Tramitação do arcabouço e minério em alta podem alegrar o Ibovespa
Nos EUA, Wall Street vê a luz no fim do túnel da dívida pública – e se alegra com o aumento dos depósitos no Western Alliance, sinal de que o medo da crise bancária arrefeceu.
Os coletinhos da Faria Lima digeriram bem a mudança na política de preços da Petrobras e acordaram animados com a votação, hoje, de um requerimento de urgência para acelerar a tramitação do arcabouço fiscal no Congresso.
O relator Carlos Cajado incluiu alterações bem vindas no texto de Haddad e companhia, que incluem a obrigatoriedade de relatórios bimestrais para monitorar despesas e receitas, bem como a adoção de gatilhos para cortar gastos automaticamente caso as despesas furem a meta. Isso diminuiu o medo de que a dívida pública brasileira saia de controle em longo prazo, o que faria mal para os juros futuros.
Os analistas continuam batendo na tecla de que o cumprimento das regras, ano que vem, depende de um aumento difícil nas receitas – mas parecem dispostos a engolir o novo arcabouço desde que ele inclua as mudanças propostas pelos deputados.
Na Ásia, o minério de ferro teve outro dia bom: fechou em alta 2,96% na bolsa portuária de Dalian, na China, a US$ 106,81 a tonelada. Em Singapura, a cotação subiu ainda mais generosos 3,15%, e fechou em US$ 108,15. Ótima notícia para as ações da Vale e da turminha heavy metal de mineradoras e siderúrgicas, que dependem da demanda chinesa por seus produtos.
Trata-se de uma notícia ambígua, porém, já que os últimos dados macroeconômicos chineses mostram uma economia débil – relatamos, na última segunda (15), que a inflação chinesa em abril foi de apenas 0,1% (na base anual, veja bem).
Isso é sinal de que a economia está estagnada – metas de inflação de 2% são consideradas saudáveis em países desenvolvidos justamente porque são sinal de que o país está crescendo em uma taxa saudável, o suficiente para que haja um aumento constante no PIB sem que os preços saiam de controle.
A esperança com o minério nasce principalmente da ideia de que o governo chinês será obrigado a aprovar pacotes de estímulo para tirar a economia do lugar no tranco – o que é sinônimo de dinheiro na veia do setor imobiliário, já que a construção civil (maior consumidora da commodity da Vale) corresponde a mais de 20% do PIB do país.
Enquanto isso, nos EUA…
Em uma crise bancária, o maior problema é o pânico. Com medo de falências, os clientes correm para sacar o dinheiro que têm depositado em todas as instituições – mesmo as que estão saudáveis. E o complicado é que nenhum banco realmente guarda em um cofre o dinheiro que você põe lá. Ele pega sua grana e empresta para outra pessoa – digamos, alguém que está financiando um carro ou apartamento –, pondo para rodar na economia as verdinhas que você optou por deixar paradas.
Resultado: os bancos multiplicam magicamente as cifras depositadas lá. O que é ótimo em quase todas as circunstâncias, mas péssimo se todo mundo resolve sacar tudo que tem ao mesmo tempo, porque a bufunfa simplesmente não está lá. Resultado: quando há uma corrida bancária – um festival de saques –, a instituição é obrigada a vender suas reservas (na forma de títulos públicos, por exemplo) para permitir os saques. E assim ela vai se fragilizando, até perder todo o caixa e falir. Nós explicamos em mais detalhes esse efeito-dominó neste texto.
(É por isso que existem instituições como o Fundo Garantidor de Créditos – o FGC, que, no Brasil, garante depósitos de até R$ 250 mil caso seu banco vá para as cucuias.)
Ontem, o banco regional Western Alliance, sediado no Arizona, revelou que os depósitos por lá cresceram US$ 1,8 bilhão desde o final do primeiro trimestre, para US$ 49,4 bilhões. Isso, evidentemente, é o oposto de uma corrida bancária: as pessoas estão confiantes o suficiente para pôr dinheiro no banco, em vez de tirar. Sinal de que o pânico com uma crise, desencadeado pela falência do SVB em março, arrefeceu. Ótimo. As ações do banco subiam pirotécnicos 9,37% no pré-market, às 7h54 da manhã.
Mas nem tudo são flores. Os investidores estão angustiados com o imbróglio em torno do teto da dívida pública, que Biden furou com gosto em janeiro, ultrapassando o limite de US$ 31,4 trilhões. Quando isso acontece, o Congresso americano precisa decidir entre duas opções: decretar calote (pouco provável) ou aprovar um estouro no teto (mais provável). Desde 1960, os EUA esticaram o teto 78 vezes.
Os republicanos até topam furar de novo – mas com a condição de que Biden adote medidas de austeridade fiscal que ele não está disposto a aceitar. O resultado é que esse quiproquó está se estendendo, e chegando perigosamente próximo da data-limite para resolvê-lo, que é 1º de junho.
