Inflação americana vai a 8,5% e derruba bolsas
É o maior patamar para o dado desde 1981. Há quem aposte, porém, que o aumento de preços chegou em seu pico por lá.
As bolsas mundo afora bem que tentaram, mas não conseguiram resistir ao mau-humor trazido pela inflação americana nesta terça-feira. O dado era esperado ansiosamente pelo mercado e já havia derrubado as bolsas ontem, quando o pessimismo tomou conta. Hoje, porém, depois da divulgação do número, até parecia que o bom-humor reinaria.
O CPI americano – índice que mede aumento dos preços ao consumidor, como o nosso IPCA – subiu 1,2% em março, ante ao consenso de 1,1% esperado pelo mercado. Na comparação anual, o número ficou em 8,5%, acima das expectativas de 8,4%. É a maior inflação americana desde 1981 (a inflação medida em fevereiro, de 7,9%, era a maior desde 1982).
A reação inicial do mercado, porém, foi positiva. Os números mais detalhados mostram que as variáveis que mais influenciaram na inflação foram a gasolina e os alimentos. Consequência direta da guerra na Ucrânia, já que o preço do petróleo disparou e tanto a Rússia como a Ucrânia são grandes exportadores de alimentos. De fato, o núcleo do CPI – que exclui a medição dos preços dos alimentos e da energia por serem muito voláteis – veio melhor que o esperado: 0,3% em março, contra as expectativas de 0,5% e mostrando uma desaceleração, já que no mês anterior o número foi de 0,5%.
Foi nesse insight que as primeiras análises se concentraram. E chegaram na conclusão de que a inflação nos EUA pode estar se aproximando do seu pico – ou que já chegou lá. Wells Fargo e ING Group foram instituições que defenderam essa tese. Nessa onda de “daqui para frente melhora”, as bolsas abriram em alta mesmo após a maior inflação em quatro décadas.
O Fed iniciou sua batalha contra o aumento de preços por lá em março, quando subiu os juros em 0,25 pontos percentuais. O mercado já espera uma nova alta, de 0,5 pontos percentuais, em maio. Além disso, o banco central americano vai começar a reduzir seu balanço patrimonial, provavelmente em junho. O mercado já fez as pazes com o Fed agressivo – afinal, aumento de juros é ruim para a renda variável, mas uma inflação descontrolada é pior.
Ao longo do pregão, porém, o humor dos investidores foi mudando. Ninguém ainda sabe com certeza quantas altas de juros o Fed fará para tentar levar a inflação de volta aos 2%, o alvo buscado pelo banco central. Juros muito altos podem levar à economia a uma recessão, e esse medo voltou a assombrar o mercado hoje.
Quem contribuiu para a mudança de humor foi Lael Brainard, diretora do Fed. Em entrevista ao Wall Street Journal, ela disse que o núcleo do CPI teve uma “desaceleração digna de nota”, mas que a inflação ainda continua muito elevada e que o Fed fará uma “série de altas” nos próximos meses.
As declarações reforçam a visão de um Fed mais agressivo, e logo as bolsas nos EUA viraram para o terreno negativo, deixando de lado o otimismo inicial. No fim, os três índices americanos fecharam no vermelho, assim como as bolsas europeias. Por aqui, não foi diferente: Ibovespa caiu 0,69%, seguindo a virada de humor ao norte.
Outra pressão inflacionário nesta terça-feira veio do petróleo, que voltou aos três dígitos após um grande salto: o preço do tipo Brent subiu 6,25%, a US$ 104,64 por barril. Na China, o governo começou a aliviar as medidas de restrição para conter a Covid-19 aos poucos, ainda que o número de novas infecções continue alto.
As atenções agora se concentram na temporada de balanços corporativos nos EUA, com o JPMorgan Chase sendo o primeiro dos bancões americanos a divulgar seus resultados nesta quarta-feira.
Até amanhã!
Maiores altas
Cogna (COGN3): 4,49%
Cielo (CIEL3): 4,03%
Ultrapar (UGPA3): 3,21%
Assaí (ASAI3): 2,81%
Americanas (AMER3): 2,14%
Maiores baixas
Banco Inter – Units (BIDI11): -8,54%
Méliuz (CASH3): -5,00%
Marfrig (MRFG3): -4,73%
YDUQS (YDUQ3): -3,63%
B3 (B3SA3): -3,56%
Ibovespa: -0,69%, aos 116.146 pontos
Em Nova York
Dow Jones: -0,26%, aos 34.219 pontos
S&P 500: -0,34%, aos 4.397 pontos
Nasdaq: -0,30%, aos 13.371 pontos
Dólar: -0,29%, a R$ 4,6767
Petróleo
Brent: 6,25%, a US$ 104,64
WTI: 6,69%, a US$ 100,60
Minério de ferro: 1,22%, cotado a US$ 140,78 a tonelada no porto de Qingdao (China)