Novas ameaças de lockdown na China derrubam o minério e o Ibovespa
Não só: exterior, deprimido com a alta de juros prometida pelo Fed, também não ajudou a B3, que fechou em -2,07%
O Ibovespa terminou o dia numa viagem ao centro da Terra: queda de 2,07%, aos 98.212 pontos.
O problema começa na China, que ameaça novamente lockdown em cidades importantes para conter a ômicron e seu exército de subvariantes. Com a mão de obra do país mais populoso do mundo trancada em casa, a economia desacelera, a demanda por aço (e por sua matéria-prima, o minério de ferro) diminui. Aí quem acaba respirando com ajuda de aparelhos é a gente, grande fornecedor global da commodity.
Hoje, o preço recuou 3,26% na bolsa de Dalian (onde se negocia o contrato mais popular do minério) e -2,12% em Cingapura. Aqui em Pindorama, esses dados indigestos fizeram a Vale e as empresas siderúrgicas, que também têm seus braços mineradores, comandarem a aventura de Júlio Verne da B3 rumo ao subterrâneo dos gráficos. Todo mundo num vermelho quente:
- Vale (-3,41%).
- CSN Mineração (-4,61%).
- Usiminas (-2,44%).
- Gerdau (-1,88% em GGBR4).
A China não quebrou nosso galho, os EUA muito menos: S&P 500 e Nasdaq e Dow Jones terminaram o dia numa caminhada épica no tapete vermelho, respectivamente com -1,15%, e -2,26%.
A explicação para o desempenho deprimente do mercado financeiro em Nova York começa no Payroll – o relatório sobre emprego publicado pelo governo dos EUA, cuja edição mais recente saiu nesta sexta (8). Ele veio surpreendentemente positivo: 372 mil vagas criadas, contra a previsão de 268 mil. A taxa de desemprego ficou em 3,6%.
Isso é sinal de economia forte. E economias fortes aguentam melhor uma sequência brutal de aumentos nas taxas de juros. Aumentos em que o Fed aposta para controlar a inflação americana.
Em entrevista concedida nesta segunda (11) à Associated Press, o presidente da distrital do Fed em St. Louis, James Bullard, deixou claro que o Payroll é o incentivo que faltava para pesar a mão: “Agora temos muita inflação, mas a questão é: podemos voltar [a inflação] a 2% sem atrapalhar a economia? Acho que podemos.”
Ou seja: tome juros na veia.
Quanto maiores os juros, mais o investidor vê vantagem em comprar títulos públicos em vez de colocar seu dinheiro no mar revolto do mercado financeiro. Isso tira grana das bolsas, que acabam no vermelho. Nesse contexto, espera-se que o dólar seja o único indicador esfregando a barriga satisfeito.
E, de fato, ele esfrega, com alta de 1,96% nesta segunda. Claro: comprar títulos americanos é sinônimo de fazer poupança em dólares.
Pior para as aéreas, que têm seus custos em combustível e leasing de aeronaves atrelado à moeda americana. Com perspectivas de orçamento mais apertado, Gol e Azul ficaram entre as maiores baixas do dia (veja abaixo). Em um mês, o dólar saltou de R$ 4,89 para R$ 5,37. Um salto de 9,8%. E, com juros maiores nos EUA, a tendência é a de que as altas continuem.
Não só aqui. O dólar está se fortalecendo diante de todas as moedas. O Euro, por exemplo, fechou hoje em paridade de 1 para 1 com a moeda americana. É a menor cotação da moeda europeia em 20 anos. Mais uma cortesia do Fed.
Perspectiva de juro mais alto lá fora impulsiona os juros daqui também – o governo se vê forçado a pagar taxas mais altas nos títulos públicos. O IPCA+2035, por exemplo, passou a oferecer inflação mais 6,21%. É uma bomba: maior taxa desde o primeiro semestre de 2016.
Com uma renda fixa assim, não há mesmo bolsa que aguente.
Até amanhã.
Maiores altas
Telefônica (VIVT3): 0,80%
PetroRio (PRIO3) 0,74%
Assaí (ASAI3): 0,46%
Magazine Luiza (MGLU3): 0,38%
JBS (JBSS3): 0,19%
Maiores baixas
GOL (GOLL4): -11,79%
Cash (CASH3): -8,00%
Azul (AZUL4): -7,55%
B3 (B3SA): -5,86%
Dexco (DXCO3): -5,64%
Ibovespa: -2,07%, a 98.212 pontos
Em NY:
S&P 500: -1,15%, a 3.854%
Nasdaq: -2,26%, a 11.372
Dow Jones: -0,52%, a 31.175
Dólar: 1,96%, a R$ 5,37
Petróleo
Brent: 0,07%, a US$ 107,02
WTI: 0,67%, a US$ 104,79
Minério de ferro: -3,26% na bolsa de Dalian (China)