PetroRio dispara em dia difícil para o Ibovespa
Enquanto uns choram com o preço da gasolina, outros vendem lenço. Caso da PetroRio (7,44%). Já a outra Petro não acompanhou. E você sabe por quê.
Dos dez pregões deste mês de setembro, cinco foram negativos – e já somam uma desvalorização de 3%. Enquanto o mercado sofre, porém, os acionistas da PetroRio comemoram.
Os papéis da companhia subiram outros 7,44%, por conta da alta firme e forte do petróleo (e agora somam mais de 10% de alta na semana). A commodity inflamável ganhou ainda mais força hoje com a queda de 6,422 milhões de barris nos estoques americanos – a previsão era de recuo menor, de 2,5 milhões de barris.
A chegada de uma nova tempestade no Golfo do México também pode causar novas interrupções na produção, fazendo o preço subir ainda mais. O resultado foi que o tipo Brent, que é referência internacional, valorizou mais de 2%, enquanto o WTI (referência nos EUA) avançou 3%.
E a Petrobras?
Bom, as ações da empresa também subiram. Mas não surfaram no barril como as da PetroRio. A alta foi bem mais modesta, de 1,74%. Lógico: há o medo de intervenção do governo.
Gasolina a R$ 7, e com viés de alta, não é exatamente uma boa para um governo que pretende se reeleger. Bolsonaro deixa claro dia sim e outro também que pretende fazer alguma coisa. No caso, colocar a Petrobras para pagar o pato. Ou seja: obrigar a empresa a vender gasolina e diesel abaixo do preço de custo no mercado internacional (o Brasil importa mais ou menos 20% dos combustíveis que usa, e quem faz essa importação é a Petro – não a Rio, lógico, a Bras.
No começo do ano, Bolsonaro chegou até a mudar o presidente da companhia para ver se barrava os repasses de preços. Na época, a Petro chegou a perder R$ 28 bilhões em valor de mercado. Antes, quando Dilma fez a Petro pagar o pato das altas no petróleo, a estatal quase deixou de existir.
Bradespar
Os papéis da companhia de investimentos do Bradesco terminaram o dia em alta de 5,23%. Motivo: ela vai distribuir papéis da Vale entre seus acionistas.
A Bradespar é uma empresa criada no ano 2000 para administrar a carteira de ações que o Bradesco detinha no mercado. Hoje, todas essas ações são da Vale.
Ter Bradespar é ter Vale. Só tem um problema. A participação da Bradespar na Vale (gigantes 5,73%) equivale a R$ 33 bilhões. Mas sabe qual é o valor somado de todas as ações da Bradespar? Até hoje de manhã era de R$ 21 bilhões. 30% menos. Ou seja: o mercado entende que é melhor ter Vale diretamente do que participar da controladora – o que faz todo o sentido, já que a controladora tem seus muitos custos embutidos simplesmente para existir como uma companhia à parte.
E temos que, hoje, a Bradespar anunciou que vai se desfazer de 42% de suas ações da mineradora. Vai vender no mercado? Não: vai distribuir para seus acionistas, na forma de uma ação da Vale para cada três que você tiver da Bradespar.
Aí é só fazer a conta de padaria. Como as ações da Vale têm um valor intrínseco maior, sem o “desconto” de 30%, entende-se que os atuais acionistas da Bradespar terão um ganho imediato ao ganhar ações da Vale de presente, (mesmo que isso mine o valor intrínseco da própria Bradespar. Lógico: com menos poder dentro da Vale, ela passa a ser uma empresa menor.
Ao fim e ao cabo, a própria festa em torno da decisão arrefeceu ao longo do dia. A Bradespar começou subindo 7%. Fechou em 5%.
Gol
Quem também viu suas ações subirem foi a Gol (2,59%). A companhia aérea expandiu o seu acordo de codeshare com a American Airlines. No jargão aeronáutico, o codeshare é um acordo entre duas companhias aéreas para compartilhar os mesmos voos e canais de venda. Na prática, significa que o cliente compra as passagens da Gol, mas o voo pode ser operado pela empresa americana.
O acordo de codeshare, que existe desde fevereiro de 2020, agora será exclusivo pelos próximos três anos e prevê que a American Airlines faça um investimento de US$ 200 milhões (o equivalente a R$ 1,05 bilhão) na Gol.
“Acreditamos que isso fortalecerá ainda mais a presença da Gol nos mercados internacionais, acelerará nosso crescimento de longo prazo e maximizará o valor para nossos acionistas”, afirmou o CEO da companhia, Paulo Kakinoff. A parceria permite que a empresa brasileira atenda a mais de 30 destinos nos EUA.
Ibovespa em baixa
As altas que vimos até aqui foram a exceção na bolsa. O Ibovespa caiu 0,96%, aos 115.062 pontos. E olha que o índice até tinha motivos para subir. O Banco Central divulgou o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB).
Em julho, o índice avançou 0,60% ante junho (quando tinha subido 0,92%), e superou as projeções do Broadcast, de alta de 0,40%. Apesar da desaceleração, é o segundo mês consecutivo de alta. Já na comparação com o mesmo período do ano passado, o indicador teve crescimento de 5,53%.
Acontece que o mercado brasileiro deixou Wall Street de lado (veja as altas abaixo) e seguiu de perto a desaceleração da China. Depois de meses crescendo números nada pandêmicos, as vendas no varejo chinês subiram “só” 2,5% em agosto (a expectativa era de 7%). Foi um baque para quem registrou alta de 8,5% em julho e 12% em junho.
A produção industrial também sofreu: em agosto, o indicador subiu 5,3%, mas também abaixo das projeções, que eram de 5,6%. No mês anterior, a alta foi de 6,4%.
Além disso, a construção civil está perdendo força por lá. Nos primeiros oito meses de 2021, os investimentos na área já caíram 3,2%. E isso acaba afetando a demanda por aço e, consequentemente, de minério de ferro – que caiu 4,13% e registra o menor preço em 11 meses.
E é aí que o problema chega aqui no Brasil: a Vale, que hoje representa absurdos 13,9% do Ibovespa, caiu 2,50% – o que ajudou a colocar água no chope do índice, ainda que não tenha destruído a festa lá do povo da Bradespar.
Maiores altas
PetroRio: 7,44%
Bradespar: 5,23%
Gol: 2,59%
Minerva: 2,02%
Petrobras: 1,74%
Maiores baixas
Cogna: -4,42%
SulAmérica: -4,05%
Americanas: -4%
Banco Inter: -3,48%
CCR: -3,48%
Ibovespa: queda de 0,96%, aos 115.062 pontos
Em NY:
S&P 500: alta de 0,85%, aos 4.480 pontos
Nasdaq: alta de 0,82%, aos 15.161 pontos
Dow Jones: alta de 0,68%, aos 34.814 pontos
Dólar: queda de 0,38%, a R$ 5,2375
Petróleo
Brent: alta de 2,53%, a US$ 75,46
WTI: alta de 3,05%, a US$ 72,61
Minério de ferro: queda de 4,13%, US$ 116,65 no porto de Qingdao (China)