Outra fonte de desespero quase existencial, como sempre, é o Fed. Os dados de produção industrial dos EUA vieram movidos a Biotônico Fontoura: o dado cresceu 0,5% de março para abril, contra o 0% previsto pela bola de cristal do mercado. Sinal de algo que já explicamos dezenas de vezes aqui na Você S/A: de que a economia está forte apesar das altas sucessivas na taxa básica de juros pelo Fed. Isso autoriza o banco central americano a pegar ainda mais pesado nos juros para segurar a inflação – e juros altos são péssimos para a renda variável, motivo pelo qual as bolsas choram o banco central americano está hawkish (entenda o termo aqui).
De acordo com a plataforma de monitoramento do CMEGroup, ainda há 78% de chance de que a “Selic” dos EUA seja mantida na janela entre 5% e 5,25% na próxima reunião do comitê de política monetária, o Fomc. Ou seja: o medo não é tanto de que haja mais uma alta. A questão, agora, é quando a taxa básica começa a cair.
Os mais otimistas adorariam que fosse setembro. Mas dados macroeconômicos fortes tornam mais provável que o Fed queira ministrar o remédio amargo dos juros por mais tempo. Austan Goolsbee, dirigente da sucursal de Chicago, falou que considera “prematuro” imaginar que os juros desçam do patamar dos 5% ainda neste ano. Outros Fed boys (o apelido engraçadinho dos dirigentes) falaram até que não descartam mais altas.
Seja como for, a esperança de que o problema da dívida se resolva logo, somada aos bons presságios em torno da crise bancária, puseram os futuros de Nova York para cima, na contramão das quedas no pregão regular de ontem. S&P 500 estava em alta de 0,29% às 7h30; Nasdaq em 0,16%. Veja aqui embaixo, no humorômetro.
Bons negócios,
Futuros S&P 500: 0,29%
Futuros Nasdaq: 0,16%
Futuros Dow: 0,32%
*às 7h30
Rede D’Or divulga lucro e ações sobem 7%
Ontem, a Rede D’Or divulgou um lucro líquido de R$ 287,4 milhões no primeiro trimestre de 2023 – alta de 36,5% em relação ao ano anterior. A receita cresceu 14,1%, para R$ 6,1 bilhões. A dívida também aumentou, para R$ 15,5 bi, uma alta de 9,2%. Por outro lado, a alavancagem financeira, indicador que mostra o tamanho da dívida em relação aos lucros da empresa, ficou em 2,7 vezes – ou seja, a dívida da companhia é 2,7x maior que seu EBITDA. É uma queda de 0,2 pontos em relação a 2022. Quanto menor a alavancagem melhor, já que, assim, o caixa fica menos comprometido com o pagamento do crédito.
Os resultados animaram os investidores: as ações RDOR3 subiram 6,72% no pregão de ontem, a R$ 27,80. Em um ano, os papéis registram queda de 17,8%.
Brasil, sem horário definido: Câmara dos Deputados: votação da urgência do arcabouço fiscal;
Brasil, 8h: FGV divulga IGP-10 (indicador que mede a inflação) de maio;
Brasil, 9h: IBGE divulga dados de vendas no varejo restrito em março.
Índice europeu (EuroStoxx 50): 0,08%
Bolsa de Londres (FTSE 100): 0,00%
Bolsa de Frankfurt (Dax): 0,32%
Bolsa de Paris (CAC): -0,13%
*às 7h40
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -0,45%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): 0,84%
Hong Kong (Hang Seng): -2,09%
Brent*: 0,55%, a US$ 75,32 o barril
Minério de ferro: 2,96%, a US$ 106,81 a tonelada, na bolsa de Dalian
*às 7h49
Afinal, a China se tornará maior que os EUA?
Depois de dois anos convivendo com bloqueios rigorosos da fronteira para conter a Covid, a China reabriu suas portas para o mundo no começo deste ano. Apesar disso, alguns analistas estão reduzindo suas projeções de crescimento do tigrão asiático. O Goldman Sachs, por exemplo, estima que a economia chinesa ultrapassará a americana em 2035, e se tornará no máximo 14% maior que o Titio Sam. Em 2011, o mesmo banco estimava a ultrapassagem para 2026, e calculava que a China se tornaria até 50% maior que os EUA.
Três fatores explicam a nova dose de ceticismo: população encolhendo, produtividade desacelerando e moeda local subvalorizada. A The Economist explica aqui.
A guerra argentina contra a inflação
O governo da Argentina anunciou um novo pacote de medidas para conter a inflação, que alcançou os assombrosos 109% ao ano em abril – a maior alta para o país em 32 anos. Agora, a taxa básica de juros subirá de 91% para 97% ao ano. Em abril, ela já havia subido de 81% para os atuais 91%. Nesta reportagem, a Folha explica a estratégia do governo argentino para colocar rédeas na desgovernada alta de preços no país.