, e analistas decidiram colocar na conta de mais um colapso cripto.
A corretora FTX chegou a ser avaliada em US$ 32 bilhões no começo do ano e tinha como investidores gente do calibre da BlackRock. Ainda assim, hoje ela pediu resgate financeiro da concorrente Binance. A crise foi desencadeada justamente pelo alerta da Binance, que pretendia deslistar a moeda da FTX, a FTT, por riscos de que investidores não pudessem mais negociar o ativo. Criou-se um sururu cujo resultado foi uma queda de 12% do Bitcoin, ao seu menor patamar desde 2020.
No fim, Wall Street respirou fundo e retomou sua trajetória de alta e ajudou no dia positivo do Ibov. Que assim sigamos. Até amanhã.
Maiores altas
CSN Mineração (CMIN3): 10,66%
Minerva (BEEF3): 4,78%
Qualicorp (QUAL3): 4,65%
Gerdau (GOAU4): 3,56%
CSN (CSNA3): 3,35%
Maiores baixas
Petz (PETZ3): -6,90%
Méliuz (CASH3): -4,69%
Ecorodovias (ECOR3): -4,52%
Yduqs (YDUQ3): -4,52%
3R Petroleum (RRRP3): -3,32%
Ibovespa: 0,71%, a 116.160 pontos
Nova York
Dow Jones: 1,02%, a 33.162 pontos
S&P 500: 0,57%, a 3.828 pontos
Nasdaq: 0,49%, a 10.616 pontos
Dólar: -0,56%, a R$ 5,1440
Petróleo
Brent: -2,61%, a US$ 95,36
WTI: -3,14%, a US$ 88,91
Minério: 2,64%, a US$ 93,68 por tonelada na bolsa de Dalian