Juros e turbulência política arrastam Ibovespa para abaixo dos 100 mil, dos 99 mil… dos 98 mil pontos
Deu vertigem. Ibov perde mais de 2 mil pontos nesta quinta. Dólar sobe 1% e vai a R$ 5,29. Receio é o de que a queda de braço entre o governo e o BC traga consequências funéreas.
Hoje, o Ibovespa caminhou pelo vale das sombras dos cinco dígitos: fechou abaixo dos 98 mil pontos pela primeira vez desde julho do ano passado.
A queda de 2,29% foi cortesia do combo manutenção dos juros altos + turbulência política, que seguiu-se à decisão do Copom de manter os juros em 13,75%. É que o recado deixado pela ata do comitê foi severo: a Selic continuará nas alturas por mais algum tempo, e o BC não descarta retomar o ciclo de altas caso a inflação permaneça em alta (foram 0,84% em fevereiro, uma aceleração considerável ante os 0,53% de janeiro).
Selic em alta, claro, desincentiva o investimento em renda variável – já que oferece as dívidas do governo como alternativa mais segura e rentável. Além disso, colocam um freio na atividade econômica – e menos atividade econômica significa menos lucros para as empresas lá na frente, o que também joga os preços das ações para baixo.
Somado a isso, a atmosfera nos corredores de Brasília depois da divulgação da ata pesou também. Haddad disse que considera o comunicado “preocupante”, e Lula profetizou que a “história julgará” a decisão do BC. É como disse Galvão Bueno na narração do 7 x 1: “vai se criando um clima terrrrrível”.
A Faria Lima teme que o mal estar possa escalar para a destituição de Campos Neto do cargo de presidente do BC, ou então minar a autonomia do Banco Central. Seria uma bomba capaz de afetar a própria credibilidade do país.
Nessa, o dólar encerrou o dia em forte alta, de 1,01%, a R$ 5,29.
Mas não só por conta disso. A moeda americana também fechou em alta diante de suas pares do mundo das moedas fortes. O índice DXY mede a variação média da moeda americana contra o euro, o franco suíço, o iene, a libra, o dólar canadense e a coroa sueca. E mostrou uma valorização de 0,18% do dólar ante essa cesta de moedas.
Nesse caso, o que move as notas verdes para cima é o medo de que a crise bancária se aprofunde. Mesmo assim, as bolsas americanas fecharam no verde, com o S&P 500 em 0,29% e a Nasdaq em vigorosos 1,01%.
Aí o agente motivador é o outro: a percepção de que o ciclo de alta do Fed esteja próximo do fim – o BC americano deu a entender que a crise bancária pode por si só ajudar na desaceleração dos preços, tirando um pouco da pressão para novas altas.
MGLU3 e VIIA3
Por aqui, Magalu (-13,37%) puxou o bloco das maiores baixas do dia. E a Via não ficou muito à frente (-7,04%) Essa entra para a conta do Copom. É que juros altos a perder de vista machucam as varejistas por dois lados.
De um, tornam mais difíceis as compras a prazo, que precisam embutir juros. Se uma Selic alta já freia o consumo ao tornar mais atraente deixar o dinheiro rendendo num fundo DI da vida, breca de vez ao desestimular compras a prazo – a modalidade favorita dos brasileiros.
Pelo outro lado, a dívida das varejistas fica mais cara. O setor é de “capital intensivo”, ou seja, precisa levantar empréstimos continuamente. Com a Selic lá no alto, sem perspectiva de redução, vai ficando cada vez mais caro captar dinheiro no mercado. Mais um baque para as contas.
Outro setor que se deu mal hoje foi o aéreo. Nesse caso, mais por conta da alta do dólar do que da manutenção dos juros na ionosfera. Boa parte dos custos das aéreas é em dólar (principalmente combustível de aviação e aluguel de aeronaves). Aí, quanto mais cara a moeda americana, maior o impacto no caixa. Sinta o drama das duas lá no “Maiores baixas”.
É teste pra cardíaco, amigo!
Até amanhã.
Maiores altas
Embraer (EMBR3): 1,78%
Minerva (BEEF3): 1,33%
WEG (WEGE3): 1,04%
Cemig (CMIG3): 0,94%
BB Seguridade (BBSE3): 0,77%
Maiores baixas
Magalu (MGLU3): -13,37%Gol (GOLL4): -10,08%
BRF (BRFS3): -9,61%
Yduqs (YDUQ3): -8,88%
Azul (AZUL4): -8,90%
Ibovespa: -2,29%, a 97.926 pontos.
Em NY:
S&P 500: 0,29%, a 3.948 pontos
Nasdaq: 1,01%, a 11.787 pontos
Dow Jones: 0,25%, a 32.103 pontos
Dólar: 1,01%, a R$ 5,29.
Petróleo
Brent: -1,15%, a US$ 75,50.
WTI: -1,32%, a US$ 69,96.
Minério de ferro: -2,01%, a US$ 125,03 a tonelada na bolsa de Dalian.