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Nova política industrial do governo federal reforça risco fiscal e Ibovespa cai 0,81%

Plano “Nova Indústria Brasil” reacende na Faria Lima a lembrança de tentativas de reindustrializar o Brasil que fracassaram nas gestões petistas anteriores. Dólar sobe 1,23%, para o maior patamar desde outubro (R$ 4,98).

Por Bruno Carbinatto
22 jan 2024, 19h08
 (Kauan Machado/Fotos: Getty Images/Agência Senado/VOCÊ S/A)
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De novo!? 

O risco fiscal, antigo inimigo do Ibovespa, voltou a pesar no pregão desta segunda-feira (22), após o anúncio da nova política industrial do governo nacional, o “Nova Indústria Brasil”, que destinará R$ 300 bilhões para financiar investimentos na indústria local. A Faria Lima recebeu a notícia com um pé atrás e o Ibov caiu 0,81%, voltando aos 126 mil pontos.

É um escorrego e tanto se considerarmos que o índice fechou 2023 no seu maior patamar nominal da história, aos 134 mil pontos. Janeiro tem sido marcado por um reajuste no humor do mercado, que está adotando uma postura mais realista e reduzindo o otimismo para este ano, especialmente quando o assunto são os juros americanos – que explicaremos mais adiante.

De volta à nova política industrial do governo. O plano anunciado hoje é coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, cujo ministro é Geraldo Alckmin, e, em linhas gerais, quer desenvolver a produção industrial brasileira – uma bandeira de longa data do pensamento petista. O programa elenca alguns eixos de atuação principais, sendo eles a agroindústria, a indústria da saúde, infraestrutura e saneamento, a transformação digital, a bioeconomia e a defesa nacional, e deve funcionar até 2033.

Para financiar tudo isso, o plano conta com R$ 300 bi de crédito, que serão geridos pelo BNDES, Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) e disponíveis até 2026. Parte desse total (R$ 106 bilhões) já havia sido anunciada na primeira reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), em julho do ano passado. Agora, o governo somou R$ 194 bilhões, provenientes de diferentes fontes de recursos. E é nessa parte que a história fica complicada.

Não há um ponto específico no plano que cause um temor na Faria Lima. Muitas medidas do programa, aliás, já existem e só foram empacotadas sob o nome do novo projeto. A desconfiança é mais geral, fruto do déjà-vu: a lembrança das tentativas de reindustrializar o Brasil em outros governos petistas, que também apostaram em financiamentos públicos generosos para o setor, mas num processo pouco eficiente – algo especialmente visto na gestão Dilma. 

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O resultado foi um montão de despesas e várias metas não cumpridas, ou seja, fracasso. Uma das principais críticas a esses esforços anteriores era de que, por exemplo, os objetivos eram genéricos demais e que não havia avaliações específicas sobre a eficácia das medidas para saber se elas faziam ou não sentido, o que gerava gastos inúteis.

O novo plano tem diferenças significativas em relação aos passados, com o foco em medidas de modernização, descarbonização e economia verde – uma área que o Brasil possui um certo protagonismo internacional – mas o temor dos investidores é que o resultado seja o mesmo, ou seja, um fracasso. E um possível fracasso com custo alto às contas públicas, justamente num momento delicado para a questão fiscal brasileira.

O resultado foi que, além da queda do Ibovespa, o dólar teve forte alta, de 1,23%, fechando a R$ 4,98, o maior patamar desde outubro de 2023. Os juros futuros também subiram.

Não é de hoje que a cautela quanto às contas públicas ocupa uma posição central entre as preocupações da Faria Lima. Há tempos o ministro Haddad tenta convencer, sem muito sucesso, que a meta de zerar o déficit em 2024 é possível. Um dos motivos que causa ceticismo é que o próprio presidente Lula afirma que não quer cortar “investimentos e obras” e que a meta “não precisa ser zero”, reforçando seu perfil mais gastador. 

E Wall Street?

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A queda de hoje foi bem focado nas questões domésticas. Prova disso é que as bolsas americanas abriram a semana em alta moderada: S&P 500 subiu 0,22%, Dow Jones 0,36% e Nasdaq 0,32%. Com o detalhe de que os dois primeiros renovaram seus recordes de fechamento

O mercado americano está reagindo a, basicamente, duas histórias. A primeira é sobre os juros no país. Até o final de 2023, predominava um otimismo grande neste tópico: a previsão da maioria dos investidores era de que o Fed começaria a cortar a taxa já em março, e que, ao longo do ano, outras cinco reduções poderiam vir do banco central americano. Acontece que os próprios dirigentes do Fed estão cortando as asinhas de Wall Street e avisando que essa é a posição menos provável. 

Nos spoilers do Fomc, o Copom americano, só se fala por enquanto em três cortes ao longo de 2024, de 0,25 ponto percentual cada. E nada indica que o processo de afrouxamento comece em março.

Com esse “choque de realidade”, o mercado passou a reajustar as expectativas e maneirar no otimismo. Isso é visto com clareza na ferramenta FedWatch, do CME Group, que mapeia as apostas dos investidores quanto aos próximos passos da autoridade monetária. Hoje, as chances de um corte em março caíram para 40%, abaixo dos quase 60% que falam de uma manutenção na taxa. Há poucas semanas, a opção do corte chegou a bater os 80% de chances.

De qualquer forma, a segunda história que protagoniza o noticiário de Wall Street vem justificando as altas recentes: uma onda de otimismo com o setor tech. Após a euforia de 2023 com a inteligência artificial, as previsões falam em mais um ano positivo para esse segmento da economia, medida inclusive pela demanda alta por chips. 

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Agora investidores esperam os balanços das empresas para atualizar esse humor. Nesta semana, a temporada de resultados nos EUA ganha força, com nomes como Tesla, Intel e Netflix divulgando seus resultados.

Até amanhã.

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MAIORES ALTAS

BRF (BRFS3): 4,92%

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Cielo (CIEL3): 3,12%

Embraer (EMBR3): 1,97%

Usiminas (USIM5): 1,18%

Azul (AZUL4): 1,07%

MAIORES BAIXAS

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Hapvida (HAPV3): -5,72%

Lojas Renner (LREN3): -5,44%

Assaí (ASAI3): -4,83%

Locaweb (LWSA3): -4,69%

Carrefour (CRFB3): -4,40%

Ibovespa: -0,81%, aos 126.601 pontos

Em Nova York

S&P 500: 0,22%, aos 4.850 pontos

Nasdaq: 0,32%, aos 15.360 pontos

Dow Jones: 0,36%, aos 38.001 pontos

Dólar: 1,23%, a R$ 4,9873

Petróleo

Brent: 1,90%, a US$ 80,06

WTI: 2,06%, a US$ 74,76

Minério de ferro: 0,53%, cotada a US$ 132,30 por tonelada na bolsa de Dalian (China)

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