Conheça os planos da Vamos, a locadora de caminhões com ações na bolsa
Desde o IPO, ações subiram 50%. Nesta entrevista, Gustavo Couto, CEO da companhia de locação de caminhões, conta como pretende ampliar o segmento no país.
As greves de caminhoneiros de 2018 e a crise da pandemia aceleraram a demanda por caminhões alugados. A solução é mais em conta do que manter uma frota própria. Com cerca de 80% deste mercado, o Grupo Vamos é pioneiro no setor. A empresa nasceu em 2015 para centralizar e expandir os negócios de locação da sua então controladora, a companhia de logística JSL.
De lá para cá, a companhia cresceu: no terceiro trimestre, a Vamos registrou R$ 111,4 milhões de lucro – 127% acima do mesmo período de 2020. Já são 20.384 ativos locados – sendo 17.310 caminhões e 3.074 máquinas agrícolas, empilhadeiras e veículos para construção civil – e 1.400 funcionários. No início do ano, a empresa começou um novo capítulo em sua história: entrou para a bolsa. Desde o IPO, as ações valorizaram 50%.
No comando do grupo está Gustavo Couto. O executivo, de 46 anos, se formou em engenharia civil e sempre atuou com logística. Começou na Shell atendendo os transportadores de carga. Em 2006, foi para a Suzano. Dois anos depois, assumiu como diretor de supply chain. Passou ainda pela CSN, Swissport e BR Distribuidora, até aceitar o cargo de CEO da Vamos, em 2019.
Nesta entrevista, ele mostra o potencial de crescimento do setor de locação de veículos pesados, e diz como a empresa pretende atuar nos próximos anos.
Qual é o tamanho do mercado de locação de caminhões no Brasil?
É de 3,5 milhões de veículos. Dessa frota, uns 2,1 milhões estão na mão de empresas e os outros 1,4 milhão com os caminhoneiros autônomos. Se a gente olhar para os veículos que estão com as empresas, só 1% deles é alugado. Nos EUA, essa parcela é de 25%. Na Europa, dependendo do país, varia entre 20% e 25%. Ou seja, a gente tem muito para crescer ainda e é um mercado com muita oportunidade. Esses números, por exemplo, são só de caminhões. Também existe espaço para o mercado de locação de empilhadeiras, máquinas agrícolas e linha amarela, que são os veículos voltados para a construção civil.
Como você enxerga o mercado antes e depois da pandemia?
Eu não vejo a pandemia como uma divisão clara de antes e depois. Porque a frota de caminhões no Brasil é uma das mais velhas do mundo, tem uma média de 21 anos de uso. Isso tem um custo de manutenção, tempo de entrega, combustível. Essa frota tem de ser renovada e a gente precisa desenvolver modelos de negócio que ajudem a aumentar a eficiência e reduzir os custos do setor de logística. Também tem o fato de que a área de logística trabalha com um orçamento limitado. Lembro que, quando eu estava na Suzano, o capex [capital destinado a investimentos] era todo para a área industrial. Enquanto isso, a área de logística acabava obrigada a encontrar soluções que não tivessem a necessidade de alocação de dinheiro. O aluguel de caminhões é uma alternativa para isso, porque a companhia não precisa mais comprar dez caminhões para renovar ou expandir a sua frota. Mas o que existe hoje no Brasil não é suficiente, apesar do tamanho e das oportunidades do mercado.
Quais são as tendências do setor para 2022?
Acho que todo mundo estará bastante atento às questões relacionadas à produtividade, eficiência e a uma agenda ESG. Já percebemos o interesse de empresas que querem utilizar caminhões movidos a energias renováveis. Mas isso ainda é um grande desafio para o Brasil, não só no que diz respeito à tecnologia dos veículos em si, mas também em função da infraestrutura disponível para que possamos garantir o abastecimento e a operação desses veículos. Em um país com dimensões continentais, como o nosso, é natural que demore um tempo para conseguir chegar à infraestrutura necessária para que essas novas fontes de energia sejam utilizadas em larga escala.
Quais são os investimentos da empresa em sustentabilidade?
O principal é em relação às emissões de carbono. Desde 2019, a Vamos neutraliza as suas emissões por meio de créditos de carbono oriundos da coleta de resíduos urbanos. Também estamos trabalhando com caminhões movidos a gás natural e biogás, o biometano; e temos uma oficina remota 100% elétrica [um dos furgões que carregam equipamentos de manutenção da frota não usa motor a combustão]. Além disso, a gente precisa pensar no tempo de uso dos caminhões. Como eu disse, a frota brasileira tem uma média de 21 anos de idade. Nos EUA, a média de uso é de oito anos. Os veículos novos têm motores mais desenvolvidos, que conseguem controlar melhor a emissão de carbono mesmo usando um combustível fóssil. E esses caminhões antigos também provocam mais acidentes e quebram mais. Estamos renovando a nossa frota, então, para garantir mais segurança nas estradas e reduzir as emissões.
E os investimentos em tecnologia?
