Vale desaba -3,67% e puxa queda do Ibovespa: -1,60%
Relatório da mineradora mostrou queda de 4% na produção de minério. Em NY, bolsas também caem, de olho na guerra e em Livro Bege do Fed.
O mercado tem os olhos fixos no Oriente Médio. Ontem, o conflito tomou novas proporções depois que um míssil atingiu um hospital em Gaza. Segundo o Ministério da Saúde palestino, 471 pessoas morreram e outras 314 foram feriadas.
Israel e Hamas trocam acusações sobre a autoria do ataque, e países vizinhos reagem: logo depois do desastre, líderes do Egito, Jordânia e Palestina cancelaram uma reunião com Joe Biden, que está agora em Israel. Em sua visita à Tel-Aviv, Biden prometeu que vai pedir ao Congresso americano um “pacote de defesa sem precedentes a Israel”.
A escalada da guerra aumenta o receio de que outros países da região se envolvam no conflito. Em especial o Irã, grande produtor de petróleo e um dos controladores do Estreito de Ormuz, por onde escorre um terço de toda produção mundial de petróleo. Desde o início da guerra, em 7 de outubro, o petróleo já subiu 8,24%. Um levantamento da Bloomberg estima que, caso o Irã se envolva diretamente no conflito, o barril de petróleo deve disparar em até US$ 64. A alta reduziria o PIB global em 1pp e aumentaria a inflação em 1,2pp.
O cenário faz com que investidores busquem se blindar de riscos. Em NY, o S&P 500 caiu 1,34%, e o Nasdaq, -1,62%.
Por aqui, a Petrobras ocupou o posto de maior alta do dia, impulsionada pela alta do petróleo (hoje, o brent subiu mais 1,77%). Mas o desempenho não foi suficiente para tirar o Ibovespa do buraco. Acompanhando o exterior, o índice fechou em queda de 1,60%. Das 86 ações, 72 registraram perdas.
Lá fora, a aversão ao risco aumentou durante a tarde, quando o Fed divulgou o Livro Bege, um relatório que descreve as condições econômicas dos estados americanos. O que o documento mostrou foi uma economia ainda resiliente, com mercado de trabalho forte e preços em leve alta. “A maioria dos distritos indicou pouca ou nenhuma mudança na atividade econômica desde o relatório de setembro”, diz o documento.
O dado reforça a hipótese de que os juros americanos devem demorar para cair. Ontem, bons números do setor de varejo e indústria já haviam desanimado o mercado.
VALE3: -3,67%
Divulgado hoje, o relatório trimestral de produção da Vale entregou uma mescla de notícias boas e ruins. O documento é visto como um aperitivo antes do balanço, que será divulgado em 26 de outubro.
Vejamos: a Vale produziu 86,24 milhões de toneladas de minério de ferro durante o terceiro trimestre, uma queda de 4% em relação ao mesmo período de 2022. Segundo a empresa, tem a ver com problemas de produção em dois de seus sítios de mineração: Paraopeba, em Minas Gerais, e Serra Norte, no Pará.
Por outro lado, as vendas de minério subiram para 69,7 milhões de toneladas, alta de 6,6% na comparação anual. E o minério produzido no período é considerado de melhor qualidade – ou seja, com mais teor de ferro, o que eleva seu valor no mercado. Legal.
A produção de cobre aumentou 9,8%. Só que a empresa cortou em 5% a previsão para a produção total do metal para 2023.
Para alguns analistas, o combo de notícias é um neutro para o futuro. Tipo: segundo o Bradesco BBI, o corte na produção de cobre deve reduzir o Ebitda da companhia em 4% no ano – só que essa fissura pode ser tapada pela melhora nas vendas e preços do minério. Acabaria no zero a zero. Mas, para o balanço do 3TRI, a queda de produção do minério pode pesar. O Goldman Sachs revisou a projeção do Ebitda de US$ 4,7 bilhões para US$ 4,5 bilhões para o trimestre. A XP cortou a previsão em 3%, também para US$ 4,5 bilhões.
O horizonte pessimista ajudou a afundar os papéis da mineradora: VALE3 -3,67%. Não foi só o relatório, claro. Da China, notícias sobre o mercado imobiliário não deram chance para as mineradoras mundo afora.
Na madrugada de hoje, o país divulgou seu PIB do terceiro tri: crescimento de 4,9% em relação ao ano anterior, acima da previsão de 4,4% (coletada pela Reuters). Sinal de que os esforços para reanimar a economia do país começam a surtir efeito – e que a meta de crescimento de 5% no ano ainda não se tornou impossível.
Só que a construção civil deixou a desejar. O número de novas construções tombou 23,4%, e a venda de novas moradias caiu 3,2%. O setor imobiliário, que corresponde a uns 30% do PIB do país, tem sido o grande motor da crise chinesa. E a novela parece longe de acabar. Ao que tudo indica, a Country Garden, maior imobiliária privada da China, acaba de dar um calote de US$ 15,4 milhões, parte de sua dívida internacional. O prazo para o pagamento se encerrava hoje, e a empresa não se pronunciou a respeito. Consultados pela Reuters, credores afirmaram não ter recebido a grana.
O default aumenta as apostas de que a Country Garden terá que passar por um processo de reestruturação – se rolar, este será o maior da história do país. É um indicativo de que a China ainda precisa de muito para se livrar dessa bomba atômica. E o governo sabe disso: em um pronunciamento hoje, Xi Jinping prometeu diminuir restrições ao capital estrangeiro na economia chinesa. A mudança de posicionamento faz parte de uma agenda de estímulos que busca incentivar o consumo interno e o investimento externo. E salvar a economia do país.
Até amanhã.
MAIORES ALTAS
Petrobras (PETR3): 2,34%
Magazine Luiza (MGLU3): 2,37%
Petrobras (PETR4): 2,26%
JBS (JBSS3): 1,05%
BB Seguridade (BBSE3): 0,89%
MAIORES BAIXAS
MRV (MRVE3): -10,08%
Gol (GOLL4): -7,18%
Assaí (ASAI3): -6,48%
Vamos (VAMO3): -6,25%
Carrefour (CRFB3): -5,54%
Ibovespa: -1,60%, aos 114.059 pontos
Em Nova York
S&P 500: –1,34%, aos 4.314 pontos
Nasdaq: –1,62%, aos 13.314 pontos
Dow Jones: –0,98%, aos 33.665 pontos
Dólar: 0,38%, a R$ 5,05
Petróleo
Brent: 1,77%, a US$ 91,50 por barril
WTI: 2,14%, a US$ 87,27 por barril
Minério de ferro: 0,40%, a US$ 117,70 por tonelada na bolsa de Dalian (China)