Nasdaq cai 2% com TSLA34 e economia dos EUA fraca em 2023
Brasil sofreu, mas conseguiu subir. Destaque para a alta da PETR4, que espera pelo anúncio de seu novo presidente. MRFG3 e JBSS3 lideraram o dia.
Diz que o Papai Noel só vem para quem se comportou bem durante o ano. A julgar por esta quinta, Wall Street ficou de fora da lista. As bolsas americanas chegaram a afundar 4%, num dia marcado pelo clima de saída de feriado. O volume de negócios encolheu, algo típico do período de festas – e que deixa mais volátil o humor de quem ainda não está de folga.
E dá para contar a história do tombo de hoje de dois jeitos. Olhando para o futuro e para o passado. Vamos primeiro ao passado.
Nesta quinta, os EUA divulgaram a nova leitura do PIB do terceiro trimestre, mostrando que a economia americana subiu 3,2% nos meses de julho a setembro. Foi mais forte que os 2,9% da segunda leitura e bem acima dos 2,6% da primeira divulgação. Lembrando que essa é a taxa anualizada, que projeta qual seria o crescimento em 12 meses se o resultado do terceiro trimestre se repetisse pelos próximos meses. E que os EUA divulgam quatro leituras de PIB porque eles vão incorporando novos dados que saem depois, até chegar ao número que melhor reflete o desempenho da economia americana no período específico.
O Departamento de Comércio dos EUA também revisou a inflação do terceiro trimestre, mostrando uma alta de 4,7% no período quando comparado aos meses de abril, maio e junho. Aqui o ajuste foi mais modesto.
Setembro, na escala de Wall Street, é como uma vida passada. Mas a história que colou nos mercados financeiros é que a economia americana estava ainda mais robusta do que se estimava, o que abre ainda mais espaço para o Fed (o BC americano) continuar sua batalha de combate à inflação. Isso está sendo feito há meses à base de aumentos vigorosos na taxa de juros dos EUA, que agora ronda os 4,5% ao ano. A expectativa é que os juros superem os 5% no próximo ano, a dúvida é se eles subirão de 0,50 p.p. em 0,50 p.p. ou de 0,25 p.p. em 0,25 p.p..
A economia sólida e resiliente, segundo analistas, seria corroborada por um dado recente. Os pedidos de seguro-desemprego nos EUA, registrados na semana passada, somaram 216 mil, enquanto economistas esperavam 220 mil novos trabalhadores pedindo o benefício.
Faz sentido? Faz. Mas explicar a queda das bolsas americanas olhando pelo retrovisor é deixar de fora o que realmente o mercado financeiro faz todos os dias: tentar prever o futuro. E algumas notícias do dia mostram que a economia dos EUA até poderia estar robusta no terceiro trimestre, mas 2023 começa dando sinais de que poderá ruir.
Primeiro foi a Tesla (TSLA34). A montadora de Elon Musk anunciou em seu site um desconto de US$ 7.500 em veículos entregues até o fim do ano. A notícia foi dada pelo The Wall Street Journal. O jornal afirma que os descontos são relativamente comuns entre montadoras, mas não para um período de alta de custos, como o vivido pela indústria desde a pandemia. As ações da companhia fecharam em queda de 8,88%.
Outra empresa a acender uma luz amarela foi a também americana Micron. A companhia afirmou que, depois da escassez de chips de memória, agora está atolada em estoques. O motivo? O combo de inflação e incerteza fez os americanos reduzirem as trocas de computadores e celulares. Estamos falando de menos consumo. E a companhia vai cortar empregos para fazer frente a essa menor demanda, o que também é sinal de economia mais fraca.
Por fim, a Bloomberg noticiou uma desaceleração na demanda por caixas de papelão, um indicador tão banal quanto perigoso para a economia mundial. Demanda por papelão é o que economistas chamam de “indicadores antecedentes”, algo que serve como bola de cristal para os próximos meses. Se uma empresa compra menos caixas de papelão, é porque ela espera ter menos produtos para transportar no futuro. Ou seja, ela está vendendo menos.
Sinais de desaceleração da economia global pululam por todas as partes. O petróleo recuou 1,5% nesta quinta, e o minério de ferro também tombou.
No fim, depois de afundar, as bolsas americanas terminaram num patamar “menos pior”: o S&P 500 caiu 1,44%, e o Nasdaq, 2,18%. É tipo esperar uma bicicleta do Papai Noel e ganhar uma caixa de chocolates.
Manada
O Ibovespa também sofreu com o menor volume de negócios – e quase perdeu a alta do dia seguindo o efeito-manada de Wall Street.
Por aqui, o giro ficou abaixo de R$ 20 bilhões, enquanto a média do ano ronda os R$ 30 bi. Faltando minutos para a B3 fechar, o Ibov garantiu um suado sinal positivo. Fechou em alta de 0,11%, a 107.551 pontos.
O noticiário aqui for marcado pelo anúncio de novos membros da esplanada dos ministérios, ainda que sem grandes emoções para a Faria Lima. O destaque do dia foi que o vice Geraldo Alckmin será também ministro da Indústria, algo que foi considerado positivo.
Extraoficialmente, voltou a circular que o novo presidente da Petrobras será Jean Paul Prates. Ele estava na equipe de transição e criticou a política de preços da estatal, que acompanha o preço internacional do petróleo e a variação do câmbio. Prates também criticou a distribuição de dividendos da Petrobras sob Bolsonaro.
Talvez seja o fato de que ele já era o nome mais forte para o posto, mas o fato é que, mesmo com a queda do petróleo, as ações da Petrobras (PETR4) subiram 1,91% nesta quinta e ajudaram na altinha do Ibov.
Frigoríficos também se destacaram nas altas, e a explicação foi a ladainha da economia americana forte – como se fosse possível voltar ao terceiro trimestre para vender mais carne. Quem puxou a fila foram Marfrig e JBS. O fato é que eles fazem parte das ações que derreteram no ano, e qualquer quase notícia acaba sendo motivo para compra, ainda mais em dias de baixa liquidez.
Seja como for, ainda resta o dia de amanhã para descobrir se o Papai Noel está disposto mesmo a dar uma colher de chá ao Ibovespa. Até lá.
Maiores altas
Marfrig (MRFG3) 6,31%
JBS (JBSS3) 3,16%
CCR (CCRO3) 2,46%
Taesa (TAEE11) 2,45%
Americanas (AMER3) 2,04%
Maiores baixas
Locaweb (LWSA3) -4,68%
SulAmérica (SULA11) -2,29%
Positivo (POSI3) -2,28%
Petz (PETZ3) -2,28%
Dexco (DXCO3) -2,23%
Ibovespa: 0,11%, a 107.551 pontos
Nova York
Dow Jones: -1,04%, a 33.028 pontos
S&P 500: -1,44%, a 3.823 pontos
Nasdaq: -2,18%, a 10.476 pontos
Dólar: -0,33%, a R$ 5,1858
Petróleo
Brent: -1,48%, a US$ 80,98
WTI: -1,02%, a US$ 77,49
Minério de ferro: -1,64%, a US$ 111,10 por tonelada na bolsa de Singapura