O ocaso da Oi e as apostas que persistem na ex-campeã nacional
Enquanto isso, o Ibovespa zerou, por breves minutos, as perdas do ano. E depois Brasília estragou a festa.
O que une três concorrentes em uma mesma causa? O fim de uma quarta concorrente, claro! Foi assim que o consórcio formado por Vivo, Claro e TIM tirou a Oi do mercado de telefonia móvel. Tudo bem, não tirou. Era a Oi que precisava sair e levantar uma grana para pagar dívidas que rondam por aí há anos.
Por R$ 16,5 bilhões, as três gigantes arremataram os ativos da companhia e levaram, de quebra, 36,5 milhões de clientes. A Oi era a quarta maior do setor e tinha 16% de participação de mercado que, de acordo com a consultoria Teleco, será distribuída assim: Vivo vai de 33% para 39%; Claro, de 26% para 32%; e TIM, de 22% para 27%. Deve, porque ainda depende de aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
O leilão desta segunda (14) não durou nem 30 minutos. Já estava tudo mais ou menos anunciado e a outra concorrente teria desistido da oferta antes mesmo do início da disputa. Foi a segunda venda de ativos do plano de recuperação judicial (RJ) da Oi que se estende desde 2016.
Se ainda fosse do Ibovespa, a companhia teria a maior valorização do índice do ano — superando até mesmo a WEG e seus 110%. Mas não está, então limita-se a ser a maior valorização da B3 — o que não é pouca coisa. A alta no ano é de 160%. Mas tem aquela curiosidade estatística, claro. As ações ordinárias custavam R$ 0,86 centavos em 30 de dezembro de 2019. Então, subir 160% significa só que agora elas valem R$ 2,20. É o fenômeno das penny stocks, muito atrativo para especulação, mas pouco convidativo a investidores de longo prazo.
As coisas são tão radicais que as ações preferenciais caíram hoje quase 10% — 9,69%, a R$ 3,17, para sermos mais precisas. É a clássica realização de lucros, mas pode chamar de comprar no boato e cair no fato.
Segundo os analistas de mercado, é coisa momentânea, mas foi um passo importante para que a empresa volte a caminhar sem o amparo da lei.
É que foram quatro anos de recuperação da empresa em que muito pouco aconteceu. Somente no mês passado que a companhia conseguiu avançar nos planos de venda de ativos. Cinco deles foram colocados na vitrine, três foram vendidos: telefonia móvel, torres e data centers. Faltam infraestrutura e TV por assinatura.
A ideia é que, com o dinheiro dos leilões, o caixa seja reabastecido para pagar os credores e sobre algum para investimentos. Na venda das torres e dos data centers, a companhia arrecadou R$ 1,4 bilhão. Agora, com a telefonia móvel, mais R$ 16,5 bilhões.
Longe de fazer com que as contas fechem, já que a Oi é dona da segunda maior recuperação judicial da história do país. Quando pediu proteção à Justiça para não pagar credores, devia R$ 64 bilhões. Depois é que veio a Odebrecht e seus R$ 98 bilhões.
A Oi vendeu os primeiros ativos e agora deve “só” R$ 26,9 bilhões. O ponto é que o mercado está bem otimista com isso: espera os novos leilões para 2021, com a liquidação da TV por assinatura e de uma parte dos ativos de infraestrutura da fibra óptica, aquela rede que liga a internet de norte a sul do país.
Aí você nos pergunta: “se está vendendo tudo isso aí, o que vai sobrar da empresa?”
A operação de maior rentabilidade: a internet residencial por fibra, aquela que faz a sua internet travar menos enquanto você assiste Netflix. A Oi está em 134 cidades e sua fibra cruza 9,2 milhões de casas. Nem todos são assinantes Oi, claro. Ao fim de novembro, a companhia tinha 2 milhões de clientes, acima dos 700 mil de dezembro do ano passado. A meta para 2021 também é ambiciosa: atingir 4 milhões de consumidores.
Ainda assim, dá para dizer que esse é o fim de uma era. A Oi foi uma das empresas chamadas de campeãs nacionais, aquelas que receberam muito crédito do BNDES a juros de pai para filho, durante os governos petistas.
Oficialmente, surgiu em 2002, quando começou a operar linhas para celulares. Mas a história da companhia vem de lá da privatização da Telebrás, em 1998, sob o nome de Telemar. O passo decisivo para transformá-la em campeã nacional foi quando, em 2009, o governo Lula autorizou a compra da Brasil Telecom pela Oi, ignorando restrições de compra e venda que existiam no setor. Na época, era a operadora de telefone fixo (lembra dele?) na região sul do país.
Foi a integração entre as duas empresas que levou ao começo do fim dessa gigante. Mas não significa que investidores tenham desistido da Oi: há anos ela figura como uma queridinha para especular, especialmente entre pequenos investidores. E agora, as apostas foram redobradas.
Enquanto isso no Ibovespa ….
… os olhos estão vidrados em Brasília.
Nesta segunda (14), a exatos 9 pregões do fechamento de 2020, o Broadcast soltou uma bomba que mexeu com os investidores e deixou o Ibovespa um pouco mais longe de zerar suas perdas do ano.
Quando ainda estava nos 115 mil pontos, acima do fechamento de 2019 (115.645), aos 115.740 pontos, chegou a notícia de que o estado de calamidade do país pode ser estendido até março de 2021, e com ele a renda emergencial continuaria a ser distribuída no próximo ano.
A sinalização foi dada pelo senador Alessandro Vieira, relator do projeto. E não é o único risco no radar do mercado financeiro.
A Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2021 está para ser votada nesta quarta-feira (16), no Congresso, mas há divergências sobre a pauta. A oposição ao governo Bolsonaro exige que o presidente apresente seus vetos antes da votação no Congresso, sem isso, eles prometem adiar a votação.
O que é um grande problema, já que o recesso de final de ano está batendo à porta e o governo começaria 2021 em shutdown — ou seja, o presidente precisaria consultar o legislativo para todo e qualquer gasto e apenas despesas obrigatórias, como pagamentos de salários, por exemplos, podem ser cumpridas.
Com isso, a insegurança voltou, os investidores recuaram e o Ibovespa também. Fechou em baixa de 0,45%, aos 114.611 mil pontos.
A queda só não foi pior graças ao clima natalino mesmo. As compras dos papéis das varejistas refletiram o que os investidores esperam das compras dos presentes de final de ano. A Magalu subiu 4,61%. A Renner (0,96%) foi mais humilde.
Falta pouco, mas o ano ainda não acabou. Até lá, a gangorra não para nesse parquinho.
MAIORES ALTAS
BTG Pactual: 5, 49%
Magazine Luíza: 4,61%
Petrobras: 3, 69%
Ultrapar: 3,18%
EZ Tec: 2,75%
MAIORES BAIXAS
Cogna: -5,47%
Sabesp: -4,09%
YDUQS: -4,01%
Cia. Siderúrgica Nacional: -3,68%
Azul: -2,90%
Dólar: 1,52%, a R$ 5,1228
Petróleo
Brent: 0,64%, a US$ 50,29 o barril
WTI: 0,90%, a US$ 46,99 o barril