Meta (M1TA34) sobe 23% e faz um esquenta para resultados de Apple, Google e Amazon
Ibovespa fica de fora da festa e escorrega com juros pesados e queda das commodities. VALE3 -4,78%; PETR4 -4,63%. E teve ainda a Oi e seu tombo de 30,5%.
A Meta (M1TA34), a empresa de Mark Zuckerberg, virou o símbolo máximo da nova esperança que se disseminou em Wall Street. Desde que abandonou o nome Facebook pela marca que indicaria seu futuro, o metaverso, a companhia entrou em uma espiral de ruína. Do pico da ação, alcançado em setembro de 2021, até o fundo do poço de novembro de 2022, a baixa foi de 77%.
Nesta quinta veio a redenção. As ações da companhia dispararam 23,28%, a maior alta diária em cerca de uma década, segundo o The Wall Street Journal. E ainda sedimentou um ganho de impressionantes 112% desde aquele buraco (pausa: antes de comemorar, vale lembrar que falta dobrar de preço de novo para que a ação volte ao recorde).
De qualquer forma, esse foguetinho de 2023 transformou a companhia no símbolo da reabilitação do índice tech Nasdaq, que agora está flertando de novo com o bull market, acumulndo alta de 19,5% (quando há uma alta de 20% desde o fundo do poço mais recente). As gigantes Apple, Google e Amazon divulgam seus números nesta noite, após o fechamento – a hora do “vamos ver”.
Na noite de ontem, a Meta anunciou lucro de US$ 4,65 bilhões no quarto trimestre, abaixo do consenso dos economistas, que apontava um lucro de US$ 6,02 bilhões. Como otimismo é a matéria-prima do bull market, lá foram os investidores caçar boas notícias no balanço da companhia.
A receita foi de US$ 32,17 bilhões no período – e ainda que tenha sido a terceira queda trimestral, ainda se trata de um resultado melhor que os US$ 31,55 estimados pelo mercado. A companhia também conseguiu cortar custos – os 11 mil demitidos sabem bem – e anunciou um programa de recompra de ações.
Recompra de ações é a varinha mágica das empresas quando a ação vai mal. De uma vez só, os executivos afirmam que o papel está “a preço de banana” e tornam o produto mais escasso na bolsa. Portanto, virtualmente mais caro. Daí o milagre da alta da Meta.
Nada disso muda a crise existencial da companhia. Em outubro de 2021, Zuckerberg vaticinou que o futuro da internet seria o Metaverso, e que todos os esforços de sua companhia seria para desenvolver esse ambiente virtual que seria a nova ágora do mundo, como o Facebook havia sido no passado.
Grandes marcas anunciaram seus tênis e bolsas no metaverso, e parecia que a onda ia pegar. Foi um fogo de palha. Enquanto isso, o Facebook mesmo vai definhando e o Instagram sofre ameaças severas do TikTok, marcando a primeira rede social que conseguiu tirar o sono (e o dinheiro de Zuck). Antes o Instagram havia sido isso, mas estava à venda e problema resolvido.
Claro, o milagre da ação que sobe mais de 20% num único dia está inserido em um contexto mais tranquilo para os investimentos de risco.
O Fed (o BC americano) indicou que finalmente a alta de juros por lá começou a ter o efeito esperado: início do processo de redução da inflação. A “Selic” deles subiu módicos 0,25 ponto percentual, dentro do esperado.
O que fez a alegria dos investidores foi a entrevista do presidente do BC americano, Jerome Powell. “Vejo um caminho para a inflação retornar à meta sem queda significativa da economia e sem aumento significativo do desemprego. O crescimento econômico continuará, mas em ritmo mais lento”, disse.
É música para dançar uma rave inteira. E foi isso que investidores fizeram. Depois da alta de 2% na véspera, o Nasdaq subiu 3,25%nesta quinta. O S&P 500, também coalhado de empresas tech, foi junto com ganho de 1,47%.
As empresas tech foram as primeiras a sofrer com a alta de juros, porque parte da alta das ações é um esforço de antecipar o quanto a empresa crescerá no futuro, e quão mais eficiente ela será em superar o dinheiro aplicado em títulos públicos. Se o juro básico sobe, essa vantagem competitiva diminui. Se o juro alto afeta a economia, nem se fala. Daí por que o “sem queda significativa da economia” foi tão crucial.
Já o Brasil, sem techs de peso no Ibovespa, afundou.
Juro
Aqui a taxa de juros estacionou em 13,75% ao ano e já não sobe mais. O problema aí é o estacionou. Ontem, o BC brasileiro também se reuniu para deixar tudo como está. Isso era sabido. A surpresa foi o recado duro do Copom (o comitê do BC que decide a taxa de juros), avisando que não vê redução da Selic neste ano. Até então, economistas mais otimistas contavam com os primeiros cortes a partir de junho – os mais conservadores, no segundo semestre.
Aí deu ruim para a bolsa. O Ibovespa caiu 1,72%, a 110.140,64 pontos.
Trata-se de uma cortesia das nossas gigantes Vale e Petrobras, cada uma com uma baixa na casa dos assustadores 4% (-4,78% para VALE3 e -4,63% para PETR4) . Quedas desse tipo são mais raras nas empresas gigantescas. E hoje tiveram um empurrão das commodities, uma baixa contraintuitiva se as perspectivas são de uma economia razoavelmente resiliente aos efeitos colaterais de combate à inflação.
Para arrematar o dia azedo, há ainda o causo da Oi. A tele, que saiu da recuperação judicial em dezembro, foi à Justiça de novo pedir proteção contra cobrança de credores. O objetivo é impedir a cobrança de uma dívida que vence no domingo.
Que a saída da Oi (OIBR3) da RJ era arriscada já se sabia. O surpreendente foi a velocidade – e o uso do mesmo instrumento da Americanas, uma espécie de pedido liminar de proteção. O resultado foi uma queda de 30% nas ações.
Para não dizer que tudo foi negativo no Brasil hoje, podemos falar do dólar. A moeda americana chegou a cair abaixo dos R$ 5, para fechar em -0,30%, a R$ 5,0454. Com o possível fim da alta de juros nos EUA e a sinalização de que nossas taxas vão continuar na lua, investidores correram com verdinhas para cá, atrás do rendimento polpudo. Assim a gente termina o dia, olhando para o copo meio cheio. Até amanhã.
Maiores altas
Gol (GOLL4) 13,52%
Azul (AZUL4) 7,58%
Locaweb (LWSA3) 4,11%
Via (VIIA3) 3,83%
Cielo (CIEL3) 3,50%
Maiores baixas
BRF (BRFS3) -7,70%
CSN Mineração (CMIN3) -6,74%
CSN (CSNA3) -5,51%
Usiminas (USIM5) 5,47%
Braskem (BRKM5) -5,42%
Ibovespa: -1,72%, a 110.140,64 pontos
Nova York
Dow Jones: -0,12%, a 34.054 pontos
S&P 500: 1,47%, a 4.180 pontos
Nasdaq: 3,25%, a 12.201 pontos
Dólar: -0,30%, a R$ 5,0454
Petróleo
Brent: -0,81%, a US$ 82,17
WTI: -0,69%, a US$ 75,88
Minério: -3,33%, a US$ 125,16 por tonelada na bolsa de Dalian