Ibovespa sobe 1,36% e encerra sequência de quatro quedas consecutivas
Desta vez, a economia chinesa deu sinais de reação, e trouxe algum bom humor em escala global antes dos dados de inflação dos EUA.
A tinta que escreveu os 13 pregões consecutivos de queda do Ibovespa nos livros de história em agosto ainda está fresca. Não por acaso, as últimas quatro sessões de perdas tiveram um gosto mais amargo do que teriam em condições normais de temperatura e pressão.
Mas nesta segunda-feira o Ibovespa reagiu: alta de 1,36%, aos 116.883 pontos.
O vilão dos últimos tempos foi o herói desta sessão. A economia chinesa parece estar em um jogo de morde e assopra com o mercado — os estímulos feitos pelo governo para conter a crise do setor imobiliário e manter a economia girando não têm empolgado.
Mas, por hoje, os números trouxeram uma lufada de ar fresco. A China mostrou que o volume de empréstimos cresceu para US$ 188,63 bilhões em agosto, um número superior aos 345,9 bilhões de yuans (cerca de US$ 45,5 bilhões) em julho.
E a alta de 0,1% da inflação ao consumidor foi suficiente para indicar um aquecimento da economia – em julho o índice anual havia entrado em terreno deflacionário (-0,3%). Ou seja: a desaceleração da economia começava a ser sentida nos preços. E agora vem um sinal na direção contrária (pois é: inflação demais é ruim, mas deflação – permanente – é bem pior).
Além disso, o BC chinês disse que pretende tomar medidas para conter a desvalorização do yuan – a moeda chinesa perdeu 12,5% ante o dólar desde o início das altas dos juros nos EUA, em março de 2022.
Boas notícias para as nossas produtoras de commodities, principalmente as metálicas. Elas tiveram ganhos firmes hoje, acompanhando a alta de 2,41% do minério de ferro.
As bolsas em Nova York, assim como na Europa, também reagiram bem às notícias do dragão, enquanto esperam a bateria americana de dados econômicos dos próximos dias. O S&P 500 avançou 0,68%, enquanto o Nasdaq subiu 1,14%.
A inflação ao consumidor (CPI) sai na quarta-feira; a ao produtor (PPI), na quinta. Os dados dos próximos dias serão os últimos antes da decisão de juros nos Estados Unidos — que ocorre na quarta-feira da semana que vem (20), mesmo dia em que o nosso Copom deve cortar mais 0,50 ponto percentual da Selic (se o BC seguir o plano já traçado no último encontro).
Enquanto os números da inflação americana não entram na equação de forma mais concreta, o crescimento nas projeções de pausa na elevação dos juros por parte do Fomc (o Copom dos EUA) levaram a melhor hoje.
Segundo o CME Group, que mede as apostas dos investidores para a próxima decisão de juros, 93% dos consultados esperam a manutenção da taxa de 5,50% na próxima reunião — alta de 1 ponto percentual frente ao visto na última sexta-feira. A projeção de estabilidade para os encontros de novembro e dezembro também seguem crescendo.
O cenário traz alívio para a curva de juros brasileira. Caso a taxa básica americana se mantenha em um patamar mais baixo do que o atualmente precificado pelo mercado, a Selic tende a seguir pelo mesmo caminho.
Com os juros futuros em queda por aqui e fluxo de capital em direção às commodities, o dólar à vista teve um dia de alívio, com queda de 1,04%, a R$ 4,93. Além disso, as apostas em um piso mais baixo para a nossa taxa básica favoreceu as empresas mais sensíveis à concessão de crédito. Dessa forma, o setor de construção civil subiu em bloco: EZTC3 (6,08%) ficou com a maior alta do dia, enquanto CYRE3 subiu 3,34%%.
Na ponta contrária do Ibovespa, a Braskem (-3,19%) ficou com o pior desempenho desta segunda após a XP mostrar dúvidas com relação ao potencial de uma eventual transação de venda da companhia — uma novela que já dura cinco anos.
PCAR3 (5,23%)
O Pão de Açúcar continua numa odisseia particular para simplificar sua confusa estrutura societária. Depois da conclusão bem sucedida da aguardada cisão dos ativos da varejista colombiana Éxito, agora a empresa deve se desfazer de sua fatia de 34% na CNova, braço de e-commerce do Grupo Casino — também controlador do GPA.
Num comunicado divulgado na sexta (8), a companhia brasileira anunciou que abriu negociações para a venda da sua parte na empresa de comércio eletrônico. Isso animou o mercado, que vê o valor da Cnova de fora da conta dos investidores na hora de atribuir valor ao Pão de Açúcar. O GPA segue em busca de reduzir o seu alto endividamento — uma das maiores pedras no sapato da atual gestão — e a venda dos ativos será benéfica ao caixa. Assim, o dia foi de alta para PCAR3: 5,23%.
Essa, no entanto, não é a primeira vez que uma eventual transação do tipo agita os corredores do mercado. Em 2021, o Casino já havia dado sinal verde para a venda da Cnova em um eventual aumento de capital, que acabou não se concretizando.
SBSP3 (2,29%)
As expectativas pela privatização da Sabesp voltaram a embalar as ações da empresa paulista de saneamento nesta segunda. E o resultado foi uma alta de 2,29%, outro destaque na ponta positiva do índice.
A pauta é aguardada desde a campanha eleitoral do governador Tarcísio de Freitas — com os papéis acumulando ganhos de 10% em 2023. Mas, desta vez, os sinais de que o caminho da privatização está mais próximo vieram do diretor-presidente da companhia, André Salcedo.
Em entrevista à Folha, o executivo disse que o processo deve ocorrer até o primeiro semestre de 2024. Salcedo também aproveitou para destacar os ganhos operacionais que a Sabesp espera da privatização — como aumento dos investimentos para cumprir as metas do marco do saneamento e menores tarifas para a população. A ver quanta água resta passar por debaixo dessa ponte.
Até amanhã.
MAIORES ALTAS
Eztec (EZTC3): 6,08%
GPA (PCAR3): 5,23%
CSN Mineração (CMIN3): 4,28%
Rede D’Or (RDOR3): 3,58%
Cyrella (CYRE3): 3,34%
MAIORES BAIXAS
Braskem (BRKM5): -3,19%
Petz (PETZ3): -1,95%
Minerva (BEEF3): 1,61%
BRF (BRFS3): 1,58%
Marfrig (MRFG3): -1,45%
Ibovespa: 1,36%, aos 116.883 pontos
Em Nova York
S&P 500: 0,68%, aos 4.487 pontos
Nasdaq: 1,14%. aos 13.917 pontos
Dow Jones: 0,26%, aos 34.664 pontos
Dólar: 1,04%, a R$ 4,93
Petróleo
Brent: -0,01%, a US$ 90,64
WTI: -0,25%, a US$ 87,29
Minério de ferro: 2,41%, a US$ 115,93 por tonelada em Dalian