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Parecia o começo da terceira guerra: Nasdaq sobe 3,34%, e S&P 500 ganha 1,50%

Putin invadiu a Ucrânia, o petróleo foi a US$ 100, o dólar voltou a R$ 5,10 e o Ibovespa caiu. Mas, por hoje, Wall Street encontrou paz no discurso de Biden.

Por Juliana Américo, Tássia Kastner
Atualizado em 18 out 2024, 14h20 - Publicado em 24 fev 2022, 18h34
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 (Caroline Aranha/VOCÊ S/A)
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Não parece fazer nenhum sentido, mas as bolsas americanas subiram – e não foi pouco – no primeiro dia da guerra de Putin contra a Ucrânia. Antes que você pense que o mercado financeiro enlouqueceu de vez, é bom dizer que o dólar (+2,02%), petróleo (+2,31%) e outros ativos mostram que há uma guerra em curso na Europa, e com consequências ainda imprevisíveis. 

Mas vamos do começo. Ali pela meia-noite desta quinta (aqui no Brasil), a Rússia confirmou a invasão à Ucrânia, afirmando que era uma resposta ao pedido de ajuda dos separatistas pró-Rússia, concentrados nas regiões de Donetski e Luhanski. Balela putiniana, claro. Segundo eles, era necessário o exército russo para “repelir a agressão das forças armadas e formações da Ucrânia”. 

Desde a madrugada, diversas cidades estão sendo atacadas, incluindo a capital Kiev. Para essa madrugada, o mundo ocidental prevê a tomada completa de Kiev pelas forças russas. 

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, fez um pronunciamento convocando os civis que estejam aptos a se alistarem para defender o país e informando que armas estão sendo distribuídas para a população. Só que as informações que chegam ao lado de cá do globo dizem que armas pesadas foram abatidas nos primeiros ataques. Se a Ucrânia já não tinha armamento o bastante para enfrentar os russos, agora a coisa complicou.

E a Rússia de fato avançou pelo território vizinho. As tropas de Putin invadiram uma área próxima à antiga usina nuclear de Chernobyl, onde há depósito de resíduos nucleares. O exército ucraniano tentou evitar que os russos chegassem até a usina, com receio de um ataque terrorista. 

Caso o material radioativo seja atingido por um míssil, por exemplo, pode causar um vazamento ou explosão nuclear. Isso geraria uma nuvem radioativa dentro dos territórios da Ucrânia e Bielorússia, e que também poderia se espalhar por outros países europeus. Só para refrescar a memória, em 1986, Chernobyl foi palco do maior acidente nuclear da história depois que um dos reatores explodiu durante um teste de segurança.

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Diversos líderes mundiais se posicionaram contra os ataques russos e os países já confirmaram que vão endurecer as sanções contra a Rússia, principalmente limitando o acesso do país aos mercados de capitais – as críticas também se estenderam à Bielorrússia, que apoiou a invasão, e deve sofrer também com sanções econômicas.

Os EUA anunciaram sanções contra bancos russos que juntos detêm cerca de US$ 1 trilhão em ativos e limitaram a capacidade da Rússia de fazer negócios em dólares, euros, libras e ienes. Só que esperava-se mais. Uma das cartas na manga era tirar a Rússia do Swift, uma espécie de TED das transferências internacionais de dinheiro. Ficou para depois, uma espécie de carta na manga caso Putin não recue de sua investida contra a Ucrânia.

Putin, por sua vez, garante que o seu governo se preparou para as sanções econômicas. O governo russo está sentado em uma das maiores reservas cambiais do mundo. São US$ 630 bilhões em moeda estrangeira e ouro que ajudam a manter o país por um tempo. Só para se ter ideia, o montante brasileirto é de US$ 357,9 bilhões. 

Ainda assim, a queda do rublo foi de 7%. O índice russo Moex tombou 45%. 

Reação militar

O presidente americano Joe Biden disse que seu país não entrará em uma guerra que é europeia (alou 1ª e 2ª guerras?), mas a Otan está se movimentando como pode. Individualmente, cada país é livre para decidir se vai ajudar a Ucrânia ou não com o envio de armas ou tropas. Mas tem um porém: pelas regras da Otan, como a Ucrânia não faz parte da organização, ela está sozinha nessa guerra. Os países-membros só compram a briga de outros países-membros. É o chamado artigo 5º, que diz que qualquer ataque a um dos membros será considerado um ataque a todos. 

