Vale3 sobe mais 10% com China. Alta já soma 22% em 6 pregões
Relaxamento na política chinesa de Covid zero faz a festa do minério. Adiamento da PEC da Transição traz um respiro para a bolsa, que fecha em 2,26%. Mas não para os juros.
Quem estava achando a Vale subvalorizada no começo do mês pensou certo. VALE3 estava a R$ 67,15 no dia 3 de novembro. Isso conferia à mineradora um P/L minúsculo, de 2,74 – bem abaixo de sua média histórica, que é em torno de 10.
O P/L, vale lembrar, é a divisão do valor de mercado (P, de “preço”) pelo lucro dos últimos 12 meses (L). Quanto menor for o resultado, mais barata está a ação, independentemente do valor nominal dela: um papel que custe R$ 80 de uma empresa com P/L de 3 é muito mais barato que uma acão de R$ 3,50 de uma companhia com P/L de 190 (caso da Magalu).
Bom, do dia 3 de novembro para cá a Vale subiu 22,5%. 10,4% só nesta sexta, saltando para R$ 82,30. Cortesia da China. No dia 4 novembro a Bloomberg noticiou que o governo Chinês pretendia aliviar sua política de Covid zero. A expectativa deu um gás para os preços do minério de ferro e para as ações das gigantes da mineração global – clube do qual a Vale faz parte. Desde então, contando hoje, BHP subiu 21%, Rio Tinto, 22%.
E hoje o que era boato virou fato. A China anunciou o afrouxamento de certas restrições. As mais importantes são:
- Antes, qualquer cidadão que tivesse contato próximo com alguém diagnosticado com Covid tinha de ficar sete dias isolado em algum abrigo do governo, mais três em casa. Agora são cinco dias, mais os três em casa.
- As autoridades não vão mais identificar, e exigir isolamento, de pessoas próximas a pessoas próximas de quem teve Covid (sim, vc não leu errado: eles buscavam as pessoas próximas de pessoas próximas
- Quem passou por “zonas de alto risco” (cidades com mais contaminados que a média) não precisa mais ficar sete dias num abrigo do governo. Pode ficar em casa
- Companhias aéreas não terão mais de pagar multas baseadas no número de infectados que trouxeram ao país.
Pois é. Não se trata exatamente de uma revolução. Mas pelo menos sinaliza uma baixada de bola nas medidas orwellianas do governo – medidas que funcionam como um freio de mão para a economia chinesa. E para o mercado de minério de ferro, lógico, já que o país que compra sozinho 70% das exportações globais da matéria prima do aço.
Bom, mesmo com as altas de hoje e do mês, a Vale segue com um P/L relativamente baixo: 3,25%, versus 6 da Rio Tinto e 7 da BHP. Então quem pensa que os R$ 82,30 de agora já são muito para a Vale pode estar pensando errado. A ver.
O anúncio chinês colocou boa parte da turma da mineração/siderurgia entre as maiores altas desta sexta (veja lá em baixo).
Fora desse grupo, destaque para a JBS: alta de 11,92% depois de anunciar dividendos de R$ 1 por ação relativos ao terceiro trimestre (lucro de R$ 4,013 bilhões – 1,6% acima do 2T22, ainda que 47% abaixo do 3T21).
E destaque negativo para a Magalu. Novo tombo, agora de -13,07%, depois de apresentar um prejuízo de R$ 166,8 milhões no trimestre, ante um lucro de 143,5 milhões para o mesmo período do ano passado.
PEC da Transição
O dia não foi positivo só para Vale e cia. A PEC da Transição, que a princípio retiraria do teto de gastos as despesas com o futuro Bolsa Família, seria enviada hoje ao Congresso. Mas o comitê responsável pela troca da guarda em Brasília anunciou nesta manhã que o texto final fica para a semana que vem – provavelmente para a quarta pós-feriado.
O mercado não achou ruim: alta de 2,26% no Ibovespa nesta sexta, devolvendo parte das perdas de ontem (-3,35%).
Motivo: o adiamento alimenta a expectativa de que o time de Lula torne a PEC menos inimiga da responsabilidade fiscal do que a fala de Lula ontem deu a entender na quinta-feira.
A fala: “Por que as pessoas são levadas a sofrer por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país? Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gasto, que é preciso fazer superávit, que é preciso fazer teto de gasto?”
Mais tarde, o ex-presidente do BC Armínio Fraga respondeu à perguntas retóricas de Lula na Folha: “Estabilidade fiscal significa menos incerteza e juros mais baixos, o que gera mais investimento e mais crescimento. Simples assim. E mais, acompanhada de transparência, aumenta a chance de os recursos beneficiarem os mais pobres. O descontrole fiscal contribui também para a volta da inflação. Outra vez, quem perde mais são os mais pobres.”
Não há o que acrescentar. Tanto que os juros já responderam. A taxa do IPCA+2035 atravessou a linha vermelha dos 6% de juro real (acima da inflação) hoje. E seguiu para o alto e avante nesta sexta: 6,11%. Ou seja: quem comprou a taxas menores e precisa vender hoje vai perder dinheiro.
O lado meio cheio do copo: quem comprar sob essa taxa ganha de presente um juro real de garantir a aposentadoria. Ponto para os “rentistas”.
Para os mais pobres, como disse Armínio, restará sofrer com a inflação, o grande efeito colateral do gasto público irresponsável.
Bom fim de semana!
Maiores altas
CSN (CSNA3): 16,81%
JBS (JBSS3): 11,92%
Usiminas (USIM5): 10,58%
Minerva (BEEF3): 10,49%
Vale (VALE3): 10,40%
Maiores baixas
Magalu (MGLU3): -13,07%
Locaweb (LWSA3): -9,82%
Cogna (COGN3): -5,68%
B3 (B3SA3): 5,48%
Via (VIIA3): 5,43%
Ibovespa: 2,26%, a 112.253 pontos
Em NY:
S&P 500: 0,93%, a 3.993 pontos
Nasdaq: 1,88%, a 11.323 pontos
Dow Jones: 0,10%, a 33.750 pontos
Dólar: -1,17, a R$ 5,33
Petróleo
Brent: 2,42%, a US$ 95,99
WTI: 2,88%, a US$ 88,96%
Minério de ferro: 5,04%, a US$ 99,52 a tonelada na bolsa de Dalian