IOF + derrocada do minério de ferro = -2,07% no Ibovespa
Das 91 ações que compõem o índice, 75 fecharam no vermelho. Gerdau, CSN e Usiminas puxaram o bonde. Vale também caiu forte, mesmo distribuindo R$ 8,10 por ação em dividendos.
Como disse o Faria Lima Elevator hoje, com o modo ironia ligado: “Parece inteligente tirar do tomador de crédito (empreendedor) para financiar populismo”. Pois é. O governo que se vendia como “moderno na economia” ligou de vez o modo Getúlio Vargas com o aumento do IOF: vai sangrar o setor produtivo para caçar votos com um bolsa família mais gordo (R$ 300 para 17 milhões de lares).
Bolsa Família não é luxo. É necessidade. Mas bagunçar os fundamentos da economia para utilizá-lo como ferramenta eleitoreira tem um só efeito para o longo prazo: produzir mais gente que vai precisar de Bolsa Família lá na frente, pois uma economia mal ajambrada não cria empregos.
Agora fica assim: o IOF nas operações de crédito para empresas sobe de 1,5% para 2,04%. Para pessoa física, de 3% para 4,08%. A ideia é que isso gere R$ 2 bilhões a mais de IOF por ano para os cofres do governo. O novo Bolsa precisa de mais ou menos R$ 25 bilhões (além dos R$ 35 bilhões de hoje) para se sustentar. Ou seja: vem mais sangria por aí.
E o mercado, naturalmente, achou lindo: queda de 2,07% no Ibovespa, que voltou aos 111 mil pontos. Das 91 ações que compõem o índice, 75 fecharam no vermelho. O exterior no vermelho (-0,92% para o S&P 500) também não ajudou a melhorar os ânimos na B3.
Para completar o cenário de tempestade perfeita, o minério de ferro, que já tinha tombado 8% ontem, caiu mais 4,9%. E aí foi um deus no acuda, como vamos ver agora.
O derretimento do minério
A Vale anunciou um dividendo assombroso. Vai distribuir R$ 40,2 bilhões aos acionistas no dia 30/09.Isso dá R$ 8,10 por ação – o mesmo tanto que foi pago no ano passado inteiro. Só isso já equivale a um payout de quase 10% sobre o valor atual do papel.
A quantidade de proventos referentes a 2021 já é maior, na verdade. Em junho, eles já pagaram R$ 1,46. Ou seja: até aqui, foram R$ 9,56 por ação. Vale notar que, entre 2014 e 2019, esse valor nunca chegou a R$ 2.
Mas nem isso segurou a mineradora hoje. O preço do minério de ferro, que já vinha numa curva descendente, resolveu pular do precipício: tombou 22% em uma semana, aprofundando uma queda que vem desde maio para grossos 57% – de US$ 240 a tonelada, em maio, para US$ 101 agora.
A queda do minério tragou as ações da Vale com a força gravitacional de um buraco negro. Em maio, o papel chegou a valer R$ 118. Hoje, após mais 2,02% de baixa, elas sextaram em R$ 86,15
Se você opera vendido em Vale (apostando em quedas do papel) agradeça, claro, a Xi Jinping. O governo chinês decidiu, numa canetada, que a produção de aço no país não pode mais crescer. Deve ficar estagnada em 1 bilhão de toneladas por ano (o número de 2020).
Este ano já apontava para um crescimento quando o governo baixou a ato, então a produção estimada para o segundo semestre precisa diminuir. Xi Jinping coloca fiscais dentro das siderúrgicas para garantir isso. E os donos delas sabem que desobedecer determinações do Estado não costuma ser um bom negócio.
Xi fez isso para conter a alta do minério, a grande matéria prima do aço, e, em paralelo, para reduzir as emissões de carbono do país – a produção de aço envolve a queima de coque, um pesado emissor de CO2. Nisso, siderúrgicas conseguem ser bem poluentes mesmo se sua eletricidade eventualmente vier de uma fonte limpa. Como a China planeja a sério se tornar neutra em carbono (remover mais CO2 da atmosfera do que emite) até 2050, a produção de aço no país irá sofrer.
Isso não significa que a China vá parar de construir prédios e produzir carros (dois destinos do aço). A maior paulada de Xi foi na exportação do metal – que passou a ser sobretaxada. Ou seja: haverá menos aço Chinês no mercado.
Como não existe vácuo no mercado, mais hora menos hora siderúrgicas de outros países vão suprir essa demanda. O problema é que ninguém sabe quando isso vai acontecer. E quem sofre são os produtores de minério de ferro, como a Vale.
A Vale e as nossas siderúrgicas, que também lucram vendendo minério de ferro para a China. O tombo de hoje na cotação da commodity também tragou CSN (-4,73%), Usiminas (-5,31%) e Gerdau (-6,59%). Ou seja: não fosse pelo dividendo monstro, a Vale também estaria entre as piores baixas do dia.
E sextemos com essa. E com o Faria Lima Elevator, que também disse: “Como é que investe nesse IOF? Tá dando 4%. Mais que o Ibovespa…”.
Maiores altas
RaiaDrogasil (RADL3): 1,69%
Telefônica (VIVT3): 1,45%
Magalu (MGLU3): 1,22%
Natura (NTCO3): 1,14%
Locaweb (LWSA3): 0,66%
Maiores baixas
Inter – Units (BIDI11): -7,02%
Gerdau (GGBR4): -6,59%
Metalúrgica Gerdau (GOAU4): -5,59%
Usiminas (USIM3): – 5,31%
Inter – PN (BIDI4): – 5,10%
Ibovespa: -2,07%, aos 111.439 pontos
Nova York:
S&P 500: -0,92%, aos 34.582 pontos
Nasdaq: -0,91%, aos 15.043 pontos
Dow Jones: -0,48%, aos 34.582 pontos
Dólar: 0,32%, a R$ 5,28
Petróleo
Brent: -0,38%, a US$ 75,38
WTI: -0,84%, a US$ 72,00
Minério de ferro: -4,91%, a US$ 101,95 por tonelada no porto de Qingdao (China)