Ibovespa tomba 0,68%, mesmo com o bom IPCA-15
Deflação de 0,37% na primeira quinzena de setembro tira ainda mais pressão dos juros futuros, mas não segura o índice: terceira queda seguida na cola do exterior.
O IPCA-15 bem que tentou, mas NY não ajudou. O S&P 500 caiu mais 0,20% e fechou com a pior pontuação de 2022 (3.647). O recorde negativo anterior tinha sido de 3.666, em 16 de junho. Com isso, o índice mais importante dos EUA soma uma senhora queda de 19,22% no ano.
No geral de 2022, o Ibovespa ainda resiste em leve alta, de 3,39%. Mas talvez não por muito tempo. A queda de 0,68% hoje já é a terceira seguida. Na quinta, data da última alta, o Ibov tinha fechado em 114.070 pontos. Agora, são 108.376. De sexta para cá, o tombo já soma 4,99%. Uma bica para tão pouco tempo.
Quem colocou mais gasolina na fogueira da renda variável global nesta terça foi um dos diretores do Fed, Charles Evans. Ele disse num fórum em Londres que espera juros de 4,75% nos próximos meses – ante os atuais 3,25%. No início do mês, ele tinha dito que esperava 4,00% como o pico da taxa do BC americano – o que dá uma ideia da tensão do banco central americano.
Esperar uma alta nas bolsas depois de um aceno desses seria no mínimo um excesso de otimismo.
No nosso microcosmo macroeconômico o noticiário é mais positivo. Vamos a ele.
Deflação em setembro
O IPCA-15, que mede a inflação das primeiras duas semanas do mês e serve como uma prévia do IPCA para valer, veio abaixo do esperado: -0,37%, contra uma expectativa de -0,20%. Com isso, o Banco Central ganha um novo estímulo para não impor altas adicionais à Selic, e terminar de uma vez com o ciclo atual de alta.
O setor Transportes, mais influenciado pelas baixas seguidas no diesel e na gasolina, puxou de novo a baixa, apresentando uma deflação de 2,35%. Mas não foi aquele cujos preços mais caíram. Essa honra ficou com o setor Comunicação (no qual pesam mais as tarifas de celular). A queda aí foi de 2,74% – em agosto, a baixa tinha sido de 0,30%.
A maior surpresa veio de Alimentação e Bebidas. No IPCA-15 de agosto, que na média geral tinha registrado -0,73%, esse setor ainda seguia em inflação forte, acima de 1%. Agora, em setembro, a chave virou: -0,47%.
Educação se manteve no terreno positivo, mas desacelerou: 0,12% em setembro X 0,61% em agosto.
Mas estamos diante de um copo com um grande lado meio vazio. Os outros cinco itens que o IBGE mede apresentaram uma inflação mais acelerada em setembro, na comparação com agosto – o que acende a sirene lá no BC.
Vejamos aqui a variação de todos os setores na primeira quinzena de setembro, versus a de agosto.
Inflação acelerada:
- Vestuário: 1,66%. Em agosto, 0,76%
- Saúde e Cuidados pessoais: 0,94%. Em agosto, 0,81%
- Despesas pessoais*: 0,83%. Em agosto, 0,81%
- Habitação: 0,47%. Em agosto, -0,37%
- Artigos de residência: 0,24%. Em agosto, 0,08%.
*em “Despesas Pessoais” entra uma maçaroca de itens, de manicure a ração.
Inflação desacelerada:
- Educação: 0,12%. Em agosto, 0,61%
Deflação:
- Comunicação: -2,74%. Em agosto, -0,30%
- Transportes: -2,35%. Em agosto, -5,24
- Alimentação e bebidas: -0,47%. Em agosto, 1,12%
Média: -0,37%. Em agosto, -0,73%
No cômputo geral, as melhores notícias foram as seguintes:
1) núcleo da inflação, que exclui os preços mais voláteis (combustíveis, energia elétrica e alimentos) desacelerou. Ele vinha de uma alta de 0,56% em agosto. Agora ela foi de 0,47%.
2) O “índice de difusão” das altas também recuou. Ele mede o quanto as altas estão disseminadas por diferentes produtos e serviços. Quanto maior a difusão, pior: significa que a inflação está subindo por inércia, independentemente de variáveis pontuais, como a diminuição da oferta de um ou outro item. Bom, em agosto, as altas estavam presentes em 65,12% dos itens que o IBGE pesquisa. Agora, essa proporção diminuiu para 59,95%.
O Boletim Focus mais recente, apurado na última sexta, já apontava para uma queda na expectativa do mercado para a inflação do final do ano. Há um mês, ela estava em 6,70%. Agora, está em 5,88%. Como a apuração foi feita antes do IPCA-15, e ele veio mais baixo que o esperado, é extremamente provável que esse número baixe no próximo Focus.
Até amanhã.
Maiores altas
Gerdau (GGBR4): 2,59%
Suzano (SUZB3): 2,52%
BTG (BPAC3): 2,30%
Cielo (CIEL3): 2,13%
Ambev (ABEV3): 1,38%
Maiores baixas
Positivo (POSI3): -4,58%
IRB Brasil (IRBR3): -4,50%
Méliuz (CASH3): -4,31%
Dexco (DXCO3): -4,30%
Qualicorp (QUAL3): -4,14%
Ibovespa: – 0,68%, a 108.376 pontos
Em NY:
S&P 500: – 0,20%, a 3.647 pontos
Nasdaq: 0,25%, a 10.829 pontos
Dow Jones: – 0,42%, a 29.137 pontos
Dólar: 0,09%, a R$ 5,37
Petróleo
Brent: 2,43%, a US$ 84,87
WTI: 2,33%, a US$ 78,50
Minério de ferro: 1,13%, a US$ 100,20 a tonelada na bolsa de Dalian