Novo CEO da Petrobras ‘faz cafuné’ em acionistas e ação salta mais de 5%
Ibovespa passou boa parte do dia no azul, mas fechou no negativo após cinco pregões de valorização. Sim, você pode culpar Brasília.
Depois de dois meses de tropeços, o general Joaquim Silva e Luna assumiu oficialmente o posto de presidente da Petrobras. O detalhe foi o discurso de posse, que soou como um cafuné para os acionistas. E quem não fica feliz com um agrado, né? As ações da estatal saltaram mais de 5% nesta segunda-feira (19).
Silva e Luna disse que pretende “conciliar os interesses dos consumidores e acionistas da Petrobras […] buscando reduzir volatilidade [dos preços] sem desrespeitar a paridade internacional”. Vamos aos interesses.
Paridade internacional nada mais é do que levar em consideração o preço do petróleo lá fora e o dólar para decidir a quanto vai ser vendido o combustível aqui no Brasil. Aqui está a sinuca de bico: os preços do petróleo se recuperaram depois de uma baixa do período mais agudo da pandemia, e o dólar disparou. Resultado é que o preço da gasolina e do diesel foram do pré-sal à lua em questão de meses.
Para a Petrobras, foi um sonho, porque isso ajudou no lucro de R$ 59,9 bilhões em 2020, o maior resultado de uma empresa de capital aberto da história do país. Para o brasileiro, foi como se ele tivesse feito um Pix do banco direto para a conta dos acionistas da estatal.
Óbvio que não houve Pix nenhum, mas se você tem um carro, sabe que está mais caro abastecê-lo. Se você tem um caminhão, então, está realmente furioso (e pobre). E os donos de caminhões são grandes apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. E se você não tem nada disso, ainda paga a conta porque tudo o que você compra no supermercado passou por um caminhão.
Essa história de aumento de preços e inflação você já sabe, claro, foi o que motivou a demissão de Roberto Castello Branco da presidência da companhia, durante uma live de Bolsonaro no dia 18 de fevereiro.
A questão, de verdade, é como as coisas ficam daqui para frente. O general pode até ter prometido um equilíbrio de interesses, mas não terá uma tarefa fácil. O petróleo continua firme em alta, perto das máximas do ano, e o dólar até pode ter caído hoje frente o real, mas ainda longe de trazer um alívio para quem frequenta postos de combustíveis.
E aí a conta pode sobrar para o acionista. Se a estatal opera abaixo da paridade internacional, fatura menos e paga menos dividendos. Sem falar no desequilíbrio gerado no mercado, porque afasta competidores.
Por isso, a alta nas ações de hoje é só uma resposta ao afago. Os papéis preferenciais (mais negociados) subiram 5,80%, para R$ 24,28, enquanto os ordinários (com direito a voto) avançaram 5,03%, a R$ 23,79. É que parece muito, mas em perspectiva os números perdem um pouco do brilho. As ações ainda estão 17% abaixo do valor de fechamento no dia 18 de fevereiro, o último pregão antes do anúncio de que haveria uma troca de comando.
Ou seja, o mercado financeiro precisa de muito mais que um cafuné para recuperar o prejuízo da intervenção política na companhia.
Ibovespa
Com a alta de mais de 5%, a Petrobras bem que tentou carregar o Ibovespa nas costas. Não conseguiu. O índice passou boa parte do dia com uma alta modesta, mas na última volta do relógio, virou para o negativo. Fechou em baixa de 0,15%, a 120.933,78 pontos. Dos 82 papéis que compõem o índice, 50 caíram.
Pudera: foram cinco pregões seguidos de alta sem que o Brasil justificasse qualquer tom otimista de investidores. E essa segunda não foi diferente.
Durante a tarde, governo e Congresso chegaram a um acordo sobre o Orçamento. Essa notícia até que pegou bem no mercado. Mas nos últimos minutos do pregão, veio a bomba. No veta-não-veta as emendas parlamentares para fazer a conta fechar, o puxadinho cresceu: R$ 100 bilhões devem ficar de fora do teto de gastos, dinheiro que deve pagar a nova rodada de medidas econômicas para minimizar os efeitos do coronavírus.
O jeitinho é perfeito para Brasília, que pode dizer que cumpriu as medidas de austeridade fiscal. Para quem está preocupado com o equilíbrio das contas, não faz diferença. Ainda será preciso emitir mais dívida e isso eleva o risco econômico.
Amanhã promete ser um dia de mais emoções.
MAIORES ALTAS
MAIORES QUEDAS
-0,15%, a 120.933,78 pontos
Dólar
-0,61%, a R$ 5,5505
Em Nova York
Dow Jones: -0,36% (34.077)
S&P 500: -0,53% (4.136)
Nasdaq: -0,98% (13.914)
Petróleo
Brent: +0,55%, a US$ 67,14
WTI: +0,55%, a US$ 63,48
Minério de Ferro
+1,89%, para US$ 181,80 a tonelada no porto de Qingdao, na China