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US$ 64,8 bi: Bernie Madoff e o maior esquema de pirâmide da história

Por mais de três décadas, uma lenda de Wall Street manteve uma operação criminosa bilionária funcionando debaixo do nariz das autoridades. Então veio a crise de 2008.

Por Bruno Vaiano | Design: Brenna Oriá | Ilustrações: Estevan Silveira | Edição: Alexandre Versignassi
Atualizado em 18 out 2024, 14h10 - Publicado em 5 set 2022, 20h07
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 (Estevan Silveira/VOCÊ S/A)
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Bernie Madoff foi presidente da Nasdaq e fundador de uma firma de investimentos que, até 2008, era a sexta maior negociadora de ações que integram o S&P 500. Ele chegou a ser responsável por 5% de tudo que era comprado e vendido na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) diariamente – para não falar na fama de filantropo e no lugar cativo nas fileiras da elite judaica de Nova York. Almoçar com esse cara era quase tão bom quanto almoçar com Warren Buffet.

Desde 1987, ele tocava um fundo de cobertura (hedge fund) que tinha uma proposta simples: você dava uma (bela) grana para Madoff, ele empregava uma estratégia de investimento chamada “conversão split-strike“, que minimiza riscos, e então entregava algo entre 10% e 20% ao ano. Uma cifra alta suficiente para deslumbrar, mas realista o bastante para não parecer golpe.

A garantia? Soy jo. Madoff era tão famoso e benquisto no meio financeiro que não ocorreu a ninguém duvidar. Até porque, a ideia de um hedge fund é justamente deixar sua grana na mão de um trader experiente e confiar nas manobras complexas de que ele lança mão para ganhar mesmo quando a bolsa está num dia ruim. 

Na prática, a tal conversão split-strike era tão fictícia quanto os selos do clássico golpe de Charles Ponzi (leia mais aqui): Madoff só estava pagando os retornos dos investidores antigos usando a grana que os novos depositavam. Era um esquema de pirâmide financeira; o maior da história da civilização. 

O que o tornava a isca de Madoff tão atraente era justamente o equilíbrio utópico entre risco e retorno. Em uma palestra a funcionários do Google, o especialista em finanças comportamentais Andrew Lo mostra um gráfico com quatro investimentos da vida real, sem identificá-los – e pede que a audiência escolha um deles.

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Quase todo mundo opta por uma curva que cresce bem mais que os títulos públicos americanos, mas sem nenhuma das flutuações radicais dos gráficos de ações. Então, Andrew revela: essa é justamente a curva do esquema de Madoff.

Ainda em 1999, um analista financeiro chamado Harry Markopolos sacou tudo fazendo um pente-fino nos balanços do fundo. Ele tentou avisar a Comissão de Valores Mobiliários (SEC) dos EUA pelo menos quatro vezes ao longo dos anos seguintes, mas ninguém ouviu a denúncia. 

A brincadeira continuou até 2008. E aí ruiu. A crise do subprime fez clientes demais sacarem a grana, o que deixou Madoff sem fundos para seguir em sua pilantragem.

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Na data da revelação, as 4.800 vítimas do sujeito tinham, ao todo, US$ 64,8 bilhões depositados. A lista de 162 páginas era variada: incluía Steven Spielberg, o time de baseball New York Mets e bancos inteiros – inclusive o Santander e o HSBC.

Madoff morreu na cadeia aos 82 anos, cumprindo o décimo segundo dos 150 anos de pena. Foi condenado a pagar US$ 170 bilhões em indenizações, mas só pôde arcar com uma pequena parcela, vendendo seus bens. Há pelo menos cinco casos de suicídio relacionados ao caso (incluindo um dos filhos de Madoff, que denunciou o pai). 

Não dá para superar Madoff em quantidade: ele é o maior pilantra da história em valores absolutos. Mas dá para superar em qualidade, com golpes mais sofisticados. É caso do Lobo de Wall Street – assunto do próximo texto da série Grandes Picaretas da História, que você lê neste link

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