Nem inflação baixa nos EUA salva Ibovespa da oitava queda seguida: -0,05%
Sequências de oito baixas são raras: nos últimos oito anos, só aconteceu duas vezes. Entenda o que assombra o mercado.
O Ibovespa bem que tentou, mas não foi hoje que encerrou sua longa sequência de baixas. O principal índice da bolsa brasileiro emendou sua 8ª queda seguida nesta quinta-feira: -0,05%, a 118.349 pontos.
Nos últimos oito anos, só houve duas vezes em que a bolsa emendou oito dias no vermelho: em junho de 2022 e em setembro de 2015. Pois é.
Parece que a onda de otimismo que tomou conta do mercado em junho e julho não só ficou para trás como teve efeito rebote. O que é, à primeira vista, contra intuitivo, já que A Selic começou a cair – e já com um corte de 0,50 p.p., mais dovish do que o esperado por muita gente. Juros mais baixos, naturalmente, dão um boom na renda variável.
Mas essa expectativa não tem surtido muito efeito no humor dos investidores, por enquanto. No mês, o índice acumula queda de 2,95%. Vale ressaltar, porém, que as últimas oito quedas, ainda que sequências, não foram totalmente apocalípticas: nenhum dos pregões teve sangria que passou dos 1%.
Entre os motivos que travam a bolsa brasileira está uma China mais fraca, que vem divulgando dados decepcionantes em sequência já há algum tempo. É ruim para todo mundo – o crescimento chinês é motor do crescimento global, afinal –, mas especialmente negativo para países cuja economia depende de exportação de commodities (Brasil e afins).
Não à toa, uma das forças que puxou o Ibovespa para baixo nesta quinta-feira foi a queda da Vale, que, sozinha, corresponde a mais de 13% do índice. A exportadora de minério (que tem a China como compradora principal) fechou em queda de -1,18%.
Em Nova York
E olha que o noticiário estrangeiro até tentou ajudar. O Ibovespa passou grande parte do dia no azul, de olho no humor de Wall Street, que pendeu para o otimismo .Isso porque o dado mais aguardado da semana veio sem surpresas negativas e animou investidores.
Por lá, o CPI – índice de preços ao consumidor, equivalente ao nosso IPCA – ficou em 0,2% em julho; na base anual, está em 3,2%, acima dos 3% registrados em junho.
Acontece que os números bateram justamente com os que os analistas estavam prevendo. E vieram em linha com o sentimento geral do mercado: de que a inflação, apesar de ainda estar acima da meta do Fed (2%), está domada. Já não é um fantasma tão assustador como foi no ano passado, quando o CPI chegou a passar dos 9%.
Nisso, a dúvida que antes pairava pelo mercado – “o Fed seguirá subindo os juros?” – deixa de parecer complicada. Com a inflação suave, o humor geral se definiu. Agora, a aposta majoritária é que não haverá novas altas em nenhuma das reuniões do Fomc que restam neste ano – em setembro, novembro e dezembro.
Claro que novos dados ainda podem mudar a opinião dos investidores e analistas, mas essa questão já deixou de ser a principal entre o mercado. O novo passatempo de Wall Street, agora, é tentar descobrir por quanto tempo os juros se manterão no patamar atual – a faixa de 5,25% a 5,5%, alta para os padrões americanos. Há quem já comece a falar em corte em dezembro deste ano…
De qualquer forma, o bom humor com o provável fim do aperto monetário nos EUA levou as bolsas de Wall Street, que passaram o dia estável, a fechar em terreno positivo, ainda que por pouco (veja abaixo). Por aqui, porém, o Ibovespa não teve a mesma força. No pico do dia, chegou a subir 0,87%, justamente contaminado pela festa em Nova York. Mas não se sustentou.
O dólar, por sua vez, teve queda: -0,47%, a R$ 4,8821. É uma reversão da trajetória dos últimos dias, em que a moeda tinha voltado a subir. Mesmo assim, o fechamento de hoje ficou longe das mínimas do dia.
Também faltou gás na agenda doméstica. Roberto Campos Neto, presidente do BC, esteve no Senado para uma sessão de arguição pública. Nas três horas de conversas com os senadores, não deu novidades sobre a política monetária. A sessão, inclusive, foi bem amena, sem ataques diretos nem de senadores governistas.
Enquanto isso, a Faria Lima segue repercutindo a temporada de balanços corporativos. A maior queda do dia foi para o Grupo Soma, que despencou 7,68%. No segundo trimestre, empresa divulgou queda de 22% no lucro em relação ao mesmo período do ano passado. A maior alta foi a da Azul, que decolou quase 10% após reduzir seu prejuízo em 21,4% – e o CEO, em conferência com analistas, deixar claro que a companhia está bem otimista com os resultados no futuro próximo.
Até amanhã.
MAIORES ALTAS
Azul (AZUL4): 9,83%
Braskem (BRKM5): 6,84%
Gol (GOLL4): 6,27%
Hapvida (HAPV3): 6,05%
Locaweb (LWSA3): 4,84%
MAIORES BAIXAS
Grupo Soma (SOMA3): -7,68%
3R Petroleum (RRRP3): -4,96%
Rede D’Or (RDOR3): -4,92%
Magazine Luiza (MGLU3): -4,04%
Ultrapar (UGPA3): -3,50%
Ibovespa: -0,05%, aos 118.349
Em Nova York
S&P 500: 0,03%, aos 4.468 pontos
Nasdaq: 0,12%, aos 13.737 pontos
Dow Jones: 0,15%, aos 35.175 pontos
Dólar: -0,47%, a R$ 4,8821
Petróleo
Brent: -1,31% a US$ 86,40
WTI: -1,87%, a US$ 82,82
Minério de ferro: -0,44%, cotado a US$ 100,90 na bolsa de Dalian (China)