Apostamos muito em big data. Se você me passar a placa do seu carro, eu consigo te dizer qual é o modelo e o ano. Tenho 100% da frota de veículos brasileiros mapeados graças ao uso de dados [o que serve para aferir melhor a idade da frota brasileira de caminhões, por exemplo]. E a gente olha para todos os processos da companhia. Por exemplo, todos os nossos veículos saem com um chip rastreador e bloqueador. Com isso, nós temos todas as informações do caminhão e sabemos quando está na hora de fazer manutenção, onde ele está operando, se está funcionando bem. Também temos um aplicativo para fazer a avaliação dos equipamentos, controle de frota, gestão da manutenção em tempo real, gestão da compra de novos caminhões. Tudo isso ajuda a reduzir a sinistralidade e a crescer de maneira sustentável, controlando todos os riscos.
Quais são esses planos de crescimento?
O plano é chegar a 100 mil caminhões. Hoje, a gente tem 20 mil. E eu tenho certeza que não seria possível chegar a esses 100 mil ativos dentro do prazo que está sendo desenhado sem as inovações tecnológicas que estão sendo implementadas no nosso dia a dia.
Como vocês planejam atravessar esse período de alta dos juros e inflação?
O nosso modelo de negócio tem muita aderência para uma economia promissora, na qual as empresas buscam crescimento. Mas também em um ambiente recessivo; e a própria pandemia mostrou isso. Quando uma companhia está passando por dificuldades, ela precisa repensar a sua operação para cortar custos, e a Vamos pode ajudar nisso. Eu não estou dizendo que a gente está imune à situação macroeconômica, e sim que fazemos parte da solução. Você vê alta nos preços para manutenção, combustível e até para comprar um novo caminhão. É nessa hora que o empresário abre a cabeça para o aluguel.
A Vamos teve mais um recorde de lucro no terceiro trimestre. Quais são os destaques do balanço?
O primeiro aspecto que eu gostaria de destacar é que todas as nossas unidades de negócios performaram bem. Normalmente, a gente vê umas áreas que se saem melhor, outras nem tanto e, no final, o resultado sai positivo. Mas no último trimestre todas as nossas áreas entregaram resultados muito acima do esperado. E o segundo ponto é que, especificamente no mercado de locação, nós conseguimos assinar muitos contratos novos. A nossa receita futura contratada, que é um termômetro do crescimento que está por vir, praticamente dobrou nos primeiros nove meses de 2021. Em dezembro do ano passado, a gente tinha R$ 3,1 bilhões em receita futura. E fechamos o terceiro trimestre com R$ 6,1 bilhões. Isso me dá tranquilidade e segurança de dizer que a empresa vai continuar trazendo bons resultados.
Em janeiro, a Vamos completa um ano como empresa de capital aberto. Como você avalia esse primeiro aniversário na bolsa?
A gente fez três tentativas de abrir capital. A primeira foi logo quando eu assumi a presidência, em 2019, mas chegamos à conclusão que ainda não era o momento ideal. A segunda tentativa foi em 2020, e acabou interrompida pela pandemia. E agora, na terceira vez, a gente conseguiu. Acho que até foi bom as duas primeiras vezes não terem dado certo, porque a companhia atingiu outro porte. Estamos muito satisfeitos, principalmente porque neste primeiro ano as ações se valorizaram e temos uma base sólida de acionistas, nacionais e internacionais, que acreditam na companhia. Isso ficou claro em setembro, quando nós fizemos o nosso follow-on [quando uma empresa de capital aberto decide ofertar mais ações no mercado] e conseguimos recursos para acelerar o nosso plano de crescimento.
A Vamos pretende ampliar a atuação no mercado B2C?
Nós atuamos no mercado B2C em algumas unidades de negócio. Por exemplo, no agro a gente trata diretamente com os produtores agrícolas, que são pessoas físicas. Em seminovos, os caminhões usados são vendidos para os caminhoneiros que querem renovar os seus veículos. Na parte de aluguel, ainda não existe uma decisão nesse sentido. Mas a gente gostaria muito, viu? Temos um projeto-piloto acontecendo neste momento. Nós alugamos para alguns autônomos que trabalham como agregados em empresas do grupo.
Ao longo do ano, vocês fizeram algumas aquisições. Como estão os planos de M&A da empresa?
Se eu te contar, vou ter que dar um sumiço nessa entrevista [risos]. A gente tem uma área de fusões e aquisições na holding da Simpar, que é a nossa controladora. É ela quem olha para esses assuntos, e nós aqui da Vamos participamos de algumas conversas pontuais. Mas essa é, sim, uma área bastante ativa. No começo do ano, a gente adquiriu uma rede de concessionárias no Mato Grosso, chamada Monarca. Fizemos a aquisição de contratos de locação da BYD, uma marca líder de empilhadeiras elétricas, movidas a bateria de lítio. Teve também o acordo para representar a Fendt, que é uma fabricante alemã de tratores e máquinas agrícolas. Então, a equipe da holding está sempre avaliando qualquer oportunidade que surgir; mas o nosso principal plano de crescimento é orgânico. Mesmo porque é um mercado com muita oportunidade para crescer.