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Ibovespa tomba 1,02%, mas volta a fechar uma semana no azul

O discurso de Powell em Jackson Hole trouxe poucas novidades, mas ajudou a pressionar a bolsa brasileira

Por Jasmine Olga
25 ago 2023, 17h56
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 (Kauan Machado/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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Tão aguardado quanto a estreia do filme da Barbie! É assim que podemos descrever a ansiedade do mercado financeiro pelo simpósio de Jackson Hole, considerado a Meca dos banqueiros centrais de todo o mundo. 

Como não podia deixar de ser, o evento concentrou as atenções de todos os investidores globais nesta sexta-feira, dia do discurso mais esperado, o de Jerome Powell. O chefe do Fed tem poderes para colocar (ou tirar) a pressão de qualquer mercado do planeta. Por aqui, a bolsa sentiu a pressão e acabou o dia em queda de 1,02%, em um dia de volume de negócios 27% abaixo da média de 2023. 

Não foi só Powell, claro. O IPCA-15 de agosto veio acima do esperado, em 0,28%, e ajudou a afundar a bolsa. (leia mais abaixo)

Voltando a Jackson Hole: as falas de Powell não foram exatamente uma novidade, mas vieram duras (ou hawkish no jargão financeiro). Ele apontou que a economia não está desacelerando da maneira como se esperava e que é preciso sinais mais claros de um enfraquecimento no mercado de trabalho. Caso esse cenário se mantenha, disse ele, os juros permanecerão em caráter restritivo — ou seja, em um nível capaz de colocar um freio na atividade econômica — por mais tempo. Sem isso, o Fed considera, não há como a inflação americana, hoje em 3,2% a.a., voltar à meta, de 2%. 

Em Nova York, a reação dos investidores foi bem mais branda do que vimos na B3, mas é porque boa parte dos investidores temiam pelo pior. Foi um claro exemplo do velho ditado do mercado financeiro — cai no boato, sobe no fato (e vice-versa). 

Ontem, o medo era de que Powell pudesse passar uma mensagem ainda mais dura, com mais certezas e menos “e ses”. O resultado na quinta foram quedas de mais de 1% para a Nasdaq e para o S&P 500. Já hoje, a ausência de novidades e o alinhamento do discurso com o que já vinha sendo divulgado pelo BC americano abriu espaço para um ajuste positivo por parte dos mais pessimistas. 

Nova York chegou a cruzar para o campo negativo logo após a fala de Powell, ensaiando estender as perdas da véspera, mas, no fim, o dia foi de ganhos: 0,94% para o Nasdaq e 0,67% para o S&P 500, recuperando em parte as perdas da quinta. 

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A sinalização de Powell de que a economia dos Estados Unidos está crescendo acima das projeções de longo prazo chegou a pressionar o dólar ao longo do dia, mas, assim como aconteceu em Wall Street, prevaleceu a percepção de falta de novidades. A moeda americana encerrou o dia em leve queda de 0,09%, a R$ 4,87. Na semana, o recuo foi de 1,9%. 

Mas isso não significa que as palavras não reverberaram de forma cautelosa em outros cantos do mercado.

O CME Group, que mede a temperatura do mercado para as próximas reuniões do Fomc (o Copom do BC americano) segue indicando que as apostas de manutenção dos juros em 5,5% no encontro de setembro são predominantes — em 80,5%, mas elas eram 81% ontem. Quando olhamos mais para o futuro, as palavras de Powell provocaram mudanças maiores. 

Para o Fomc de dezembro, 49,9% das projeções apontam uma alta de 0,25 ponto percentual — contra 42,2% no dia anterior. O percentual de estimativas de uma continuidade na pausa na elevação de juros também caiu — foi de 50,6% na quinta-feira para 40,4% nesta sexta. A ferramenta também mostra que o mercado agora também postergou o cenário de queda de juros em um mês, de maio de 2024 para junho. 

Essa mudança na projeção do mercado foi sentida também na curva de juros, com os rendimentos (yield) dos títulos de dívida pública do Tesouro americano aumentando a taxa de retorno para quem segurar o ativo até o vencimento. 

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Apesar de pouca coisa mudar com relação aos planos futuros do Banco Central, a nossa curva de juros também sentiu o baque, já que taxas mais altas nos Estados Unidos acabam elevando o eventual piso da Selic — favorecendo a retirada de capital (local ou estrangeiro), da bolsa brasileira. Os DIs futuros subiram com força, jogando para cima os juros dos títulos prefixados e de inflação. O Tesouro IPCA+ 2035 viu a sua taxa de retorno subir de 5,25% para 5,29%. 

Sobe o juro, cai o saldo de quem tem o título na carteira: -0,40% hoje no IPCA+2035, somando-se aos -0,30% de ontem. 

O copo meio cheio do IPCA-15

A curva de juros brasileira não sentiu pressão apenas de um lado. O resultado do IPCA-15, uma espécie de prévia da inflação oficial, também acabou contribuindo — acelerando a queda do Ibovespa.

O indicador de preços avançou 0,28% em agosto, acima das estimativas dos economistas ouvidos pelo Broadcast, que falavam em +0,16%, após o -0,07% registrado em julho. Isso foi um balde de água fria em quem espera por uma queda mais forte na Selic, além dos 0,50 pp por reunião já cantados. E fez a curva de juros futuros subir antes mesmo da fala de Powell, colaborando, no fim das contas, para o tombo do Ibovespa.   

Mas todo copo tem seu lado meio cheio. O IPCA-15 não foi de todo ruim. Lendo nas entrelinhas, a principal mensagem positiva veio da do setor de serviços, que desacelerou para 0,13% depois de ter registrado uma alta de 0,36% em julho. 

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Outro número que agradou foi o dos preços livres — aqueles que não dependem de controle de órgãos reguladores ou governo — eles mostraram um leve avanço de 0,03% no mês. Esse é um dado importante para o BC, uma vez que esse grupo é diretamente afetado pela política monetária. 

Em outras palavras: o número acima do esperado parece, ao menos, não comprometer a continuidade do plano de voo já indicado pelo Banco Central — três cortes de 0,50 p.p nas reuniões restantes no ano, podendo levar a Selic a 11,75%. 

Nos últimos cinco pregões, vale registrar, o Ibovespa acumulou alta de 0,37%, encerrando a sequência de quatro semanas consecutivas no vermelho. 

Esse mês de agosto, que tem sido sangrento, ainda nos reserva quatro sessões pela frente. Boa sorte para todos nós.

E bom fim de semana também! 

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MAIORES ALTAS

São Martinho (SMTO3): 4,02%

SLC Agrícola (SLCE3): 1,89%

Raízen (RAIZ4): 1,61%

Suzano (SUZB3): 1,11%

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Weg (WEGE3): 1,06%

MAIORES BAIXAS

GPA (PCAR3): -7,23%

CVC (CVCB3): – 6,58%

MRV (MRVE3): -5,58%

Locaweb (LWSA3): -5,29%

Arezzo (ARZZ3): -4,34%

Ibovespa: 1,02%, aos 115.837,20 pontos. Na semana, a alta foi de 0,37%

Em Nova York:

S&P 500: 0,67%, aos 4.405 pontos

Nasdaq: 0,94%, aos 13.590 pontos

Dow Jones: 0,73%, aos 34.346 pontos

Dólar: -0,09%, a R$ 4,87. Na semana, -1,86%

Petróleo

Brent: 1,24%, a US$ 83,95. Na semana, -0,49%

WTI: 0,98%, a US$79,83. Na semana, -1,03%

Minério de ferro: 1,97%, a US$ 113,83 por tonelada em Dalian 

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