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Super quarta, crise bancária e novela do arcabouço fiscal derrubam Ibovespa

Haddad jura que não há cisão entre uma ala política e uma ala econômica na disputa em torno das novas regras, mas Mercadante promete pitacos. Lula mantém o compromisso de apresentar a proposta até dia 24 – o mercado adoraria que fosse antes do Copom, na quarta (22). 

Por Bruno Vaiano
Atualizado em 21 out 2024, 10h37 - Publicado em 20 mar 2023, 17h34
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 (Juliana Krauss/Fotos: Getty Images/Você S/A)
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Foi demais para o coraçãozinho do Ibovespa: a crise no setor bancário lá fora e o suspense em torno da apresentação do novo arcabouço fiscal aqui no Brasil – dois dramalhões que se arrastam desde a semana passada – se somaram às reuniões dos comitês de política monetária em Washington e Brasília, que vão começar amanhã (21) e terminar em uma “super quarta” no dia 22.

O resultado foi uma segunda melancólica, com o índice em queda de 1,04% e investidores cautelosos. A B3 movimentou apenas R$ 19 bilhões, dois terços do volume usual de negociações. Com tanta indecisão no horizonte, nem todo mundo quis pagar para ver. 

Sobre as reuniões nos BCs, quase tudo que há para dizer já foi repetido à exaustão pela imprensa nos últimos dias – basta recapitular. No Brasil, a expectativa unânime é de que a Selic permaneça em 13,75%. Os mais otimistas dentre os otimistas acreditam que o primeiro corte na taxa básica virá na reunião do Copom de maio, mas a maioria especula que chegaremos ao segundo semestre ainda com os juros nesse patamar. 

De novidade, nessa seara, temos o Boletim Focus da semana – em que as expectativas de inflação para 2023 caíram, mas as de 2024, 2025 e 2026 subiram. Os números exatos para cada ano foram de 4,11%, 3,90% e 4%, contra 4,02%, 3,80% e 3,79% no documento da semana anterior. Os números ainda estão dentro da meta atual, mas cada vez mais próximos do teto de 4,5% e distantes do núcleo de 3%. Será que uma nova meta vem aí? 

Hoje também teve um cutucão desenvolvimentista em nossa ortodoxa taxa de juros. Que não partiu de Gleisi Hoffmann no Twitter, veja bem, mas de Joseph Stiglitz, vencedor do prêmio Nobel de Economia em 2001. Em um seminário promovido pelo BNDES, ele se disse chocado com os 8% de juro real: “É impressionante que o Brasil tenha sobrevivido a isso. E parte da razão disso é que vocês têm bancos estatais oferecendo fundos a empresas produtivas para investimentos de longo prazo com juros menores”. 

Nos EUA, a situação é um pouco mais nebulosa. Até a bomba do SVB estourar, era dado como certo que Powell e companhia aprovariam uma alta de 0,5 ponto percentual. Agora, com os juros prestes a darem um peteleco no castelo de cartas dos bancos, o monitoramento do CME Group fala em 74% de chance de uma alta de apenas 0,25 p.p. no Fomc que termina nesta quarta. 

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Crise bancária 

Falando em bancos, a crise está gerando um bocado de volatilidade nas ações do setor. Que o diga a UBS: ela desabou 14,5% instantaneamente na abertura do pregão de hoje em Zurique, mas então recuperou as perdas e fechou em ligeira alta de 1,26%. 

As autoridades suíças disponibilizaram US$ 280 bilhões para o maior banco do país aguentar o tranco da aquisição do Credit Suisse, seu ex-concorrente com US$ 5,4 bilhões em dívidas que foi comprado às pressas por bananescos US$ 3,2 bilhões (uma história que a Você S/A explica melhor neste texto).

Esse pacotão de auxílio equivale a um terço do PIB do país, de aproximadamente US$ 830 bilhões, e é a parte mais visível de um esforço mundial, liderado pelo Fed, para evitar um efeito-dominó no ecossistema bancário do Ocidente. Essa injeção coordenada de liquidez manteve Nova York em alta ao longo do dia: S&P 500 fechou em alta de 0,89%; Nasdaq, 0,39%.

Na Europa, as ações de bancos permaneceram em queda, mas desaceleraram apoiadas no trabalho de bombeiro dos suíços. Por aqui, o dia fechou em relativa estabilidade: Itaú (ITUB4) terminou o pregão em ligeiríssima alta de 0,13%, enquanto Banco do Brasil (BBAS3) registrou perdas de -0,67% e o Bradesco (BBDC4) deu um tropeço mais forte, de -1,57%. 

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Arcabouço fiscal

Haddad insistiu, hoje mais cedo, que não há cisão entre uma ala política e uma ala econômica no governo Lula no que diz respeito ao novo arcabouço fiscal. Fofo, mas é como dizer que não havia uma rivalidade entre Pelé e Maradona só porque os dois se diziam amigos. Coisa que Mercadante, da ala dita política, deixou claro: 

O ministro Haddad pode esperar de mim e do banco [do BNDES] total lealdade e parceria, ao contrário das especulações que são publicadas”, disse a título de “assopra”, para depois soltar a parte do “morde”: “Agora, não nos peçam para deixar de dizer o que nós pensamos para ajudar o governo a acertar, a encontrar o melhor caminho, a buscar as melhores práticas. É para isso que estamos aqui”.

Em suma, vai ter pitaco sim

Por ora, predomina no discurso oficial a ideia de que o novo arcabouço será equilibrado, com metas ortodoxas, mas uma flexibilidade bem maior em relação a investimentos e gastos sociais que a permitida pelo teto atual. Ou seja: nenhuma novidade. 

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Geraldo Alckmin resumiu o discurso-padrão de agrado à Faria Lima durante o mesmo evento do BNDES de que Stiglitz participou, hoje mais cedo: “Acho que o governo encaminha, nos próximos dias, o projeto de ancoragem fiscal, que vai também combinando curva da dívida, de outro lado superávit e de outro lado o controle do gasto. Uma medida inteligente, bem feita, que vai trazer bastante segurança na questão fiscal”. 

Hoje, Haddad se encontrou com os presidentes da Câmara e do Senado para discutir a proposta. Ele e Lula mantêm a promessa de liberar o novo arcabouço ao público até o dia 24, quando o presidente viaja à China para compromissos oficiais. 

Apertem os cintos, e até amanhã – que promete ser mais um dia de incerteza. Por enquanto, aproveite para entender mais sobre arcabouços fiscais aqui

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Maiores altas

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São Martinho (SMTO3): +4,36%
CSN Mineração (CMIN3): +1,73%
Cielo (CIEL3): +1,64%
Raízen (RAIZ4): +1,21%
Bradespar (BRAP4): +1,01%

Maiores baixas

Hapvida (HAPV3): -8,44%
Alpargatas (ALPA4): -7,07%
JBS (JBSS3): -6,93%
Eztec (EZTC3): -6,31%
Locaweb (LWSA3): -6,23%

Ibovespa: -1,04%, aos 100.922 pontos


Em NY:

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S&P 500: +0,89%, aos 3.951 pontos
Nasdaq:  +0,39%, aos 11.675 pontos
Dow Jones: +1,20%, aos 32.244 pontos

Dólar: -0,52%, a R$ 5,24


Petróleo

Brent: +1,12%, a US$ 73,79
WTI: +1,33%, a US$ 67,82

Minério de ferro: -2,48%, a US$ 128,18 a tonelada na bolsa de Dalian

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