Os esqueletos no armário do mercado americano
Placar dos últimos 28 dias: 4% para o S&P 500, -6% para o Ibovespa. Mas calma: o castelo lá fora pode ser de areia.
As bolsas americanas ensaiam fechar sua quinta semana consecutiva de alta. Por aqui, o Ibovespa tende a marcar sua primeira semana no azul após quase um mês de queda brava – quando a novela do Auxílio Brasil de R$ 400 tirou a bolsa do patamar de 114 mil pontos, no qual ela se equilibrava em meados de outubro, para os atuais 107 mil pontos. Uma queda expressiva de 6%.
No mesmo período, o S&P 500 acumulou 4% de alta. Mas não se trata de um jogo entre uma economia saudável e outra na UTI. O Brasil passa por seus maiores índices de inflação em 6 anos. Os EUA, pelos seus mais expressivos em 30. Por aqui, os juros começaram a subir faz tempo, e o mercado já começa a digerir a ideia de uma alta de mais 2 pontos percentuais na próxima reunião do Copom, dia 7 de dezembro.
Por lá, o Fed segue com os juros próximos de zero, colocando lenha na fogueira inflacionária. Quando tiver de aumentar os juros, talvez tenha de fazê-lo de forma abrupta – o que invariavelmente assusta o mercado, e explode bolhas.
Sim, bolhas. Pois há sinais no mercado americano vive aquilo que os economistas chamam de “exuberância irracional” – momentos em que os preços das ações descolam da realidade. O grande exemplo disso na semana foi o IPO da Rivian Automotive, uma montadora de carros elétricos.
Ela lançou seu primeiro modelo em setembro, uma picape, e promete um SUV para dezembro. Ok. Quanto mais carros elétricos, melhor. O problema: a Rivian fechou seu primeiro pregão, na quarta-feira (10) valendo US$ 100 bilhões mais do que a General Motors (US$ 89 bi) e a Ford (US$ 78). Vale lembrar que as duas também produzem modelos elétricos – entre eles, a picape F-150 Lightning, versão plug-in do carro mais vendido nos EUA.
Ontem, dia 11, a Rivian saltou mais 22%, para US$ 122 bilhões. Uma alta digna de derivativo. Ou seja: investidores correm para uma empresa estreante na esperança de que ela se torne a nova Tesla porque outros investidores estão correndo para uma empresa estreante na esperança de que ela se torne a nova Tesla. Costuma dar errado.
Cuidado, então, com quem tenta vender a ideia de que as suas economias estariam automaticamente mais bem guardadas na forma de ações americanas. O mercado lá fora também traz seus perigos, e eles não são poucos.
Boa sexta, bom fim de semana, bom feriado.
Futuros S&P 500: 0,09%
Futuros Nasdaq: 0,17%
Futuros Dow: 0,11%
*às 7h51
Índice europeu (EuroStoxx 50): 0,17%
Bolsa de Londres (FTSE 100): -0,51%
Bolsa de Frankfurt (Dax): 0,19%
Bolsa de Paris (CAC): 0,33%
*às 7h52
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -0,21%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): 1,13%
Hong Kong (Hang Seng): 0,32%
Brent: -1,23%, a US$ 81,85
*às 7h00
10h CNI divulga o Índice de Confiança do Empresário Industrial, que mede a expectativa de empresários com a economia brasileira
12h Departamento do Trabalho dos EUA divulga o Relatório Jolts sobre o emprego no país
Mais uma?
A Natura anunciou ontem que estuda deixar a B3 e listar suas ações na bolsa de Nova York (Nyse). Neste caso, brasileiros poderiam comprar os papéis da empresa de beleza através de BDRs. Segundo a companhia, a mudança realçaria sua presença global – atualmente, 70% da receita da Natura vem de fora do Brasil, após aquisições de nomes como Aesop (australiana), The Body Shop e Avon (britânicas). Não é a única: Banco Inter, Americanas e Locaweb são alguns outros nomes do Ibovespa que estudam ou planejam deixar a B3 rumo à Nova York em breve.
A vez das pequenas
O MSCI Emerging Markets Small Cap Index, índice que reúne ações de companhias menores de 27 economias em desenvolvimento, já valorizou 18% neste ano e está na sua máxima histórica, segundo a Bloomberg. Um salto bem maior que o 1% de ganho no ano do MSCI World Small Cap Index, que acompanha as small caps do mundo desenvolvido e vem caindo desde março. Vale lembrar, porém, que apesar do Brasil fazer parte dos 27 países emergentes do índice, as small caps não estão decolando por aqui. O índice Small Caps da B3 acumula queda de 7,7% do começo do ano para cá. Mesmo assim, ganha forte do Ibovespa, que tombou 14% no mesmo período.
“Jair Bolsonaro é ruim para a economia brasileira”
A análise é da Economist, que já criticou o presidente brasileiro antes, mas nunca com tanta veemência. A revista britânica argumenta que a PEC dos Precatórios é um “retorno à incontinência fiscal” e relembra as promessas de cunho liberal não cumpridas de Paulo Guedes. Também cita a inflação, juros altos e baixo crescimento como problemas. E conclui dizendo que “Bolsonaro não é ruim apenas para o meio ambiente, para os direitos humanos e para a democracia, mas também para a economia do Brasil”. Leia aqui (em inglês).
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