PCAR3 sobe 11,17% após uma notícia boa e outra com potencial de derreter ações; entenda
Ibov avança 0,26%. Nos EUA, preços ao produtor emendam três meses de deflação. Conflito no Oriente Médio infla petróleo.
Numa sexta de poucas emoções na bolsa brasileira, a novela do Grupo Pão de Açúcar garantiu alguma animação. As ações PCAR3 avançaram robustos 11,17% no dia, liderando com folga o topo das maiores altas do Ibovespa.
Faz tempo que o GPA ocupa o noticiário por movimentações bruscas na administração, fofocas e mais um punhado de decisões que não dependem diretamente dos executivos da companhia.
Pois bem: nesta sexta, o Casino – grupo francês que detém 40% do GPA – confirmou que fechou um acordo para reestruturar os negócios na Europa. A notícia não afeta diretamente a operação brasileira, mas vem na esteira das especulações. Desde pelo menos outubro do ano passado corre o rumor de que esse “levanta-defunto” europeu deve incluir a venda das ações que o Casino têm no GPA, que passaria a ser uma empresa de capital pulverizado (como a Renner, por exemplo).
Uma parte da movimentação europeia, mas com implicações na B3, ocorreu também em outubro, quando o Casino vendeu a rede colombiana Éxito, e abriu uma porta de saída para o GPA. As operações haviam sido segregadas em agosto.
E se parece que a novela é nova, podemos voltar a 2021, quando o que o GPA queria vender era a CNova, numa confusão societária que envolveu, no passado, até a Via Varejo (hoje Grupo Casas Bahia).
Para além dos acontecimentos europeus, hoje o Pão de Açúcar convocou, para o dia 22 de janeiro, uma assembleia extraordinária de acionistas. O plano é obter o aval para dobrar o número de ações da companhia, de 400 milhões para 800 milhões. Em outras palavras: dividir pela metade o quanto cada acionista tem a receber dos lucros da empresa.
Notícia como essa tem potencial apocalíptico para os papéis – que o diga Casas Bahia, ex-Via, que por sua vez é ex-Via Varejo.
Hoje, porém, investidores fizeram o contrário, e apostaram que as movimentações são positivas para a companhia. Ainda assim, vale colocar a alta em perspectiva: ontem o papel havia fechado na mínima do ano, em queda acumulada de 9,6%. A subida de hoje mal e mal zera as perdas do ano. Ainda assim, ela puxou junto as ações do Carrefour, segunda maior alta do dia.
Na ponta negativa, a MRV continou a cavar o buraco de ontem: -6,79%.
No balanço geral, deu bom para a Faria Lima: o Ibovespa avançou 0,26%, e terminou o dia a a 130.988 pontos. O dólar recuou 0,36%.
E um dos motivos está lá fora.
A inflação do atacado
Se o produto que você compra no supermercado está mais caro, muito provavelmente ele encareceu bem antes disso, lá no insumo que o produtor comprou. Essa é a inflação do atacado – ou de preços ao produtor.
Pois bem: nesta sexta, os EUA divulgaram que o PPI (esse índice de preços ao produtor) registrou uma deflação de 0,1%, a terceira consecutiva e a série mais longa de quedas desde 2020. Deflação no atacado tende a indicar que já já os produtos chegarão mais baratos – ou menos caros – ao consumidor.
O mercado financeiro lê o indicador como um sinal para reforçar as apostas de que talvez os juros americanos possam cair já a partir de março, isso depois de a inflação medida pelo CPI, divulgada ontem, ter minado um pouco essa aposta.
Isso tudo enquanto investidores continuam tentando medir qual o estrago que um juro de 5,5% ao ano é capaz de fazer na economia americana.
Nesta quinta, os bancões gringos abriram a temporada de divulgação dos resultados de 2023 lá em Wall Street. No ano passado, eles geraram receita recorde com o spread (a diferença entre o quanto o dinheiro custa e o valor que eles cobram para conceder empréstimos). Os cálculos foram feitos pela Bloomberg.
Foi, claro, uma cortesia dos juros altos do Fed combinada com a resiliência da economia americana. A tendência é que as pessoas tenham menos interesse por crédito quando ele fica mais caro. A não ser, claro, quando elas acreditam que vão ganhar mais para honrar a despesa.
Para 2024, porém, os bancões sinalizaram que haverá uma redução nos ganhos justamente porque eles esperam que os juros comecem a cair, invertendo a receita de sucesso do ano que passou.
Resultado é que Wall Street teve mixed feelings: S&P 500 e Nasdaq seguraram o azul, enquanto Dow Jones cedeu (espie mais abaixo).
Isso num dia em que o petróleo voltou a subir – por motivos não bons. EUA e Reino Unido decidiram rebater os ataques dos Houthis, que têm bombardeado navios passando pelo Mar Vermelho a caminho do Canal de Suez. Isso elevou o risco de um conflito disseminado no Oriente Médio, para além da batalha de Israel em Gaza.
De qualquer forma, a alta de mais de 1% não bastou para fazer o Brent terminar a semana em alta. Bom para o PPI, bom para a inflação. A ver as cenas dos próximos capítulos. Por enquanto, a descansar. Bom final de semana.
MAIORES ALTAS
Pão de Açúcar (PCAR3): 11,17%
Carrefour (CRFB3): 4,97%
Hapvida (HAPV3): 4,62%
Magazine Luiza (MGLU3): 3,67%
Petroreconcavo (RECV3): 3,45%
MAIORES BAIXAS
MRV (MRVE3): -6,79%
Gol (GOLL4): -4,28%
Grupo Soma (SOMA3): -1,88%
Azul (AZUL4): -1,76%
CPFL (CPFE3): -1,63%
Ibovespa: 0,26%, a 130.988 pontos. Na semana: -0,78%
Em Nova York
Dow Jones: -0,31%, a 37.593 pontos
S&P 500: 0,08%, a 4.784 pontos
Nasdaq: 0,02%, a 14.973 pontos
Dólar: -0,36%, a R$ 4,8575. Na semana, -0,30%
Petróleo
Brent: 1,14%, a US$ 78,29. Na semana, -0,60%
WTI: 0,92%, a US$ 72,68. Na semana, -1,53%
Minério de ferro: -1,76%, a US$ 133,45 na bolsa de Dalian