Inflação americana e mais guerra entre BC e governo derrubam Ibovespa: -0,91%
Aumento dos preços se mostra resistente nos EUA; por aqui, Campos Neto tenta levantar bandeira branca, mas a novela está longe de acabar.
O dia começou com tentativa de bandeira branca: Roberto Campos Neto tentou buscar a paz entre o Banco Central e o novo governo ontem em sua entrevista no Roda Viva, e reafirmou sua postura em evento do BTG nesta terça-feira. As bolsas até ensaiaram um tom otimista com o clima um pouco mais ameno – mas, no fim, o pregão não foi de trégua.
Lula em si não chegou a falar novamente sobre a novela dos juros, mas a notícia que mais chacoalhou os ânimos foi a de que o presidente iria sim insistir nessa batalha: segundo fontes ouvidas pelo Broadcast, o petista buscaria uma elevação de 1 ponto percentual da meta de inflação (atualmente em 3,25%) e queria ver Selic nos 12% até o fim do ano (dos 13,75% hoje).
O dólar foi às máximas e os juros dispararam com a divulgação da informação, no meio da tarde. Foi quase no fim do pregão que uma outra nota, dessa vez da Bloomberg, acalmou um pouco os ânimos: a notícia de que Lula não teria batido o martelo ainda sobre a meta de inflação e de que não havia ordenado a tal alta de 1 p.p em 2023. Os juros futuros aliviaram, mas o dólar já tinha fechado em alta.
Mesmo assim, a guerra não dá sinais de acabar. O PT aprovou ontem uma resolução que apoia a convocação de Campos Neto ao Congresso Nacional para explicar a política de juros. Vários políticos do partido, incluindo ministros, seguem atacando o patamar atual da taxa. Hoje foi a vez da própria Gleisi Hoffmann, presidente da sigla: “A meta de inflação é inexequível: 3,25%, 3%, nenhum país do mundo tem inflação dessa”. A deputada, porém, disse que o partido ainda não debateu qual deve ser a nova meta nem se há consenso entre todos os integrantes do governo para mudá-la.
Nos últimos minutos do pregão, o ministro Haddad também confirmou que a meta de inflação não está na pauta da reunião do Conselho Monetário Nacional, nesta quinta-feira. O colegiado reúne os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e o próprio Roberto Campos Neto. O temor do mercado era que o governo forçasse uma revisão da meta já neste encontro, o que não deve acontecer.
Mesmo assim, a mensagem que o mercado absorve é de que a guerra está longe de acabar. E não há nada de otimista num cenário em que o banco central e o governo vivem em pé de guerra. O Ibovespa fechou em queda de 0,91%, aos 107.848 pontos. O dólar avançou 0,42%, a R$ 5,1984.
Inflação americana
Não foram só as pautas brasileiras que concentraram as atenções do mercado nesta terça-feira. O CPI, índice de preços ao consumidor dos EUA, foi divulgado hoje seguindo grandes expectativas. O viés otimista parecia dominar o mercado nos últimos dias quando o assunto era inflação, já que o próprio Powell, presidente do Fed, afirmou que a desinflação ganhou gás nos EUA.
Os novos dados poderiam confirmar essa visão – ou jogar tudo por água baixo, mostrando que o aumento dos preços segue resistente. No fim, o resultado foi um pouco dos dois.
O CPI subiu 0,5% em janeiro ante a dezembro, exatamente o número esperado pelas previsões. O problema é que, na comparação anual, a inflação ficou em 6,4% – acima dos 6,2% previstos pelos analistas.
Copo meio cheio ou copo meio vazio? Nem os investidores souberam responder. As bolsas americanas tiveram um dia de pregão bastante instável, e até no fechamento não houve consenso. O Dow caiu (-0,46%), o S&P 500 ficou estável (-0,03%) e o Nasdaq subiu (0,57%).
Aparentemente, Wall Street vai entrar no modo indecisão até que Powell resolva voltar a dar as caras. A ver.
Até amanhã.
Maiores altas
Carrefour (CRFB3): 2,92%
Banco do Brasil (BBAS3): 2,34%
Sabesp (SBSP3): 1,87%
Tim (TIMS3): 1,56%
Embraer (EMBR3): 1,50%
Maiores baixas
Méliuz (CASH3): -7,45%
Raízen (RAIZ4): -7,45%
CVC Brasil (CVCB3): -6,72%
BRF (BRFS3): -6,51%
Yduqs (YDUQ3): -6,41%
Ibovespa: -0,91%, aos 107.848 pontos
Em Nova York
S&P 500: -0,03%, aos 4.136 pontos
Nasdaq: 0,57%, aos 11.960 pontos
Dow Jones: -0,46%, aos 34.089 pontos
Dólar: 0,42%, a R$ 5,1984
Petróleo
Brent: -1,19%, a US$ 85,58
WTI: -1,35%, a US$ 79,06
Minério de ferro: 0,41%, negociado a US$ 125,72 por tonelada na bolsa de Dalian (China)