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Juro de 10 anos nos EUA flerta com 5% e traz ares de 2007 para o mercado

Powell mantém a possibilidade de mais juros para conter a inflação. O petróleo diz que ele está certo: brent sobe 1% mesmo após acordo dos EUA para liberar exportações da Venezuela.

Por Tássia Kastner
Atualizado em 21 out 2024, 10h18 - Publicado em 19 out 2023, 17h55
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 (Cristielle Luise/Fotos: Getty Images/Você S/A)
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5% de juro ao ano é muito ou pouco? Se você comprar um Tesouro IPCA+ pensando na aposentadoria, é bom para você (ainda que hoje ele esteja pagando quase 6%), mas não é uma rentabilidade alta a ponto de deixar o mercado financeiro em polvorosa. Isso, claro, quando o assunto é Brasil, acostumado com Selic de dois dígitos e a comprar títulos que pagam uma taxa acima da inflação.

Mas estamos falando de outra coisa. Nesta quinta, o juro de 10 anos da dívida pública americana flertou com a marca de 5% ao ano  – e foi o responsável por bagunçar o coreto das bolsas americanas. O Ibovespa ficou quase no zero a zero: -0,05%.

O dia vinha mais ou menos tranquilo até o discurso de Jerome Powell, o presidente do Fed, no Clube Econômico de NY. Essa é a última aparição pública de Powell antes da reunião de 1º de novembro.

O problema é que ele pesou a mão no recado. Primeiro, o presidente do BC se encarregou de tirar de uma vez da mesa a possibilidade de uma subida nos juros americanos da próxima reunião. Essa já era a indicação mais recente e o consenso do mercado, mas havia gente mais realista que o rei (ou mais pessimista que o Fed) e que continuava apostando em alta já agora.

Powell foi ainda mais enfático de que o Fed poderá subir ainda mais os juros se a economia americana não começar a esfriar. 

Acontece o seguinte: a inflação de lá começou a baixar, mas não de forma consistente o bastante para que se vislumbre os preços caminhando logo para o alvo de 2% ao ano  O CPI (o gêmeo do IPCA) ficou em 3,7% em setembro, o mesmo patamar de agosto. Já o PCE, a medida de inflação que o Fed usa, estava em 3,9% em agosto. Bom em comparação com os números recentes, mas ainda longe da meta.

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E quanto mais perto, mais difícil, tipo uma miragem no deserto. O que Powell vem enfatizando em suas aparições públicas é quase uma incredulidade: como é que os juros americanos subiram de zero para 5,5% ao ano e o mercado de trabalho americano nem pisca? O desemprego está em 3,8% e a abertura de vagas segue sólida e acima das expectativas. Isso significa que de uma maneira geral as pessoas podem continuar pedindo aumentos para compensar a inflação – e aí ela não baixa.

Por isso que o Fed tem sido duro em dizer que, se os dados continuarem robustos como estão, talvez seja preciso aumentar ainda mais os juros por lá. 

Há um aumento pré-contratado, de 0,25 p.p. É esse que Powell tirou da mesa da reunião do dia 1º e que está em suspenso. A surpresa é que, enquanto o presidente do Fed repete que pode ser preciso subir os juros, o mercado entra em dissonância, como se tivesse ouvindo coisas distintas.

A ferramenta da bolsa CME, o Fed Watch, diz que só 25% dos investidores acreditam num aumento de juros no encontro de dezembro. A maioria esmagadora vai de estabilidade. Ou seja, talvez não estejam levando Powell tão a sério assim.

Só que aí os juros dos títulos americanos dizem outra coisa: pouco importa subir ou não, daqui de onde estamos o problema é não cair. 

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A subida do rendimento da Treasury de 10 anos a 4,985% nesta quinta diz exatamente isso. Se o juro atual é de 5,5%, e temos mais dez anos pela frente, basicamente significa dizer que os juros ficarão virtualmente estáveis para que a taxa média no período seja de 5%. Haveria uma queda, mas mínima.

Não só isso: a marca simbólica de 5% ao ano é de 2007, o período que antecedeu a crise financeira global. Pois é.

Dito assim, a queda de hoje em Nova York até que foi amena: -0,85% pro S&P 500 e -0,96% pro Nasdaq. 

De qualquer jeito, Powell afirmou que decisões continuam sendo tomadas baseadas em dados, e que não há nada escrito na pedra. O problema é quem tem um dado realmente preocupante emergindo.

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Alô, Venezuela, sua sumida? Tudo bem?

Nesta quinta, os Estados Unidos oficialmente reduziram as sanções impostas contra a Venezuela e vão liberar a compra de petróleo do país liderado por Nicolás Maduro. O acordo tem como contrapartida eleições limpas no país – algo que o regime venezuelano diz que sempre existiu. Houve a libertação de mais de 200 presos políticos.

Questão de prioridade. O mundo está ansioso por elevar a oferta da matéria-prima de outras fontes, depois que a dependência do leste do globo virou um problema. Primeiro foi a Rússia. Agora a tarefa ficou um pouco mais urgente depois que o Hamas atacou Israel e deu início a uma guerra que ameaça se espalhar pela região.

Não são só os Estados Unidos que ainda não conseguiram domar a inflação: esse é um problema global, e uma alta substancial nos preços dos combustíveis pioraria o problema.

Só que a possível maior oferta da América Latina não foi páreo para o temor de que o conflito no Oriente Médio se agrave. O barril do Brent subiu 0,96%, a US$ 92,38. Bom para a Petrobras? Não exatamente.

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O Ibovespa

A bolsa brasileira tentou se segurar. Mas com Fed e petróleo, não deu. O Ibovespa deu uma escorregada de 0,05%, a 114.004 pontos.

Fica difícil segurar a alta quando Petrobras e Vale recuam. A PETR4 volta e meia perde o bonde do petróleo, em parte porque, apesar de lucrar com o petróleo que exporta, a atual política de preços da companhia não prevê repasse imediato do valor do barril para os combustíveis. 

Já a VALE3 sofre com um misto de passado ruim, futuro nebuloso. Ontem a companhia divulgou resultados operacionais do terceiro trimestre – e tomou um susto do mercado. Para além disso, a empresa está às voltas com o aprofundamento da crise do setor imobiliário chinês, que tende a reduzir o apetite do maior consumidor de minério do mundo.

Para além disso, os juros futuros daqui pegaram um vácuo das Treasuries americanas e também subiram, dando mais um empurrão no setor de varejo da bolsa, que puxou as maiores quedas do dia. Não tá fácil. Até amanhã.

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MAIORES ALTAS

Cielo (CIEL3): 6,53%

Engie (ENGI11) 3,62%

Copel (CPLE6): 3.21%

CPFL (CPFE3): 2,56%

Raízen (RAIZ4): 2,31%

MAIORES BAIXAS

Magazine Luiza (MGLU3): -6.36%

CVC (CVCB3): -4,80%

Gol (GOLL4): -4,42%

Locaweb (LWSA3): -4,34%

Casas Bahia (BHIA3): -3,85%

Ibovespa: -0,05%, a 114.004 pontos

Em Nova York

Dow Jones: -0,75%, a 33.413 pontos

S&P 500: -0,85%, a 4.278 pontos

Nasdaq: -0,96%, a 13.186 pontos

Dólar: –0,03%, a R$ 5,0528

Petróleo 

Brent: 0,96%, a US$ 92,38

WTI: 1,26%, a US$ 88,37

Minério de ferro: 0,40%, a US$ 119,09 na bolsa de Dalian

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