PETR4, PRIO3 e RRRP3 disparam – e Ibovespa cai – após alta de 6,3% no barril
As petroleiras soltaram fogos com a manobra da Opep+ para bombar a cotação do Brent. Todo o resto do mercado lamentou, já que combustíveis mais caros alimentam a inflação.
Existe uma quantidade brutal de vida em um copo de água do mar. O oceano é um sopão pululante de bactérias, protozoários, algas grandes e pequenas, crustáceos e uma porção de outros bichinhos, micróbios e seres fotossintetizantes que não têm força para nadar contra as marés e correntes: eles só flutuam preguiçosos, até virarem comida de baleia. Essa galera recebe um nome genérico: plâncton.
A parcela do plâncton que não acaba no estômago de um cetáceo, à moda Pinóquio, morre e afunda. Se mistura à areia e às rochas no leito e vai sendo compactada ao longo de milhares de anos, conforme mais camadas de sedimento caem por cima e formam um pavê geológico. Os cadáveres dessas criaturinhas, sob calor e pressão, se transformam em um óleo preto pegajoso.
3,5 bilhões de anos após o início desse processo, surgiu o Homo sapiens. Ele inventou o motor à combustão, e desde então o tal óleo vem causando mais alvoroço na civilização do que o antagonista de Bob Esponja – um exemplar de plâncton chamado… Plankton.
Na noite de domingo, você já sabe, a Opep+ – um cartel de 23 países que detêm 44% da extração mundial de petróleo, e 81% das reservas de existência comprovada – anunciou um corte de produção de um milhão de barris por dia (um terço de uma Petrobras). A ideia era forçar a cotação da commodity para cima, e foi isso que aconteceu: o Brent fechou em alta de 6,31%, a US$ 84,93. Com menos oferta e a mesma demanda, os preços não têm outra direção para correr que não para cima.
Ótima notícia para as petroleiras da bolsa. As ações PRIO3, PETR4 e PETR4 passaram o dia entre as maiores altas do Ibovespa, e terminaram o pregão no pódio (veja a seção “Maiores Altas”, lá embaixo). O desempenho da 3R Petroleum (RRRP3) não foi tão exuberante, mas tampouco deixou a desejar: alta de 1,56%
O problema é que a alta do petróleo, no contexto atual, é ruim para todo o resto da economia. Virtualmente todas as mercadorias da Terra, afinal, queimam chorume de plâncton para sair do lugar: navios cargueiros, aviões, caminhões. E quando o frete de alimentos, roupas e afins fica mais caro por causa de uma alta nos combustíveis, esse custo extra acaba transferido, em última instância, para os consumidores, nas gôndolas.
Isso causa inflação, e é justamente ela que os maiores governos do Ocidente vem tentando combater desde o ano passado, com altas brutais na taxa básica de juros de seus países. “Selics” maiores, afinal, esfriam a atividade econômica, diminuem a circulação de mercadorias e forçam o preço dos combustíveis e fretes para baixo.
Uma alta forçada na cotação do Brent, portanto, pode dificultar os esforços de combate à inflação dos bancos centrais mundo afora. E os investidores, que mal veem a hora dos juros começarem a cair para voltar à renda variável, terão pesadelos caso a alta nos juros persista. Isso explica, em partes, por que o Ibovespa fechou em queda de 0,37%.
O minério de ferro deu seu quinhão de ajuda para esse desfecho. A outra commodity que move o mercado de ações brasileiro caiu 3,59% em Cingapura e 2,04% no porto de Dalian, China, empacando o desempenho da Vale e do clube das siderúrgicas/mineradoras brasileiras (VALE3, +0,02%). Não ajudou o fato de que as exportações brasileiras de minério de ferro caíram 19% em março na comparação com o mesmo mês do ano anterior – um dado divulgado hoje pela Secretária de Comércio Exterior (Secex).
Nos EUA, o comportamento foi parecido. O índice Dow Jones, um dinossauro que contém empresas sólidas e antigas – inclusive algumas associadas à extração de petróleo e gás natural –, passou o dia no verde, enquanto o Nasdaq, recheado de empresas de tecnologia avessas a juros altos, caiu (veja mais abaixo).
Agora, resta ver se o choque pegajoso promovido pela Opep+ ontem afetará mesmo, em longo prazo, os índices de inflação e as expectativas em torno de juros mundo afora.
Até amanhã.
Maiores altas
Petrobras ON (PETR3): +4,72%
Petrobras PN (PETR4): +4,48%
Prio (PRIO3): +4,01%
Natura (NTCO3): +3,11%
Suzano (SUZB3): +2,76%
Maiores baixas
Hapvida (HAPV3): -7,25%
Renner (LREN3): -6,64%
Marfrig (MRFG3): -6,33%
Grupo Soma (SOMA3): -5,55%
Azul (AZUL4): -4,41%
Ibovespa: -0,37%, a 101.506 pontos
Em NY:
S&P 500: +0,37%, a 4.124 pontos
Nasdaq: -0,27%, a 12.189 pontos
Dow Jones: +0,98%, a 33.600 pontos
Dólar: +0,05%, a R$ 5,07
Petróleo
Brent: +6,31%, a US$ 84,93
WTI: +6,28%, a US$ 80,42
Minério de ferro: 3,59%, a US$ 120,70 a tonelada, na bolsa de Cingapura