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Ibovespa tenta engrenar, mas governo não deixa

Notícia de que Bolsonaro pretende subsidiar diesel e gás de cozinha aumentando tributos sobre os bancos detona o setor, e impede a B3 de seguir a alta nos EUA.

Por Juliana Américo, Alexandre Versignassi
Atualizado em 18 out 2024, 09h34 - Publicado em 1 mar 2021, 20h12
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 (Laís Zanocco/VOCÊ S/A)
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Hoje a bolsa ganhou uma novata de peso. A rede de atacarejo Assaí estreou em grande estilo na B3. 

No final de dezembro, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) e a sua subsidiária Sendas – que é quem controla o Assaí – aprovaram uma proposta de cisão. Esse é um processo de reorganização societária e, no caso do Assaí, foi feito para aumentar suas oportunidades de negócios, e “destravar valor” da subsidiária (ou seja: permitir que investimentos nela fiquem nela mesmo, em vez de diluir-se pelo GPA). Parece que deu certo, porque os papéis fecharam com alta de 386% em relação ao preço inicial proposto no leilão de abertura. 

Por outro lado, as ações do GPA desabaram -65,92%. Mas calma, porque isso não significa que a empresa esteja quebrada. É parte do jogo. O que acontece é que antes da cisão, a PCAR3 era uma soma das duas empresas. Agora, ela não conta mais com a subsidiária. Representa uma companhia menor. Mas tudo certo: os acionistas do Pão de Açúcar receberam ações do Assaí como parte do acordo de divórcio. 

Quem era dono de uma PCAR3 passou nesta segunda-feira a contar também com uma ação ASAI3. Então a queda no valor foi natural, e completamente compensada pela alta da ASAI3 (logo, a queda de PCAR3 não aparece na lista de Maiores Baixas no final desta página).

Ela só não aparece como a maior alta do Ibovespa porque o Assaí não faz parte do índice – sempre vale lembrar, o Ibovespa marca a flutuação de 79 empresas. Já a B3 como um todo tem mais de 400 companhias listadas, e agora a Assaí é mais uma delas.   

Outras ações que se destacaram hoje foram as da Hapvida e da NotreDame Intermédica. Durante o fim de semana, as duas operadoras de planos de saúde concluíram o seu acordo de fusão. 

A operação prevê a incorporação das ações da NotreDame pela Hapvida. Com isso, a empresa combinada terá 13,6 milhões de usuários de planos de saúde e dental, e será a maior operadora da área no país. Mais do que isso, até. Com receita de R$ 18,2 bilhões e valor de mercado de R$ 110,5 bilhões, a união se torna a décima primeira empresa mais valiosa da B3.

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A fusão ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mas já animou os investidores. Os papéis das companhias dispararam: a Hapvida subiu 5,29%, enquanto a NotreDame valorizou 3,41%. 

Em NY

Os indicadores americanos voltaram a subir depois da alta volatilidade da semana passada. Uma liquidação de ações de tecnologia fez com que o Nasdaq caísse 4,9% no período, em seu pior desempenho semanal desde outubro de 2020.

O movimento de alta ainda coincidiu com a estabilização da curva de rendimento do Tesouro americano. Na semana passada, os yields para os títulos de longo prazo, com vencimento em 10 anos, atingiram a maior alta desde o pré-pandemia – 1,61%. 

A “Selic” dos EUA segue perto de zero – justamente para evitar que as pessoas deixem o dinheiro parado na renda fixa deles, e a grana circule pela economia (combatendo a recessão da pandemia). Mas essa taxa só rege os títulos de curto prazo, com vencimento em até um ano. Quando o governo aumenta os juros dos títulos de longo prazo, é porque precisa de dinheiro para rolar suas dívidas (acontece a mesma coisa no Brasil). 

Isso em si não é um problema. O ruim é que, quando os juros dos títulos públicos sobem, os investidores tendem a tirar dinheiro da bolsa e colocar neles. Simplesmente porque se trata da aplicação mais segura do mundo: ter uma poupança em dólar e receber juros por ela. 

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Uma alta nos títulos de longo prazo, então, acaba criando um certo pânico. Alguns investidores temem que outros investidores vão fugir da bolsa, criando uma baixa. Então buscam se antecipar ao movimento, e acabam eles mesmos criando a baixa. Foi isso que fez a Nasdaq cair feio na semana passada. 