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Acontece que a Polônia, Estônia, Letônia e Lituânia, os vizinhos dessa guerra, já acionaram o Artigo 4º da organização. Ele diz que os países vão se reunir e discutir o que fazer caso qualquer um deles ache que a sua integridade territorial, a independência política ou a segurança estejam sob ameaça. Esses quatro países fazem fronteira com a Rússia ou a Ucrânia. Nesse caso, a Otan decidiu enviar tropas para reforçar a segurança dos países – só os EUA está enviando 7 mil soldados para a Alemanha. 

No discurso de anúncio da invasão à Ucrânia, Putin se antecipou à Otan e fez ameaças. Disse que qualquer interferência estrangeira nas ações militares teria consequências “nunca vistas”. Além disso, ele garantiu ao presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, que qualquer ataque contra o país será visto como um ataque contra a própria Rússia.

Pela manhã, aconteceu o óbvio. As bolsas europeias desabaram 3%, o petróleo disparou e em Wall Street o pregão começou afundando. Era o lógico, vamos dizer assim.

Embargos à Rússia e a paralisação da Ucrânia pela guerra podem ter consequências pesadas para a economia global. Os dois países são grandes fornecedores de petróleo e gás natural, duas matérias-primas com impacto em toda a economia. A novela do petróleo a gente tem acompanhado, com o preço proibitivo da gasolina e do diesel. Por isso, vale explicar as consequências dos outros produtos. O gás natural, por exemplo, produz fertilizantes usados nas lavouras aqui do Brasil. E se o produto não chega aqui, o custo de produção dispara, deixando tudo mais caro. 

Não só. Rússia e Ucrânia são grandes produtores de trigo e outras commodities. Por causa da guerra, os preços do produto dispararam ao maior patamar em nove anos na bolsa de Chicago.

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Essa guerra poderia agravar o cenário de estagflação, quando a economia esfria – porque uma guerra tende a reduzir a atividade econômica –, mas os preços sobem porque faltam produtos. Isso tem um potencial explosivo num momento em que o mundo já vinha tentando descobrir como reduzir a inflação sem matar o crescimento econômico.

Isso continua no mesmo lugar. Só que o discurso de Biden, ainda que confuso, serviu como um Rivotril para Wall Street. Pouco antes do início do pronunciamento, o índice Nasdaq começou a ensaiar uma recuperação, e após a fala o S&P 500 foi para o negativo. Em um único dia eles chegaram a cair 3% e subir outros 3%. Isso é o que se chama de volatilidade. 

O Ibovespa não teve fôlego para virar. Fechou o dia em queda de  0,37%, a 111.591 pontos. A nossa bolsa vinha se mostrando um refúgio para os investidores estrangeiros. Do início do ano até a última terça (22), data dos últimos dados disponíveis, foi registrado um saldo positivo de R$ 58,06 bilhões de aportes gringos – é mais da metade do valor aportado por aqui em 2021 (R$ 102 bilhões). Só que o Carnaval começa para valer amanhã e, na dúvida, o mercado decidiu começar a colocar uma grana no bolso.

Não custa lembrar que em 2020 todo mundo foi curtir a folia comprando e voltou emendando circuit breakers à medida em que o coronavírus ia se alastrando. É o clássico gato escaldado tem medo de água fria.

E se você não comprou dólar ontem, achando que a moeda americana poderia cair mais um pouco e voltar para o patamar dos R$ 4, perdeu a oportunidade. O dólar disparou 2,02% com a crise militar e fechou o dia sendo cotado a R$ 5,1052. Nessa busca por lugares mais seguros, o Brasil perdeu hoje o posto de colo de mãe. Os papéis da exportadoras que possuem receita dolarizada foram impulsionados: Suzano (0,56%) e Klabin (0,69%). 

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Gás e petróleo

Voltando ao petróleo, os preços dispararam durante a madrugada, com o início dos ataques russos e chegaram a superar a marca dos US$ 100 pela primeira vez em oito anos, após avançar mais de 8%. Na máxima, foram a US$ 105. Mas, assim como Wall Street, o mercado da commodity segurou os ânimos após o discurso do Biden, em parte porque o americano prometeu colocar mais barris de suas reservas no mercado, para conter a alta de preços. O tipo Brent subiu 2,31%. Já o WTI, 0,77%. 

