Investidores demoraram a ver o tamanho da crise do Carrefour?
Ações caíram mais de 5%, após alta registrada no primeiro dia da crise causada pelo assassinato de um homem negro por seguranças do supermercado.
Existe no mercado financeiro o mantra de que investidores sempre se antecipam aos fatos. Se era preciso um exemplo de que essa máxima não é exatamente verdadeira, eis o caso Carrefour.
Nesta segunda, as ações do grupo recuaram 5,35%, para R$ 19,30, a maior queda entre os papéis que compõem o Ibovespa. Já o índice avançou 1,26%, para 107.378 pontos É exatamente o oposto do que ocorreu na sexta-feira (20), quando as ações subiram e o resto da bolsa caiu.
Foi na sexta que estourou uma onda de comoção após o assassinato brutal de um homem negro por seguranças de uma loja do Carrefour em Porto Alegre.
A empresa anunciou que investigaria o caso e disse que doaria a receita com as vendas da sexta para uma entidade ligada ao movimento negro. Na sexta, parecia que o protocolo de contenção de danos de imagem estava sendo seguido e surtindo efeito. Mas não.
Ao final daquele dia, os protestos se espalharam por diversas cidades do país. Boicotes foram convocados. O empresário Abilio Diniz, que é acionista do grupo e membro do conselho da companhia se manifestou cobrando medidas.
O caso continuou crescendo no final de semana. A empresa foi excluída de uma iniciativa que promove diversidade racial e tem sua posição no índice ESG da S&P com a B3 em xeque. A pergunta é, na verdade, como o Carrefour conseguiu a chancela para entrar nesse índice.
Foi só nesta segunda que investidores passaram a ver algum risco para os lucros da rede de supermercados nesse episódio, que não é isolado.
Talvez o risco mais expressivo seja a suspensão de campanhas publicitárias. Essa é a semana da Black Friday, uma das datas mais importantes do varejo, ainda mais neste ano de pandemia.
Mas o tamanho do estrago causado por essa crise está longe de ter sido medido.
E o resto do mercado?
Como dissemos, o Ibovespa subiu com força nesta segunda, mais de 1%. A alta é semelhante à registrada pelo índice Dow Jones (+1,12%, a 29.591 pontos). S&P 500 e Nasdaq também avançaram, mas em magnitude menor (0,56% e 0,22%).
De novo, o que impulsiona o mercado é o noticiário da vacina. Hoje foi dia de resultados do imunizante de Oxford, que mostrou eficácia de até 90%. Ela se juntou aos números otimistas de outras vacinas, anunciados na semana passada.
E por aqui, o ministro da economia, Paulo Guedes, passou o dia em lives — foram três no total. A mensagem geral é de que a economia está se recuperando e que o governo está trabalhando pelas reformas e mantém o compromisso com o controle de gastos.
Investidores cansaram da cantilena, ao que parece, e isso pode ser medido no mercado de juros futuros. O banco Fator mostrou, em um relatório de fechamento de mercado, que a diferença entre os juros de curto e longo prazo continua aumentando. Superou os 6,5 pontos percentuais, ante menos de 5,90 no começo do mês.
Isso quer dizer que investidores contam com um aumento expressivo da Selic, hoje em 2% ao ano, no futuro. Isso tem a ver com a inflação, que continua subindo, e também com a baixa disposição de financiar a dívida pública em um cenário fiscal incerto.
Por fim, vale acrescentar mais um termômetro de incerteza. Apesar da volta dos estrangeiros para a bolsa brasileira, com entrada de dólares no país, a moeda americana voltou a subir. Fechou a R$ 5,44. Na quinta, estava a R$ 5,31. Isso é o que se chama de volatilidade.
MAIORES ALTAS
MAIORES QUEDAS
PETRÓLEO
Brent: US$ 45,80 (+1,87%)
WTI: US$ 42,84 (+0,99%)