Mas o movimento de alta deu uma arrefecida. Agora, o rendimento dos títulos públicos americanos com vencimento em dez anos voltou a apresentar um rendimento abaixo de 1,45%. Bom para as empresas com ações em bolsa, já que os papéis delas acabam sofrendo menos com a concorrência dos títulos. 

O mercado também está confiante com a aprovação do pacote de US$ 1,9 trilhão para conter os impactos econômicos do coronavírus. A generosa proposta passou na câmara de deputados dos EUA – agora segue para o Senado. 

Para ajudar ainda mais, a vacina da Johnson & Johnson foi aprovada nos EUA e o país vai receber 100 milhões de doses até o final de junho. O imunizante de dose única tem uma taxa de eficácia de 66% e promete impulsionar a luta contra a Covid-19. Isso porque ela pode ser armazenada em uma geladeira em vez de um freezer, que é o caso das vacinas da Pfizer e Moderna.

Com isso, Nasdaq fechou em alta de 3,01%, a 13.588 pontos; e S&P 500 subiu 2,38%, a 3.901 pontos. 

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Por aqui: mais impostos

Por aqui, a bolsa brasileira fechou em alta de 0,27%, a 110.334 pontos. Ao longo do dia, os ganhos eram maiores e o índice chegou a ultrapassar os 112 mil pontos, seguindo de perto NY. Mas o Ibovepa acabou perdendo força já no final do pregão, logo depois de o governo afirmar que pretende aumentar os impostos sobre bancos para zerar tributos em diesel e gás de cozinha. 

O imposto no caso é a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, mais conhecida como CSLL. Ele é usado para financiar a Seguridade Social (ou seja, a aposentadoria e assistência social) e a maioria dos setores paga uma alíquota de 9%. O valor maior acaba sobrando para os bancos: 20% (outras instituições financeiras pagam 15%). Para conseguir bancar a isenção, o governo planeja editar uma MP aumentando a alíquota para 23%. As informações são do jornal O Globo.

Jair Bolsonaro tinha prometido a isenção ao gás e ao diesel há duas semanas, em uma de suas lives de quinta-feira. No mesmo dia, ele reagiu negativamente ao aumento dos combustíveis – o que resultou na troca de Roberto Castello Branco da Petrobras. 

É claro que o mercado não gostou. As ações de bancos passaram a cair na B3 e encerraram todas em baixa: Bradesco (-3,30%), Itaú (-2,98%), Santander (-1,18%), Banco do Brasil (-0,68%) e BTG (-0,17%). 

A atenção dos investidores também está voltada para a votação da PEC Emergencial  e continuidade do auxílio emergencial, que deve acontecer esta semana. A expectativa é que o auxílio seja de R$ 250 por quatro meses. 

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Os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco,  se comprometeram com Paulo Guedes de não liberar o auxílio emergencial sem contrapartidas fiscais (ou seja, sem aumentos de impostos ou contenção de outros gastos). E o aumento da CSLL sinaliza de onde deve vir o dinheiro. 

Nota: a CSLL já é um imposto obtuso. Seria mais lógico taxar os dividendos que as empresas pagam, não o lucro em si. Já que ao taxar o lucro você tira o poder que as companhias têm de reinvestir em seu negócio – o que poderia criar mais empregos, por exemplo. 

Não que isso impedisse quedas de ações, já que mexer em dividendos certamente derrubaria o humor do mercado, mas ao menos seria mais proveitoso para a economia. Só que é isso. Em vez de uma reforma nessa direção, o que temos para hoje é o reforço de um imposto acéfalo.  

Maiores altas

Petro Rio: 5,53%

Hapvida: 5,29%

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Klabin: 4,38%

Vale: 4,28%

JBS: 3,91%

Maiores baixas

Cielo: -5,56%

Yduqs: -4,61%

Hypera: -4,06%

Sabesp: -3,72%

Cemig: -3,60%

Dólar: -0,09%, cotado a R$ 5,60

Petróleo

Brent (referência internacional): -1,13%, cotado a US$ 63,69 o barril

WTI (referência nos EUA): -1,40%, cotado a US$ 60,64 o barril

Minério de ferro: -0,70%, cotado a US$ 174,55 por tonelada em Qingdao (China)

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