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Ibovespa vive a maior sequência de quedas em 39 anos

Crise imobiliária na China derruba VALE3 e faz o índice cravar um recorde negativo que não era visto desde 1984.

Por Jasmine Olga
Atualizado em 16 ago 2023, 09h25 - Publicado em 14 ago 2023, 18h21
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 (Kauan Machado/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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A última vez em que o Ibovespa amargou dez quedas consecutivas, Champagne, com Irene Ravache e Antônio Fagundes, era a novela das nove (na época, “novela das oito”, pois começava mais cedo); Ayrton Senna se preparava para estrear na Fórmula-1; o general João Figueiredo era mandatário que aparecia na Semana do Presidente, do Silvio Santos; e as pessoas achavam bonito usar gel com purpurina. Era o início de 1984 (janeiro/fevereiro).   

Se nos últimos dias fatores locais pesaram no desempenho do Ibov, hoje a culpa pela queda (de 1,06%) fica com os ventos trazidos da China, onde uma nova crise imobiliária ameaça a segunda maior economia do mundo e pode iniciar um efeito dominó ao redor do mundo. 

Não é a primeira vez que o fantasma de um quebra-quebra generalizado no setor de construção da China aparece para assombrar os investidores — no ano passado, a incorporadora Evergrande deu um susto no planeta ao quase falir, antes de ser socorrida pelo governo local. E agora a vilã é outra. 

A Country Garden não pagou os cupons de juros referentes a parte de suas debêntures na semana passada. Agora a companhia (uma das 500 maiores do mundo) corre contra o tempo para estender o prazo para o pagamento de US$ 57 bilhões em dívidas. 

Isso levou a uma suspensão da negociação de 11 de seus títulos nas bolsas de Xangai e Shenzhen, e a um temor de efeito cascata. A primeira vítima sendo a Zhongzhi Enterprise, uma gestora que com cerca de US$ 140 bilhões sob gestão e grande exposição ao setor. 

Os desafios do mercado imobiliário chinês são o reflexo de um desastre anunciado. Os problemas do setor começaram a nascer ainda nos anos 1990. 75% da população chinesa vivia no campo. E governo decidiu patrocinar a urbanização do país levantando prédios, via generosos empréstimos para incorporadoras. 

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Funcionou. Hoje, 64% dos chineses vivem em cidades. Mas a balança entre oferta e demanda se desequilibrou. Com menos gente buscando imóveis, o lucro das empreiteiras caiu, e as dívidas foram crescendo. Em 2020, Pequim percebeu que a conta não fechava e, além de impor um limite aos débitos do setor, também fechou a torneira de crédito. De herança dos tempos de ouro, restou o superendividamento e a baixa demanda por novos imóveis. 

O setor imobiliário representa ¼ do PIB chinês, e também é fundamental para a Vale (VALE3) e as outras companhias nacionais do setor de mineração/siderurgia – dado o tanto de aço que a construção chinesa tem consumido nas últimas décadas. VALE3, que sozinha representa 12,5% da carteira do Ibovespa, tombou 3,10%.

China à parte, rolou uma surpresa positiva com a divulgação do IBC-Br, o indicador de atividade que é considerado a “prévia do PIB do Banco Cental”. A alta em junho foi de 0,63%, pouco abaixo da mediana das expectativas, que era de 0,65%, mas revertendo a queda de 2,05% vista em maio. Para a XP, o resultado reforça as projeções de alta para o PIB na próxima leitura. 

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EM NOVA YORK

Apesar da crise imobiliária chinesa preocupar todo o ecossistema econômico global, as bolsas em Wall Street conseguiram escapar da onda vermelha que atingiu os mercados asiáticos durante a madrugada, ainda que o fôlego tenha sido limitado. 

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Os principais índices operaram mistos ao longo do dia, mas conseguiram encerrar a sessão no azul. A alta mais expressiva foi do Nasdaq (1,05%), puxado pelo rali das ações de 7% das ações da Nvidia — mais um episódio do grande interesse do mercado no futuro de projetos de inteligência artificial. O índice de tecnologia foi seguido do S&P 500 (0,58%) e da alta tímida do Dow Jones (0,07%).

Agora o mercado aguarda a ata da última reunião do Fomc (o Copom deles) – sempre importante para balizar as expectativas para eventuais novas elevações na taxa básica de juros. Ela vem na quarta 

Yduqs: – 14,17%

Depois de acelerar 8% na sexta e 130% no ano, as ações da Yduqs parecem ter encontrado óleo na pista. Os papéis derraparam feio nesta segunda: – 14,17%. 

Dois fatores ajudam a explicar o movimento do dia. O primeiro é técnico: a companhia vem de uma alta expressiva, principalmente após a divulgação do balanço do segundo trimestre feito na semana passada. Ou seja: uma realização de lucros é normal e esperada. 

Mas há mais caroço nesse angu. A Yduqs, que vem investindo pesado na abertura de novos cursos de medicina nos últimos anos, pode ser uma das empresas afetadas pela nova decisão de Gilmar Mendes. 

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Segundo o ministro do STF, a abertura de novas turmas médicas deverá seguir as regras do programa Mais Médicos, limitando a ampliação indiscriminada de vagas — a prioridade é a criação de cursos em cidades com déficit de profissionais da saúde. 

O Ministério da Educação (MEC) ainda não sabe quantos cursos podem ser afetados e como a nova regra será cumprida, mas essa é uma nova incerteza que entra no radar dos investidores das educacionais. 

Em tempo: a sequência de baixas lá de 1984 não ficou em dez dias seguidos. Foi até 11. Se tudo fer errado amanhã, o Ibov iguala o recorde. Durmamos com isso.  

MAIORES ALTAS

Alpargatas (ALPA4): 1,71%

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Suzano (SUZB3): 1,47%

CPFL (CPFE3): 1,19%

Totvs (TOTS3): 0,95%

BTG Pactual (BPAC11): 0,93%

MAIORES BAIXA

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Yduqs (YDUQ3): -14,17%

Petz (PETZ3): -7,06%

Cogna (COGN3): -6,71%

Via (VIIA3): -6,49%

Lojas Renner (LREN3): -5,40%

Ibovespa:  -1,06%, aos 116.809 pontos

Em Nova York

S&P 500: 0,58%, a 4.490 pontos

Nasdaq: 1,05%, a 13.788 pontos

Dow Jones: 0,07%, a 35.307 pontos

Dólar:  1,25%, a R$ 4,96

Petróleo

Brent: -0,69%, a US$ 86,21

WTI: -0,80, a US$ 82,51

Minério de ferro: -0,41%, a US$ 99,91 em Dalian (China).

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