IPCA-15 e gastos do governo emperram recuperação do Ibovespa: quarta semana de queda
Alta na inflação e populismo nas contas públicas não deixaram o índice entrar no embalo eufórico do exterior. Desde a máxima do ano, em março, o Ibov caiu 18,84%.
Enquanto os mercados internacionais tiveram uma semana de recuperação, o risco fiscal segurou a B3. O Ibovespa viveu sua quarta semana seguida de queda, com recuo de 1,15%. Desde a máxima do ano, em março, o índice cai 18,84%.
Nesta sexta, a recuperação da Vale (2,78%) após o tombo da véspera deu fôlego ao índice, que subiu 0,60%, aos 98.672 pontos. Uma alta tímida quando comparada aos ganhos de mais 3% nos EUA.
Em Nova York, os índices tiveram a melhor semana em um mês. O S&P 500 subiu 6,5% no período, mesmo com um feriado no meio do caminho.
Parte do bom humor de hoje vem da queda na estimativa para a inflação americana de longo prazo apurada pela Universidade de Michigan. Trata-se de uma pesquisa tradicional, que pesquisa as expectativas de inflação dos consumidores. Pode não ser o cúmulo da precisão, mas uma coisa é fato: parte da inflação é causada pela expectativa de inflação. Se ela está em alta, os preços tendem a subir no embalo, mesmo num ambiente de juros em alta. Logo, uma baixa na expectativa é sempre uma boa notícia.
A expectativa dos próximos cinco anos caiu de 3,3% —um recorde nos últimos 14 anos— no início de junho para 3,1% hoje. Sim, é pouco. Mas o fato é que Jerome Powell citou a alta que vinha rolando nos levantamentos da Universidade de Michigan como justificativa para o aumento-bomba de 0,75 ponto percentual na taxa de juros, dia 15 de junho. Uma baixa numa estimativa que o Fed respeita, então, pode diminuir a pressão por altas mais violentas na “Selic” dos EUA.
Petróleo
O barril recuperou um pouco do terreno perdido nos últimos dias. Alta de 2,80%, a US$ 109. Bom para PetroRio (5,18%) e 3R (4,24%).
Mas a Petrobras, para variar, não entrou nesse balão. A estatal sem presidente e cheia de imbróglios fechou em queda de 1,02%.
Quem quer dinheiro?
Bolsonaro afirmou nesta sexta que o Auxílio Brasil irá de R$ 400 para R$ 600. As peripécias eleitoreiras — que também incluem aumento no vale gás e auxílio de R$ 1 mil por mês para caminhoneiros — devem custar aos cofres públicos pelo menos R$ 35 bilhões (fora do teto de gastos).
Os planos do governo levaram os juros futuros às alturas. O DI para janeiro de 2023 subiu a 13,650%, de 13,513% ontem, e o para janeiro de 2025 foi a 12,520%, de 12,224%.
IPCA-15
Não foi só isso. O IPCA-15 acima do esperado em junho (0,69%) também ajudou a colocar as expectativas com as taxas de juros em terreno mais pessimista. Em maio, o mesmo índice tinha fechado em 0,59%, menor patamar desde janeiro.
Agora, a inflação volta tracionar – o que mela os planos do Banco Central de maneirar nas altas da Selic. Some isso ao aumento dos gastos do governo, que também vão turbinar a inflação, e temos aí um cenário nada animador, que cobra seu preço à vista no mercado de ações.
Bom fim de semana.
Maiores altas
Gol (GOLL4): 6,71%
PetroRio (PRIO3): 5,18%
CSN (CSNA3): 5,18%
Suzano (SUZB3): 4,87%
Azul (AZUL4): 4,69%
Maiores baixas
Petz (PETZ3): -5,54%
Soma Educacional (SOMA3): -4,87%
Via (VIIA3): -4,22%
CVC (CVCB3): -4,17%
Qualicorp (QUAL3): -3,40%
Ibovespa: 0,60%, a 98.672 pontos
Em NY:
S&P 500: 3,07%, a 3.912,15 pontos
Nasdaq: 3,34%, a 11.607,62 pontos
Dow Jones: 2,69%, a 31.503,71 pontos
Dólar: 0,44%, a R$ 5,2527
Petróleo
Brent: 2,80%, a US$ 109,10
WTI: 3,21%, a US$ 107,6
Minério de ferro: -0,74%, US$ 115,44 no porto de Qingdao (China)