A declaração de guerra agravou as preocupações sobre a interrupção do fornecimento de energia no mundo. A Rússia é o segundo maior produtor do mundo, atrás apenas dos EUA, e as sanções podem acabar afetando a oferta do produto.

O mercado também vê uma disparada no preço do gás natural. A cotação do gás TTF negociado na Holanda, que serve de referência de preço para o resto da Europa, subiu 51%, atingindo 135 euros por megawatt-hora.

A Rússia é o principal fornecedor de gás natural para o continente e parte dos gasodutos passam pelo território ucraniano. Ou seja, não se sabe até quando os países europeus terão acesso ao produto. 

E as sanções envolvendo essa questão energética já começaram. Na terça-feira, o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, suspendeu a certificação do gasoduto Nord Stream 2 – construído para transportar o gás natural da Rússia direto ao país via Mar Báltico, no norte do continente. O Nord Stream 2 tem a capacidade de fornecer 55 bilhões de metros cúbicos de gás por ano, o que representa mais de 50% do consumo anual da Alemanha.

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SulAmérica

Para não dizer que a gente só falou de guerra, houve um destaque no mundo corporativo por aqui. Os papéis da SulAmérica chegaram a disparar 22% no pregão depois que a seguradora anunciou a fusão com a Rede D’or. 

Em parte por causa do tumulto global, as ações perderam um pouco de força e fecharam com alta mais contida: 15,64%. Esse já é o segundo dia consecutivo de altas estratosféricas (no último pregão, a empresa disparou 25,16%, depois que o colunista Lauro Jardim noticiou, com o mercado ainda aberto, o acordo). A Rede D’or, por outro lado, caiu 7,59%; assim como a administradora Qualicorp, que despencou 15,08%. 

A Rede D’Or tem uma participação de 28,98% na Qualicorp. A Qualicorp é uma administradora de planos de saúde, que atua na venda dos planos, mas não na parte operacional da prestação de serviços. A SulAmérica é uma operadora de planos, responsável pelos atendimentos. 

Acontece que a Agência Nacional de Saúde determina que administradoras e operadoras de planos não podem fazer parte da mesma companhia. Na prática, a Rede D’Or precisaria vender as ações que detém na Qualicorp.

Pelo acordo fechado, a SulAmérica deixará de ser uma empresa independente e ficará sob o guarda-chuva da Rede D’Or. Já os acionistas da seguradora ficarão com 13,5% do capital da rede de hospitais, e as ações da SulAmérica saem da bolsa. A operação avalia a seguradora em R$ 15,1 bilhões, a maior aquisição da Rede D’Or desde que a companhia estreou na B3 em maio de 2021.

A compra até ofuscou o prejuízo de R$ 31,2 milhões registrado pela SulAmérica no quarto trimestre – no mesmo período de 2020, a empresa lucrou R$ 42,6 milhões. O resultado da companhia foi impactado pelo aumento dos casos de Covid-19 no Brasil.

Agora é esperar o desenrolar da guerra. 

Maiores altas

SulAmérica (SULA11): 15,64%

Minerva (BEEF3): 6,64%

Locaweb (LWSA3): 6,30%

Ultrapar (UGPA3): 3,62%

Raia Drogasil (RADL3): 3,49%

Maiores baixas

Qualicorp (QUAL3): – 15,08%

Rede D’Or (RDOR3): -7,59%

BRF (BRFS3): -6,23%

Azul (AZUL4): -6%

Positivo (POSI3): -3,85%

Ibovespa: -0,37%, a 111.591 pontos

Em NY:

S&P 500: 1,49%, a 4.288 pontos

Nasdaq: 3,34%, a 13.473 pontos

Dow Jones: 0,28%, a 33.222pontos

Dólar: 2,02%, a R$ 5,1052

Petróleo

Brent: 2,31%, a US$ 99,08

WTI: 0,77%, a US$ 92,81

Minério de ferro: 0,14%, US$ 137,22 no porto de Qingdao (China)

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